General entra na mira da PF pelos atos de 8 de janeiro

 
A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu à Polícia Federal (PF) que aprofunde as investigações sobre o possível envolvimento do deputado federal General Girão (PL-RN) nos atos de vandalismo e invasão de prédios públicos que ocorreram em 8 de janeiro de 2024. A solicitação, feita pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, inclui um pedido para que seja detalhado o grau de envolvimento do parlamentar nos eventos que estão sendo apurados. Além disso, as investigações devem agora focar também na atuação de Girão nas redes sociais, especialmente em postagens de conteúdo considerado antidemocrático no contexto das manifestações que pediam intervenção militar no país.


As suspeitas sobre o deputado começaram em outubro do ano passado, quando a Polícia Federal enviou um relatório ao Supremo Tribunal Federal (STF) que apontava o envolvimento de Girão em atos antidemocráticos. No documento, a PF indicava que o deputado teria incentivado seus seguidores a pedir intervenção militar por meio de declarações públicas, o que, segundo os investigadores, configura crime contra o estado democrático de direito. O relatório detalhava que as acusações se baseavam em discursos e postagens nas redes sociais do deputado, onde ele questionava abertamente o sistema eleitoral brasileiro e criticava decisões do Judiciário. Em uma de suas falas, Girão teria afirmado que os militares tinham o direito de usar a força em nome do Estado para defender a ordem pública, o que foi interpretado como um apoio à ideia de intervenção militar.


Em depoimento à Polícia Federal, no entanto, General Girão negou as acusações. Ele alegou que suas menções aos militares e à intervenção foram feitas de forma genérica e sempre dentro dos limites constitucionais. O deputado argumentou que, como parlamentar, tem o direito de questionar o sistema eleitoral e criticar o funcionamento das instituições públicas, mas que nunca incentivou ações ilegais ou antidemocráticas. Segundo ele, suas falas foram distorcidas, e ele não pode ser responsabilizado por interpretações equivocadas feitas por seus seguidores.


O relatório da Polícia Federal, porém, foi contundente ao afirmar que havia elementos suficientes para sustentar a responsabilização do deputado por sua conduta. De acordo com os investigadores, as falas de Girão, tanto em discursos públicos quanto nas redes sociais, incentivaram atos que culminaram nos violentos protestos de 8 de janeiro. O documento ainda destacou que a influência do parlamentar sobre seus apoiadores foi um fator determinante para a escalada dos atos que resultaram na invasão dos prédios do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal.


Após a conclusão do relatório, a Procuradoria-Geral da República solicitou novas diligências para esclarecer o papel exato de Girão nos eventos. O procurador-geral Paulo Gonet pediu que a Polícia Federal investigue mais a fundo a atuação recente do deputado, com especial atenção para postagens feitas nas redes sociais no período que antecedeu os atos de 8 de janeiro. Gonet também quer que sejam identificadas as datas exatas dessas publicações, para verificar se há uma correlação direta entre as falas do parlamentar e a organização dos protestos. Além disso, foi solicitado que sejam colhidos novos depoimentos de testemunhas e que sejam obtidas informações sobre eventuais reuniões ou encontros realizados por Girão com líderes dos movimentos que pediam intervenção militar.


O pedido da PGR reforça o papel central de General Girão nas investigações em andamento sobre os atos antidemocráticos que sacudiram Brasília no início de 2024. O deputado, que é uma figura influente dentro do seu partido, o PL, e um nome de destaque entre os apoiadores mais fervorosos do ex-presidente Jair Bolsonaro, tem sido uma voz ativa na defesa das Forças Armadas como instituições garantidoras da ordem no país. Sua retórica, no entanto, tem sido alvo de críticas por parte de setores que defendem o respeito incondicional às instituições democráticas e ao processo eleitoral.


Ainda em dezembro de 2022, General Girão fez um discurso polêmico em frente a um quartel do Exército em Natal (RN), onde afirmou que o Estado brasileiro confia aos militares o uso da força em nome da defesa da nação. Na ocasião, suas declarações foram vistas como uma clara incitação a um papel mais ativo das Forças Armadas na política, o que gerou uma série de reações entre políticos e analistas. Esse tipo de discurso, somado às postagens feitas nas redes sociais e às suspeitas levantadas no relatório da Polícia Federal, são agora o foco das investigações que podem resultar em desdobramentos legais contra o deputado.


Com a intensificação das investigações, a pressão sobre General Girão aumenta, e a continuidade de sua atuação política pode ser impactada. O STF, que acompanha o caso, poderá decidir pela abertura de um processo formal contra o parlamentar, caso as novas diligências apontem indícios suficientes de participação nos atos de janeiro. Enquanto isso, a defesa de Girão continua a sustentar que ele está sendo alvo de perseguição política e que não há base legal para sua responsabilização. O caso, que já envolve outros políticos e apoiadores dos atos de 8 de janeiro, promete continuar gerando polêmica nos próximos meses, à medida que as investigações avançam.

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