Dólar ultrapassa R$ 5,80 com temores de recessão nos EUA; entenda a alta


Nesta segunda-feira, o dólar iniciou a semana com uma forte alta frente ao real, alcançando a marca de R$ 5,80. O aumento de 1,55% no valor da moeda norte-americana, cotada a R$ 5,7992 às 9h40, foi impulsionado pelos crescentes temores de uma recessão nos Estados Unidos. Este cenário econômico instável tem gerado uma fuga de ativos de maior risco, como as moedas de países emergentes, incluindo o Brasil. O movimento de valorização do dólar começou logo no início do pregão, quando a moeda chegou a ultrapassar R$ 5,80. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento registrou alta de 1,32%, sendo negociado a R$ 5,821. Na última sexta-feira, o dólar à vista havia fechado a R$ 5,7109, com uma queda de 0,44%.


A principal causa dessa turbulência nos mercados globais foi a divulgação dos números de criação de empregos nos Estados Unidos, que ficaram abaixo das expectativas. Na sexta-feira, o Departamento de Trabalho dos EUA anunciou que foram criadas apenas 114.000 vagas fora do setor agrícola em julho, em comparação às 179.000 vagas revisadas para junho. Economistas consultados pela Reuters esperavam a criação de 175.000 postos de trabalho. Estes dados aumentaram as preocupações sobre o impacto do ciclo de aperto monetário conduzido pelo Federal Reserve (Fed) na economia americana.


O Federal Reserve elevou sua taxa de juros para a faixa de 5,25% a 5,50% com o objetivo de controlar a inflação. No entanto, o aumento das taxas parece ter afetado a atividade econômica mais do que o previsto. Com a inflação nos Estados Unidos gradualmente voltando à meta de 2% e o enfraquecimento do mercado de trabalho, os operadores de mercado agora apostam em uma chance de 78% de que o Fed reduza os juros em 50 pontos-base na reunião marcada para 18 de setembro. A perspectiva de uma redução nas taxas de juros reflete a preocupação de que a economia americana possa estar se encaminhando para uma recessão, o que tem provocado uma aversão ao risco nos mercados globais. Índices acionários e moedas de países emergentes estão em queda, enquanto investidores buscam ativos mais seguros.


Além do real, outras moedas de países emergentes também sofreram perdas significativas. O dólar se fortaleceu contra o peso mexicano, com alta de 2,3%, o rand sul-africano (1,7%) e o peso chileno (1,25%). Outro fator que contribuiu para a instabilidade nos mercados emergentes foi a valorização do iene japonês. O Banco do Japão elevou sua taxa de juros para 0,25%, provocando a reversão de operações de "carry trade". Nessas operações, investidores retiram recursos de países com juros baixos, como o Japão, e os direcionam para locais com juros mais altos, como o Brasil. A recuperação do iene resultou em uma queda de 3,08% do dólar em relação à moeda japonesa, cotado a 142,03 ienes.


O desempenho dos preços de commodities, como o petróleo, também está sendo acompanhado de perto, uma vez que a piora da perspectiva econômica da China, maior importador mundial de matérias-primas, adiciona mais incertezas ao cenário global.


No Brasil, o mercado segue atento à nova pesquisa Focus divulgada nesta segunda-feira. O levantamento do Banco Central indicou um aumento nas projeções para a inflação e uma redução nas expectativas de queda da taxa de juros. De acordo com a pesquisa, a previsão para o IPCA ao final de 2024 subiu para 4,12%, ante 4,10% na semana anterior. Para 2025, a expectativa é de 3,98%, acima dos 3,96% anteriormente projetados. A taxa Selic, atualmente em 10,5%, deve cair para 9,75% até o final do próximo ano, uma revisão das projeções anteriores de 9,50%. Além disso, o mercado espera pela ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, a ser divulgada na terça-feira. Na reunião, o BC decidiu manter a taxa Selic estável pelo segundo encontro consecutivo.


O aumento do dólar reflete um cenário de incerteza global, alimentado pelas preocupações com a recessão nos Estados Unidos e a busca por ativos mais seguros pelos investidores. No Brasil, os efeitos são sentidos na desvalorização do real e nas revisões das projeções econômicas. A evolução da política monetária americana e a resposta do Banco Central do Brasil serão cruciais para definir os próximos passos no mercado cambial e na economia do país.

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