O Centro Carter, uma renomada organização de monitoramento eleitoral, anunciou nesta quarta-feira, 31, que as recentes eleições na Venezuela não podem ser consideradas democráticas devido a "graves violações". Fundado pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, o Centro Carter levantou sérias suspeitas sobre a legitimidade da vitória do ditador Nicolás Maduro, acirrando ainda mais a crise política na região.
O relatório do Centro Carter surge em um momento crucial para o Brasil, já que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia minimizado anteriormente as evidências de fraude e classificado a eleição venezuelana como "normal". O assessor especial de Lula, Celso Amorim, havia sugerido que a posição oficial do Brasil deveria alinhar-se com a avaliação do Centro Carter. No entanto, o recente relatório deixou Lula e o Brasil em uma posição embaraçosa diante da comunidade internacional.
A resposta de Nicolás Maduro às críticas tem sido agressiva. Em sua primeira entrevista após a eleição, Maduro fez uma série de ameaças contra figuras políticas internacionais que considera adversárias, incluindo o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro e o presidente argentino Javier Milei. Ele atacou esses líderes como parte de uma "ala fascista", e ainda incluiu outros líderes regionais em sua lista de inimigos.
A situação se agravou ainda mais quando a Venezuela rompeu relações diplomáticas com o Peru. Isso ocorreu após o reconhecimento por parte do governo peruano de Edmundo González Urrutia como "presidente eleito", um gesto que foi interpretado como um desafio direto ao regime de Maduro. Esta ruptura diplomática exacerbou as tensões na América Latina, com a maioria dos países da região, incluindo líderes de esquerda como o presidente chileno Gabriel Boric, rejeitando o resultado da eleição.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) se reuniu de emergência para discutir a crise, mas a tentativa de passar uma resolução pedindo maior transparência na apuração dos votos não obteve o número necessário de votos. O Brasil optou por se abster na votação, o que contribui para a sensação de isolamento crescente do país na questão.
Enquanto isso, o presidente colombiano Gustavo Petro também pediu uma apuração transparente das eleições venezuelanas, aumentando a pressão sobre Lula. O Brasil havia buscado uma posição conjunta com Colômbia e México, mas a diferença de opiniões entre os líderes mexicanos – com Andrés Manuel López Obrador minimizando as alegações de fraude e Claudia Sheinbaum pedindo transparência – complicou a diplomacia regional.
Nos Estados Unidos, a paciência com a Venezuela está se esgotando, conforme declarado pelo porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby. Ele destacou que a comunidade internacional aguarda que as autoridades venezuelanas publiquem todos os dados detalhados da eleição, que ainda não foram divulgados. A falta de transparência por parte do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) – o órgão responsável pela organização das eleições e que está sob controle do regime chavista – tem sido um ponto de forte crítica.