O escritor e filósofo Olavo de Carvalho, uma figura polarizadora na política brasileira, deixou a filha Heloísa de Carvalho fora de seu testamento, segundo informações divulgadas pelo colunista Ancelmo Gois, do jornal O Globo. A decisão, tomada após anos de divergências políticas e pessoais, destacou ainda mais a complexa dinâmica familiar do pensador conservador, que faleceu em 2022 aos 74 anos, devido a complicações da Covid-19.
Olavo de Carvalho, conhecido por suas opiniões contundentes e seu papel influente na ascensão do conservadorismo no Brasil, teve oito filhos. No entanto, foi sua relação conturbada com Heloísa, sua primogênita, que mais chamou a atenção do público. Heloísa, que se identifica com a esquerda e chegou a filiar-se ao Partido dos Trabalhadores (PT), foi a única dos filhos excluída da herança.
Segundo o testamento, Olavo destinou duas residências nos Estados Unidos para Roxane de Carvalho, sua companheira de união estável por duas décadas. Roxane também ficou com 30% dos direitos autorais das obras do filósofo. Os filhos Leilah e Pedro Luiz, frutos do relacionamento com Roxane, receberam uma fatia maior da herança, incluindo 20% dos direitos autorais e percentuais sobre as residências. Já Maria Inês ficou com 0,5% das receitas das obras do pai, enquanto Luiz, Davi, Tales e Percival receberam 0,3% cada um.
A exclusão de Heloísa do testamento foi um reflexo das desavenças profundas entre pai e filha. A relação entre eles deteriorou-se definitivamente em 2017, quando Olavo protocolou uma queixa-crime acusando Heloísa de fazer parte de uma organização criminosa ligada a partidos de esquerda, cujo objetivo seria destruir sua reputação. A ação foi arquivada, mas o episódio marcou um ponto sem retorno na já frágil relação.
Heloísa de Carvalho, em resposta às ações e à figura de seu pai, publicou o livro "Meu Pai, o Guru do Presidente: a Face Ainda Oculta de Olavo de Carvalho". No livro, ela narra sua infância e faz uma série de acusações contra Olavo, incluindo alegações de ausência, falta de suporte educacional, poligamia e tentativas de converter a família ao islamismo. A publicação do livro intensificou ainda mais o distanciamento entre os dois.
Após a morte de Olavo, em 2022, Heloísa buscou o direito de ser a inventariante dos bens e obras intelectuais do pai. No entanto, Roxane apresentou o testamento do ex-parceiro, que excluía Heloísa, e pediu o encerramento do processo movido pela primogênita. Roxane argumentou que não havia bens registrados por Olavo no Brasil, fortalecendo a validade do testamento apresentado.
A decisão de Olavo de Carvalho de excluir Heloísa de seu testamento pode ser vista como um desfecho amargo de uma relação marcada por conflitos ideológicos e pessoais. O pensador conservador, que se tornou uma figura emblemática para muitos brasileiros, tanto admirado quanto criticado, deixa um legado complexo não apenas no cenário político, mas também em sua vida pessoal.
A divisão de sua herança reflete suas escolhas e as consequências de suas ações ao longo dos anos. Roxane, com quem Olavo compartilhou grande parte de sua vida adulta, foi significativamente beneficiada, assim como os filhos mais próximos a ela. A decisão de Olavo em destinar maiores porcentagens dos direitos autorais e propriedades a alguns filhos em detrimento de outros evidencia as preferências e dinâmicas internas da família.
Este episódio final na vida de Olavo de Carvalho ressalta a interseção entre suas convicções políticas e suas relações familiares. Para Heloísa, a exclusão do testamento é mais um capítulo em uma história de separação e confronto, marcada pela busca de identidade e reconhecimento em oposição às visões e ao legado de seu pai.
A controvérsia em torno do testamento de Olavo de Carvalho continua a gerar debates, refletindo a polarização que ele próprio representava em vida. Enquanto alguns veem a exclusão de Heloísa como uma extensão de suas crenças políticas, outros a interpretam como um trágico reflexo das complexas relações humanas. Seja como for, o legado de Olavo de Carvalho permanece tão divisivo quanto sua influência sobre o pensamento político brasileiro.