“O porco não vira rei”, diz procurador preterido por Tarcísio

Na última quarta-feira (15), o procurador José Carlos Cosenzo usou suas redes sociais para publicar uma mensagem enigmática após ter sido preterido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), na disputa pelo comando do Ministério Público do Estado. Cosenzo, que era considerado favorito, expressou sua frustração de forma velada ao não ser escolhido para o cargo de procurador-geral de Justiça.


Em sua conta no Instagram, Cosenzo postou: "Quando um porco toma o castelo, o porco não vira rei, é o castelo que vira um chiqueiro." A mensagem, aparentemente sem destinatário específico, gerou especulações sobre seu verdadeiro alvo e significado. Ao ser questionado sobre o post, o procurador negou qualquer relação direta com as eleições internas do Ministério Público realizadas em abril.


"Esse é um ditado turco, muito antigo, que deve ser interpretado como um alerta a pessoas inaptas em posição de liderança. Essa frase tem contexto organizacional que se aplica a todas as carreiras e profissões," explicou ao Estadão, desmentindo qualquer conotação maliciosa ou ofensiva.


Cosenzo foi o mais votado nas eleições internas do Ministério Público estadual, obtendo 1.004 votos. Contudo, o governador Tarcísio de Freitas optou por nomear Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, que recebeu 731 votos e ficou em último lugar na lista tríplice.


A decisão de Freitas foi rápida e inesperada. Ele assinou a nomeação de Paulo Sérgio apenas um dia após receber a lista de candidatos, o que gerou insatisfação entre os aliados de Cosenzo. Internamente, o procurador manifestou sua decepção através de mensagens no WhatsApp, mencionando o apoio superficial que recebeu de pessoas próximas. "Estou decepcionado com gente próxima que me disse apoiar enquanto cumpria determinação de pessoa fora da instituição," desabafou.


A escolha de Paulo Sérgio foi influenciada por figuras políticas importantes, incluindo o ex-prefeito Gilberto Kassab, atual secretário de governo na gestão Tarcísio, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Essa influência externa provocou ressentimentos internos, especialmente porque a decisão foi tomada de forma ágil e contrariando a expectativa de Cosenzo.


A nomeação de Paulo Sérgio gerou uma atmosfera tensa dentro do Ministério Público. No discurso de posse, o novo procurador-geral fez um esforço para amenizar as tensões, destacando a importância do processo democrático e a contribuição de todos os candidatos. "A presença de todos fortaleceu e qualificou ainda mais o instante democrático. Foram ricos os debates de ideias e de projetos institucionais," afirmou.


Entretanto, as mágoas ficaram evidentes, já que alguns procuradores, incluindo Antonio Carlos Da Ponte, não compareceram ao evento de posse, demonstrando claramente seu descontentamento com o resultado final.


A utilização das redes sociais por Cosenzo para expressar suas frustrações não é um caso isolado. No ambiente político e institucional, essas plataformas têm se tornado cada vez mais um palco para manifestações e desabafos. A mensagem de Cosenzo, embora disfarçada de um antigo ditado turco, reflete um descontentamento que muitos profissionais sentem ao se depararem com decisões que consideram injustas ou influenciadas por fatores externos.


Especialistas em gestão organizacional apontam que a citação escolhida por Cosenzo pode ser vista como um alerta para instituições que colocam indivíduos supostamente inaptos em posições de liderança. "A liderança efetiva é fundamental para o sucesso de qualquer organização. Quando líderes são escolhidos com base em critérios não relacionados à competência, as consequências podem ser desastrosas para o ambiente de trabalho e para a eficácia da instituição," comentou um analista de recursos humanos.


A decisão de Tarcísio de Freitas tem implicações significativas para o Ministério Público do Estado de São Paulo. A indicação de Paulo Sérgio pode ser vista como um movimento estratégico para alinhar a instituição com interesses políticos específicos, algo que sempre gera controvérsias. A insatisfação interna pode resultar em um ambiente de trabalho menos colaborativo, impactando a eficácia do Ministério Público em suas funções essenciais.


Apesar da decepção, Cosenzo afirmou que não tem comentários adicionais sobre a nomeação e que aceita a decisão tomada pelo governador. Ele continua a desempenhar suas funções no Ministério Público, mas é incerto como essa experiência influenciará sua carreira futura. Sua postura resiliente e a expressão de seus sentimentos através de canais públicos refletem um profissional que, apesar das adversidades, continua a lutar por seus princípios e pela instituição a que serve.


O episódio envolvendo a nomeação do procurador-geral de Justiça de São Paulo destaca as complexidades e as tensões inerentes aos processos de seleção em instituições públicas. A mensagem enigmática de Cosenzo no Instagram e sua posterior explicação ao Estadão são manifestações de um sentimento de injustiça que permeia muitos ambientes profissionais. A decisão de Tarcísio de Freitas e a reação de Cosenzo refletem não apenas uma disputa interna, mas também a influência de fatores políticos em decisões institucionais críticas.


O Ministério Público de São Paulo enfrenta agora o desafio de superar as mágoas geradas por esse processo e buscar a coesão necessária para continuar a desempenhar seu papel fundamental na justiça estadual. A nomeação de Paulo Sérgio de Oliveira e Costa é um capítulo importante dessa história, que será observado atentamente por todos os envolvidos e pela sociedade em geral.

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