Em uma entrevista concedida ao programa Roda Viva na última segunda-feira, 23 de setembro de 2024, o renomado ator Antonio Fagundes fez duras críticas à atual situação da Rede Globo e ao mercado audiovisual brasileiro em geral. Durante o bate-papo, o veterano comentou sobre o crescimento das produções baseadas em sequências e remakes, apontando essa tendência como reflexo de uma falta de investimentos no desenvolvimento de novos talentos e de iniciativas criativas. Segundo Fagundes, essa ausência de incentivo à formação artística tem levado as emissoras a apostar cada vez mais em projetos já consolidados, em vez de inovar com novos conteúdos.
"Não sei te dizer o que aconteceu, mas parece que as pessoas pararam de investir na criação", iniciou o ator ao abordar a questão durante o programa. Para ele, o fenômeno de reciclar produções antigas e apostar em sequências sem inovação demonstra um esgotamento no setor criativo. "O que aconteceu com a televisão brasileira é uma coisa interessante de a gente observar", acrescentou Fagundes, refletindo sobre a trajetória do audiovisual no país, especialmente na Globo, onde trabalhou por 44 anos.
Fagundes foi um dos grandes nomes da teledramaturgia brasileira durante as décadas em que esteve na emissora. Ele destacou que o sucesso das novelas e de outros programas de entretenimento foi fruto de um longo e cuidadoso processo de formação de talentos. O ator lembrou com carinho das chamadas "décadas de ouro" da teledramaturgia brasileira, quando a TV Globo era a líder indiscutível do mercado e investia não apenas nos atores, mas também nos roteiristas, diretores e outros profissionais envolvidos na produção audiovisual.
"Foram décadas de ouro na teledramaturgia brasileira, mas aquilo não surgiu do nada, aquilo foi sendo formado", declarou Fagundes, fazendo referência ao planejamento e aos investimentos da emissora em qualificar e desenvolver o seu quadro de funcionários. Segundo ele, o que se vê hoje é um reflexo da ausência dessa continuidade no trabalho de formação. O ator lamentou que a Globo tenha interrompido o ciclo de incentivo à educação e ao desenvolvimento de novos artistas, uma mudança que ele acredita ter impacto negativo no futuro da televisão brasileira.
Para Fagundes, os efeitos dessa nova postura da emissora só serão sentidos de forma mais clara ao longo das próximas décadas. "O que está acontecendo agora, nós só vamos colher os frutos daqui a 30 anos", alertou o ator, indicando que a falta de preparação adequada para a nova geração de profissionais pode comprometer a qualidade e a originalidade das produções futuras.
Além de criticar a falta de investimentos na formação de novos talentos, Fagundes também condenou a recente decisão da Globo de encerrar contratos com atores e autores consagrados. Nos últimos anos, a emissora tem adotado uma política de não renovação de contratos longos, dispensando artistas e roteiristas que antes eram peças-chave de seu quadro. Essa reestruturação interna, na visão de Fagundes, é arriscada e pode ter sérias consequências para a Globo, que pode ficar "órfã" de seus maiores nomes.
"É claro que eles vão ficar órfãos. É claro que não vai dar certo", declarou o ator, ao comentar sobre a dispensa de profissionais renomados. Ele acredita que a ausência desses talentos vai impactar diretamente na qualidade das produções, uma vez que os profissionais mais experientes são responsáveis por guiar e instruir as novas gerações, além de contribuírem com a maturidade artística adquirida ao longo de anos de carreira.
Fagundes também demonstrou preocupação com a continuidade das produções nacionais que alcançam reconhecimento mundial. Para ele, o caminho para manter o prestígio da teledramaturgia brasileira está na aposta em novas histórias, novos roteiristas e novas abordagens. Contudo, sem o devido apoio e investimento, ele vê o setor cada vez mais fragilizado e repetitivo, preso a fórmulas já exploradas.
O desabafo do ator reflete uma insatisfação crescente entre os profissionais do setor, que observam com apreensão as mudanças no cenário audiovisual brasileiro. O movimento de transformação vivido pela Globo nos últimos anos, seja por mudanças no consumo de mídia, seja por cortes financeiros, vem causando incertezas quanto ao futuro da produção de conteúdo no país. A troca de nomes consagrados por novos talentos, sem o devido preparo, levanta questionamentos sobre a capacidade da emissora de manter a liderança que conquistou ao longo de décadas.
A entrevista de Antonio Fagundes ao Roda Viva, portanto, não apenas expressou seu descontentamento com a situação atual, mas também serviu como um alerta para o mercado como um todo. Ao finalizar suas declarações, o ator reforçou a necessidade de repensar o modelo atual e retomar o investimento na formação de novos profissionais, sob o risco de comprometer o futuro da teledramaturgia nacional e sua relevância no cenário global. Para Fagundes, o legado de décadas de sucesso não pode ser sustentado apenas com base no passado, mas precisa de inovação, ousadia e, acima de tudo, educação e preparação dos artistas do futuro.