O comandante do Exército deveria ter batido em retirada, mas se rendeu, diz colunista


O general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, atual comandante do Exército, encontrou-se em uma situação complicada durante uma entrevista com os jornalistas Sérgio Roxo, Geralda Doca e Thiago Bronzatto. Em vez de optar por uma retirada estratégica, Paiva escolheu a rendição ao comentar sobre um polêmico post de 2018 do então comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas. O post, publicado às vésperas do julgamento de um pedido de habeas corpus do ex-presidente Lula, criticava a impunidade e foi amplamente interpretado como uma tentativa de pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF).


A pergunta dos jornalistas era direta:


“Em abril de 2018, o então comandante do Exército, general Villas Bôas, publicou um post falando de impunidade às vésperas do julgamento do pedido de habeas corpus de Lula. O senhor, então chefe de gabinete do militar, elogiou a nota e concordou com a publicação. Hoje, como comandante do Exército no governo Lula, o senhor teria feito algo diferente?”


Paiva respondeu que teria agido de maneira diferente, afirmando que o post foi um erro coletivo e que o Exército não deveria ter se envolvido dessa forma. Essa resposta, porém, levanta questões importantes sobre lealdade, hierarquia e coerência histórica.


Uma Resposta Inconvincente


A primeira falha na resposta de Paiva é a sua tentativa de distanciar-se da decisão tomada em 2018, descrevendo-a como um “erro coletivo”. Naquela época, o Brasil vivia o auge da Operação Lava Jato, com milhões de pessoas nas ruas clamando pela prisão de Lula e se opondo às manobras políticas que buscavam evitar sua prisão. Villas Bôas, assim como outros militares, entendia que a concessão de um habeas corpus a Lula poderia mergulhar o país no caos. Seu post foi, portanto, uma mensagem clara para dentro e fora das Forças Armadas.


O Papel das Forças Armadas em 2018


O contexto político de 2018 era de grande tensão. A Lava Jato havia exposto um esquema massivo de corrupção, e Lula, uma figura central nesse escândalo, estava prestes a ser preso. O post de Villas Bôas, longe de ser uma tentativa de pressão indevida sobre o STF, foi um alerta sobre as possíveis consequências de uma decisão favorável a Lula. O temor era de que a liberdade de Lula pudesse incentivar um clima de insubordinação e potencial golpismo entre os militares, comprometendo a estabilidade democrática.


Subordinação e Hierarquia


Ao afirmar que o post foi um erro, Paiva parece estar mais preocupado em alinhar-se com seu chefe atual, o presidente Lula, do que em defender uma posição coerente com o momento político de 2018. Em uma hierarquia militar, onde a lealdade e a subordinação são fundamentais, é compreensível que Paiva não pudesse elogiar uma ação que, na visão de Lula e de seus aliados, foi uma tentativa de interferência política.


No entanto, a resposta de Paiva é insatisfatória não apenas por razões históricas, mas também por sua falta de firmeza. Seis anos atrás, ele apoiou a posição de Villas Bôas. Hoje, ao revisitar esse episódio, ele o faz com uma evidente falta de convicção, tentando justificar sua mudança de opinião como uma adaptação ao “outro momento político”.


O Revisionismo Histórico em Ação


A mudança de narrativa de Paiva reflete um revisionismo histórico que tem sido promovido desde o enfraquecimento da Lava Jato. Tentativas de reescrever os eventos de 2018 ignoram o papel crucial que o post de Villas Bôas desempenhou em evitar um potencial conflito institucional. A afirmação de que o Exército pressionou o STF é, na melhor das hipóteses, uma interpretação equivocada. Villas Bôas agiu dentro dos limites de sua responsabilidade, alertando sobre as graves consequências que uma decisão favorável a Lula poderia trazer.


Uma Verdade Indiscutível


Apesar das críticas, há uma verdade na resposta de Paiva que não pode ser ignorada: o Exército não pressionou o STF de forma indevida. O aviso de Villas Bôas foi uma avaliação prudente do clima político, e o STF compreendeu a gravidade da situação. A preservação da ordem e da democracia estava em jogo.


Conclusão


A resposta do general Tomás Paiva, embora compreensível devido à sua posição atual sob o governo de Lula, é historicamente insatisfatória. Villas Bôas agiu corretamente ao alertar sobre os perigos de um habeas corpus para Lula em 2018. A tentativa de Paiva de se distanciar dessa ação não apenas desrespeita a memória dos eventos, mas também subestima a inteligência do público e a importância da história recente do Brasil.

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