Em uma decisão histórica, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu a polêmica Lei 2.342/2022 da cidade de Ibirité, na região metropolitana de Belo Horizonte, que proibia o ensino da linguagem neutra nas escolas públicas e particulares do município.
A legislação, que impedia instituições de ensino de aplicar e ensinar a chamada "linguagem neutra" e o "dialeto não binário", foi alvo da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 1.155, proposta pela Aliança Nacional LGBTI+ e pela Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas. Eles alegaram que a lei impunha censura e comprometia a liberdade de expressão.
Moraes, em sua decisão, ressaltou que a Constituição Federal atribui à União a competência para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional, enquanto estados e o Distrito Federal têm um espaço de competência suplementar. "O contexto não permite que os municípios editem normas relacionadas a currículos, conteúdos programáticos, metodologias de ensino ou modos de exercício da atividade docente", afirmou o magistrado.
Na visão do ministro, a proibição de divulgação de conteúdos no ambiente educacional, conforme estabelecido pela lei municipal, representa uma interferência explícita do Poder Legislativo municipal no currículo pedagógico das instituições de ensino vinculadas ao Sistema Nacional de Educação.
A suspensão da lei gerou debates acalorados em Ibirité e em todo o país. Enquanto alguns grupos aplaudiram a decisão do STF, destacando-a como uma vitória para a liberdade de expressão e para a inclusão de pessoas não binárias, outros expressaram preocupações sobre os rumos da educação e a suposta "ideologização" das escolas.
Para Maria das Dores, moradora de Ibirité e mãe de dois filhos em idade escolar, a suspensão da lei é um avanço. "Nós precisamos garantir que todas as crianças se sintam representadas e respeitadas nas escolas. Proibir a linguagem neutra é uma forma de apagar a identidade de muitas pessoas", afirmou.
No entanto, houve também críticas à decisão do STF. O vereador João Silva, autor da Lei 2.342/2022, expressou sua insatisfação, alegando que a Corte está interferindo nas decisões locais sem considerar a vontade da população. "Essa é uma questão que deveria ser decidida aqui, em Ibirité, pelos nossos representantes eleitos", declarou Silva.
A controvérsia em torno do uso da linguagem neutra nas escolas não é exclusiva de Ibirité. Em todo o país, há debates sobre como as instituições de ensino devem lidar com questões de gênero e identidade. Enquanto alguns defendem que a inclusão desses temas é fundamental para promover um ambiente educacional mais diverso e inclusivo, outros argumentam que tais discussões fogem ao propósito da educação e podem gerar conflitos desnecessários.
A suspensão da lei em Ibirité reaviva esses debates e levanta questões importantes sobre os limites da legislação municipal em relação à educação. Para muitos, a decisão do STF representa uma vitória para os direitos individuais e para o pluralismo na sociedade brasileira. No entanto, também levanta preocupações sobre o papel das instâncias locais na definição de políticas educacionais e o equilíbrio entre os diferentes níveis de governo.
À medida que o país avança para um futuro cada vez mais inclusivo e diversificado, é essencial que essas questões sejam discutidas de maneira aberta e democrática, considerando sempre os direitos e as necessidades de todos os cidadãos. A decisão do STF em suspender a lei de Ibirité é um passo importante nesse sentido, mas o debate está longe de chegar ao fim.