Recentemente o Jornal Nacional dedicou dois minutos do seu precioso tempo para apresentar a nota abaixo.
"O Grupo Prerrogativas, que reúne advogados brasileiros, pediu providências ao Supremo Tribunal Federal e a Procuradoria Geral da República, sobre declarações da ex-Ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, num ato de campanha do Presidente Jair Bolsonaro.
Num templo da Assembleia de Deus em Goiânia a, agora, Senadora eleita, Damares Alves, do Republicanos, afirmou ter conhecimento de violências gravíssimas contra bebês e crianças com propósitos sexuais.
Entre outras coisas, ela disse que o Ministério que comandou tem registros de imagens dessa violência.
Ao pedirem a investigação da conduta de Damares Alves os advogados observam que a ex-Ministra deve ser intimada a apresentar provas do que alegou, assim como o Presidente Jair Bolsonaro explicar as providências tomadas para a apuração das atrocidades.
O grupo Prerrogativas entende que, se os agentes públicos que tomaram conhecimento dos supostos acontecimentos não tiverem agido, estará configurado o crime de prevaricação.
Por outro lado os advogados do grupo Prerrogativas observam que, não se pode descartar que Damares Alves tenha mentido, com o objetivo de alimentar discursos de ódio e tumultuar o processo eleitoral.
O Ministério Público Federal no Pará pediu a Secretaria Executiva do Ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, Tatiana Alvarenga, informações sobre os supostos crimes contra crianças citados pela ex-Ministra. Damares, pra que sejam tomadas as providências cabíveis.
O MPF também pede que o Ministério informe quais providências tomou ao descobrir os casos, e se houve denúncia ao Ministério Público ou à Polícia.
Damares Alves, e o Ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos não responderam ao nosso contato".
Pare e pense um pouquinho…
Agora responda sem titubear: o que é mais grave nessa nota?
Opção 1: As falas das Damares.
Opção 2: Crianças sendo violentadas.
Se você escolheu a "opção 1", pode parar o texto por aqui e voltar para a bolha JN.
Se chegou até aqui é porque se preocupa com o que realmente importa.
Fato 1: Damares tem grandes chances de presidir o Senado Federal.
Fato 2: isso seria péssimo para algumas pessoas.
Agora vamos examinar o que é esse tal Grupo Prerrogativas.
O site do grupo contém a seguinte descrição:
"O Grupo Prerrogativas é um espaço para troca de ideias e opiniões, sempre com uma visão progressista, formado por juristas, advogados, juízes, professores…"
Veja que o grupo é reservado apenas para juristas com visão progressista, ou seja, oposta ao conservadorismo liberal adotado pelo presidente Jair Bolsonaro e sua equipe.
Agora, veja o que Valor Econômico publicou sobre o grupo recentemente:
"Grupo Prerrogativas busca apoio público da Faria Lima à candidatura de Lula".
Ou seja, o grupo não é isento, muito pelo contrário, tem lado na eleição: Lula.
O agravante é que, na ânsia de ferir a imagem de Damares e Bolsonaro a nota acaba entrando em contradição.
Diz a nota:
"...ela disse que o Ministério que comandou tem registros de imagens dessa violência."
Mais adiante a mesma nota diz:
"deve ser intimada a apresentar provas".
Ora, se o Grupo reconhece que ela [Damares] disse que o conteúdo está em posse do Ministério, como ela poderia apresentar tais conteúdos?
Todavia, creio que o mais grave nessa nota é o descaso com as crianças abusadas.
Eis a questão: até onde vai a parcela de responsabilidade da Rede Globo em algumas mazelas do Brasil ao longo de mais de 4 décadas de liderança na comunicação?
Em um caso como esse, por exemplo, não seria obrigação da emissora, pelo bem dessas criancinhas, ir a campo e investigar o que realmente importa: esses fatos realmente aconteceram ou acontecem? Quem são os estupradores? Quem são os aliciadores? A polícia está investigando? Quando começou? Onde? Essas crianças recebem algum suporte? Elas estão seguras agora?
Infelizmente o Padrão Globo de Jornalismo prefere focar na política, ao invés de ir a campo.
Com a displicência que uma boa, confortável e aconchegante redação pode proporcionar, criaram o jornalismo trans: colunismo social que se sente jornalismo. As criancinhas que se danem.