O renomado ex-diretor de Dramaturgia da Globo, Silvio de Abreu, não hesitou em expressar suas críticas contundentes sobre a atual crise enfrentada pela teledramaturgia da emissora. Em uma entrevista reveladora à Folha de S.Paulo, Abreu, que passou 42 anos na Globo antes de deixar a empresa em 2020, atribuiu a queda na qualidade das novelas a dois fatores principais: a inclusão de influenciadores digitais nos elencos e a ausência de escritores consagrados.
A declaração de Abreu gerou um grande burburinho nas redes sociais, com muitos compartilhando suas opiniões através de plataformas como Facebook, Whatsapp, Twitter, Messenger, Telegram e Gettr. Para o ex-diretor, a tentativa de integrar influenciadores famosos nos elencos de novelas é uma estratégia que não tem dado certo. "Colocar influenciador em novela só porque ele tem milhões de seguidores é um tiro no pé. É como se me contratassem para ser diretor do Corinthians; eu não entendo nada de futebol. Se for para a televisão passar vergonha, é melhor continuar sendo influenciador", afirmou com veemência.
Abreu não poupou críticas à atual fase das novelas, destacando que a produção contemporânea é "muito inferior em todos os aspectos" em comparação com o que era feito no passado. Para ele, a crescente inclusão de influenciadores digitais tem contribuído para a queda de qualidade. Essa estratégia de colocar celebridades com grandes números de seguidores, mas sem experiência no meio, tem prejudicado a narrativa e a atuação nas novelas.
O ex-diretor acredita que a presença desses influenciadores nas tramas não só afeta a qualidade da atuação, mas também dilui o potencial das novelas em oferecer histórias bem construídas. "A presença de influenciadores é apenas um artifício para atrair audiência, mas não contribui para a criação de conteúdo relevante e de qualidade", explicou Abreu. A sua crítica ressoou fortemente nas redes sociais, onde muitos espectadores e profissionais da área se uniram para debater a relevância dessa estratégia na atualidade.
Além dos influenciadores, Abreu também apontou a ausência de escritores consagrados como um fator crítico para a crise da teledramaturgia. "Esses autores de hoje não têm grife", disse ele, referindo-se ao fato de que muitos roteiros modernos são escritos com a ajuda de equipes de colaboradores, o que, segundo Abreu, resulta na perda da identidade e do estilo pessoal dos escritores. A falta de uma visão singular e autoral tem, na visão do ex-diretor, diluído a qualidade das novelas.
Ele criticou a prática atual de produção de novelas, onde a autoria individual é muitas vezes substituída por uma abordagem mais colaborativa. Para Abreu, essa mudança tem levado a um enfraquecimento do impacto emocional e criativo das histórias. Sua crítica também repercutiu nas redes sociais, gerando discussões sobre a necessidade de resgatar o papel dos escritores como criadores primários de conteúdo.
Outro ponto abordado por Abreu foi a crise financeira que afeta a Globo e o mercado de teledramaturgia como um todo. Ele reconheceu que a falta de recursos tem forçado a emissora a apostar em remakes e a limitar a ousadia das produções. "Mas justiça seja feita. Essa falta de dinheiro não é só na Globo. No streaming é a mesma coisa", ponderou Abreu, destacando que a crise é um problema generalizado que também afeta outras plataformas de mídia.
Após deixar a Globo, Abreu foi contratado pela Max para supervisionar novelas no Brasil, como "Beleza Fatal" e "Dona Beja". No entanto, sua permanência na Max foi curta, e ele também decidiu sair após um ano e meio, alegando não querer trabalhar com a produção de séries. Esse período em sua nova função também foi marcado por desafios, mas Abreu afirmou que a sua decisão de deixar a Max foi baseada em preferências pessoais e profissionais.
Durante sua gestão na Globo, Abreu também enfrentou dificuldades, como demonstrado no caso da novela "Babilônia" (2015), que foi mal recebida pelo público. A trama foi particularmente criticada por uma cena de beijo entre Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg, que gerou controvérsia. Abreu admitiu que houve intervenções na novela, especialmente após o adoecimento de Gilberto Braga, um dos autores principais. "Queria ajudar, mas não aceitavam nada do que eu tinha proposto. Tive que brigar. Foi um inferno", relembrou ele.
Esses conflitos internos, somados às críticas sobre a gestão de conteúdo, mostram um panorama complicado na gestão da teledramaturgia da Globo durante a passagem de Abreu pela emissora. Seus comentários sobre esses desafios refletem um período tumultuado que marcou sua saída da Globo.
Apesar das críticas e dos desafios enfrentados ao longo de sua carreira, Silvio de Abreu se mostrou satisfeito com seu legado e sua trajetória. "Eu não devo nada a ninguém. Aprendi com meus erros, gostei dos meus acertos e tenho uma vida ótima. Não sou nem um pouco modesto. Não mesmo", afirmou com confiança. Suas declarações têm gerado um debate significativo na indústria e nas redes sociais, refletindo as tensões e desafios enfrentados pela teledramaturgia brasileira.
A entrevista de Abreu é um reflexo das mudanças e desafios enfrentados pelo setor, com implicações tanto para as estratégias de conteúdo das emissoras quanto para a abordagem dos produtores e escritores na atualidade. O debate continua, com muitos espectadores e profissionais questionando o futuro da teledramaturgia e a melhor forma de revitalizar um gênero que tem enfrentado significativas dificuldades nos últimos anos.