Durante o protesto, um indígena kumaruara aplicou tinta de urucum no rosto de seis homens e uma mulher que estavam sentados na primeira fileira de um auditório da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). O gesto provocativo foi interpretado como uma expressão de oposição veemente à Ferrogrão, que é vista pelos indígenas como um projeto que ameaça suas terras e modo de vida.
O evento, intitulado “Seminário Técnico sobre a Viabilidade dos Aspectos Socioambientais da Ferrovia EF-170 (Ferrogrão)”, teve início em meio à tensão causada pelo protesto. O seminário visa discutir os impactos socioambientais da ferrovia e o direito à consulta livre das comunidades tradicionais afetadas pelo empreendimento.
O vídeo do protesto foi amplamente compartilhado nas redes sociais por indígenas kumaruaras e pelo Conselho Indígena do Território Kumaruara, gerando debates e discussões sobre a legitimidade do projeto da Ferrogrão e seu impacto nas comunidades locais.
Naldinho Kumaruara, líder espiritual da aldeia Muruary, foi identificado como o responsável por espalhar o urucum durante o protesto. Em declarações posteriores, representantes indígenas reiteraram sua oposição à Ferrogrão, descrevendo-a como um "plano de extermínio" que ameaça suas terras e meios de subsistência.
Entre os alvos diretos do protesto estava um representante de uma associação de terminais portuários da região amazônica, evidenciando as diferentes perspectivas e interesses em jogo na questão da Ferrogrão.
A Ferrogrão, um projeto de quase 1.000 km de extensão, é uma demanda das grandes empresas do agronegócio que buscam facilitar o escoamento da produção agrícola do Centro-Oeste até o porto de Miritituba, às margens do rio Tapajós. No entanto, os indígenas do baixo rio Tapajós afirmam que não foram formalmente convidados para o seminário promovido pelo Ministério dos Transportes, destacando a falta de diálogo e consulta com as comunidades afetadas.
Após o protesto, uma liderança do povo arapium fez uma crítica contundente à ferrovia, destacando suas preocupações com os possíveis impactos ambientais e sociais do projeto. Essas vozes indígenas ressoam em um contexto de crescente pressão sobre o governo Lula para reavaliar seus planos de desenvolvimento na região amazônica.
A controvérsia em torno da Ferrogrão destaca os desafios enfrentados pelo governo Lula em conciliar o desenvolvimento econômico com a proteção do meio ambiente e dos direitos das comunidades tradicionais. Enquanto o governo busca promover projetos de infraestrutura como a Ferrogrão como vitrines de sua gestão, enfrenta críticas e resistência por parte das comunidades afetadas.
A situação também evidencia a importância de um diálogo inclusivo e transparente com as comunidades locais na formulação e implementação de projetos de desenvolvimento, especialmente na sensível região amazônica.
Enquanto o debate sobre a Ferrogrão continua, os indígenas e as comunidades tradicionais do baixo rio Tapajós permanecem firmes em sua oposição ao projeto, defendendo seus direitos territoriais e ambientais em face das pressões do desenvolvimento econômico. Enquanto isso, o governo Lula enfrenta o desafio de equilibrar as demandas por crescimento econômico com a necessidade de proteger a Amazônia e seus habitantes.