A campanha eleitoral de 2024 trouxe à tona um contraste notável entre as duas primeiras-damas mais comentadas do Brasil: Michelle Bolsonaro e Rosângela da Silva, conhecida como Janja, esposa do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Enquanto Michelle é disputada por candidatos em todo o país, Janja parece enfrentar uma realidade bem diferente, sendo amplamente ignorada pelas campanhas, inclusive pelas de candidatas do próprio Partido dos Trabalhadores (PT).
A três semanas do primeiro turno, a ausência de Janja nas campanhas eleitorais, especialmente nas grandes cidades, tem chamado atenção. Sua imagem, antes associada a um simbolismo progressista e alinhado às causas sociais, parece ter perdido força a ponto de não ser vista como uma vantagem política, nem mesmo para as candidatas petistas. Em um cenário onde o apoio de figuras públicas pode representar um impulso importante nas urnas, essa rejeição a Janja sugere uma possível avaliação negativa por parte do eleitorado.
Apesar de seu papel de destaque como primeira-dama, Janja não tem sido requisitada para participar de comícios, gravar vídeos de apoio ou figurar em materiais de campanha, uma estratégia comum durante as eleições. Em contraste, Michelle Bolsonaro, esposa do ex-presidente Jair Bolsonaro, tem sido amplamente disputada por candidatos de diversos espectros políticos. Sua imagem, associada a valores conservadores e à defesa da família, tem sido vista como um trunfo eleitoral em várias regiões do país.
Essa disparidade de tratamento entre Michelle e Janja revela muito sobre a percepção pública de ambas. Enquanto Michelle conquistou uma base sólida de apoiadores ao longo dos anos em que seu marido esteve na presidência, sendo vista como uma figura capaz de atrair votos entre os eleitores mais conservadores, Janja parece não ter alcançado o mesmo nível de influência. Seu ativismo em causas sociais e sua postura política, que inicialmente foram elogiados por parte da militância petista, agora parecem não ter o mesmo apelo. A ausência de sua imagem nas campanhas, sobretudo em grandes centros urbanos, indica uma avaliação estratégica das campanhas eleitorais de que sua presença poderia mais prejudicar do que ajudar.
Analistas políticos sugerem que a falta de engajamento de Janja nas campanhas pode estar relacionada ao desgaste de imagem que o governo Lula vem sofrendo em alguns setores da sociedade. O envolvimento dela em questões polêmicas, além de sua associação direta com o presidente, pode ter contribuído para que os candidatos evitassem sua figura, temendo que ela represente um risco de perder votos. Mesmo as candidatas do PT, que tradicionalmente se apoiam nas figuras mais proeminentes do partido, têm se mantido distantes de Janja, optando por outras abordagens para se conectar com o eleitorado.
Enquanto isso, Michelle Bolsonaro continua a expandir sua influência política, sendo vista como uma possível peça-chave em futuras eleições, inclusive cogitada para disputar cargos públicos nos próximos anos. Sua imagem de mulher religiosa e dedicada à família, muito associada ao conservadorismo de Bolsonaro, tem encontrado ressonância em boa parte do eleitorado. Essa preferência clara por Michelle em detrimento de Janja nas campanhas sugere que a primeira-dama atual não conseguiu construir um legado político forte o suficiente para ser vista como uma vantagem eleitoral.
Essa diferença também reflete o estado atual do cenário político brasileiro. O desgaste do governo Lula, especialmente diante de desafios econômicos e sociais, parece ter afetado não só a popularidade do presidente, mas também daqueles que o cercam. Janja, que em outros momentos poderia ter sido vista como uma aliada forte em campanhas, agora é vista como um possível peso a ser evitado. Em um momento crucial das eleições, onde cada apoio conta, a ausência de Janja nas campanhas não é apenas uma escolha isolada, mas um reflexo da percepção de que sua influência pode não ser benéfica para aqueles que buscam votos.
Por outro lado, a presença ativa de Michelle Bolsonaro nas campanhas reforça a força do bolsonarismo no cenário eleitoral. Mesmo após o fim do mandato de seu marido, ela continua sendo uma figura central e influente, destacando-se como uma referência de valores que ainda têm grande apelo em diversas regiões do país. Sua rejeição por uma parte do eleitorado mais progressista não impede que ela seja uma escolha preferida para aqueles que buscam atrair os votos da direita e do centro.
Em um ano eleitoral tão disputado, a ausência de Janja e a ascensão de Michelle nas campanhas simbolizam mais do que apenas estratégias eleitorais. Elas indicam como as figuras públicas podem ser moldadas pela opinião pública e como sua imagem pode impactar diretamente o sucesso ou fracasso dos candidatos. Enquanto Janja se vê afastada das campanhas, Michelle segue sendo um ativo valioso para quem deseja se destacar no cenário político, reforçando as diferenças ideológicas e de apelo popular entre as duas primeiras-damas mais influentes do Brasil nos últimos anos.