Em 2022, a dupla petista Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Haddad obteve mais votos em São Paulo do que seus rivais Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas nas eleições para presidente e governador. No entanto, menos de dois anos depois, a direita parece ter virado o jogo na capital paulista, demonstrando força tanto nas manifestações de rua quanto nas votações de projetos nas casas legislativas e nas pesquisas de intenção de voto.
Um exemplo marcante dessa mudança de cenário foi o evento convocado pelas centrais sindicais para celebrar o Dia do Trabalhador em Itaquera, zona leste de São Paulo. Com uma plateia inferior a 2 mil pessoas, o ex-presidente Lula expressou seu incômodo, reconhecendo que o ato foi "mal convocado". Essa baixa adesão contrasta fortemente com o ato em apoio a Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, que reuniu cerca de 185 mil pessoas, segundo estimativas da USP.
Além das manifestações de rua, a direita tem capitalizado suas vitórias também no Legislativo. Na Câmara Municipal, por exemplo, quase 70% dos vereadores votaram a favor do projeto de lei que garante o contrato da Prefeitura com a Sabesp em caso de privatização. Esse projeto é crucial para o governo de Tarcísio de Freitas, aliado de Bolsonaro, consolidar o leilão de ações da companhia estadual de saneamento.
A dificuldade de mobilização nas ruas e as derrotas no Legislativo não são os únicos desafios enfrentados pela esquerda paulistana. As pesquisas de intenção de voto também mostram um cenário desfavorável para o pré-candidato do PSol à Prefeitura, Guilherme Boulos. Apesar de liderar as pesquisas até o final de 2023, Boulos viu seu desempenho declinar ao longo do ano de 2024, com empates técnicos e até mesmo uma vantagem do atual prefeito, Ricardo Nunes, em algumas sondagens.
Segundo o cientista político José Álvaro Moisés, a esquerda está cometendo uma série de erros, não apenas em São Paulo, mas em todo o país. Moisés destaca a falta de explicação para a população das escolhas feitas pela esquerda, além de uma crise de paradigmas dentro do campo político. Enquanto isso, a direita tem se fortalecido, ocupando um espaço deixado pela indignação da população com escândalos de corrupção e promovendo pautas conservadoras que encontram eco em parte da sociedade.
Um dos fatores que contribuem para o fortalecimento da direita é o papel de segmentos religiosos, que têm exercido influência crescente na política brasileira. Essa influência tem se refletido, por exemplo, na defesa de medidas mais duras de segurança pública, como as promovidas pelo governo Tarcísio de Freitas. Enquanto isso, a esquerda tem enfrentado dificuldades para apresentar um projeto consistente nesta área, o que contribui para seu enfraquecimento eleitoral.
Diante desse cenário, a esquerda enfrenta desafios cada vez maiores para recuperar seu espaço político em São Paulo e no Brasil como um todo. A ascensão da direita, aliada a erros estratégicos e à falta de uma narrativa coesa, coloca em xeque o futuro político do campo progressista no país.