O maior erro do "sistema"


 Na tarde do dia 7 de setembro de 2024, em um ato na icônica Avenida Paulista, em São Paulo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fez duras críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O discurso, marcado por fortes acusações, foi um dos principais momentos da manifestação, que reuniu milhares de apoiadores do ex-mandatário. Bolsonaro, mais uma vez, reiterou suas alegações de perseguição política e teceu comentários sobre a atuação do STF, reforçando sua narrativa de luta contra o que ele chama de "corrupção sistêmica" no Brasil.


O Enfrentamento com o STF e Alexandre de Moraes


Desde que deixou a presidência, Bolsonaro tem mantido um discurso contundente contra Alexandre de Moraes, responsável por algumas das decisões mais polêmicas envolvendo figuras políticas ligadas ao bolsonarismo. Durante seu pronunciamento na manifestação, o ex-presidente não mediu palavras ao criticar o ministro, a quem chamou de "ditador". Segundo ele, Moraes seria mais prejudicial ao Brasil do que o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu maior opositor político. Essa fala reflete a crescente tensão entre Bolsonaro e o STF, que se intensificou especialmente após os inquéritos relacionados às fake news e aos atos antidemocráticos, investigações essas que colocaram aliados próximos do ex-presidente na mira da justiça.


Bolsonaro também fez questão de destacar que Alexandre de Moraes estaria, segundo ele, agindo de forma "autoritária", limitando a liberdade de expressão e impondo censura a seus apoiadores e a veículos de imprensa alinhados ao bolsonarismo. "O que estamos vendo é uma tentativa clara de calar vozes que defendem a liberdade e a verdade", afirmou o ex-presidente, sob aplausos da multidão.


A Luta Contra a Corrupção e a "Perseguição Política"


Em seu discurso, Jair Bolsonaro fez questão de ressaltar sua luta contra a corrupção durante seu mandato presidencial. Ele relembrou algumas de suas medidas mais emblemáticas, como o apoio às operações da Polícia Federal e a sua recusa em nomear ministros com histórico de corrupção. Para Bolsonaro, essa postura firme contra os desvios de recursos públicos foi o que teria desencadeado uma "perseguição política" contra ele e sua família.


"Eu fui o único presidente que enfrentou de frente o sistema, e por isso estou sendo perseguido", declarou Bolsonaro. Ele também aproveitou para fazer uma distinção entre dois tipos de ladrões: "os que roubam dinheiro", referindo-se diretamente ao ex-presidente Lula, e "os que roubam o futuro e a liberdade", numa crítica clara à atuação de Alexandre de Moraes e do Supremo Tribunal Federal.


Essa dicotomia entre os "dois tipos de ladrões" já havia sido usada anteriormente por Bolsonaro em outros discursos, mas, nesta manifestação, ganhou um novo contorno. Ao reforçar a ideia de que há uma elite política e jurídica comprometida em prejudicar sua carreira e a de seus aliados, Bolsonaro busca solidificar ainda mais sua base de apoio, composta por eleitores que veem no STF um obstáculo à "verdadeira liberdade".


Eleições de 2018 e a "Falha do Sistema"


Outro ponto que chamou atenção no discurso de Bolsonaro foi sua afirmação de que sua vitória nas eleições de 2018 só ocorreu devido a uma "falha do sistema". Embora não tenha entrado em detalhes sobre o que quis dizer com isso, a fala foi interpretada por muitos analistas como uma tentativa de deslegitimar as instituições eleitorais do país, algo que já é recorrente em seus discursos.


Bolsonaro tem historicamente questionado a lisura do processo eleitoral no Brasil, especialmente em relação ao sistema de urnas eletrônicas. No entanto, ao afirmar que sua vitória se deveu a uma "falha", o ex-presidente parece querer reforçar a ideia de que o sistema político e judiciário do Brasil é corrupto e que sua ascensão ao poder foi uma anomalia nesse sistema.


Para seus apoiadores, essas declarações soam como uma confirmação de que Bolsonaro é uma figura política única, que teria conseguido vencer apesar das adversidades e das supostas "manipulações" das instituições. "Nós conseguimos em 2018 porque Deus permitiu, mas sabemos que o sistema está contra nós", afirmou um dos manifestantes que acompanhava o evento.


A Imagem de Lula como o "Inimigo Maior"


Como de costume, o ex-presidente Jair Bolsonaro não deixou de direcionar duras críticas a seu principal adversário político, Luiz Inácio Lula da Silva. Ao relembrar sua promessa de nunca passar a faixa presidencial para um "ladrão", Bolsonaro reiterou que, em sua visão, Lula simboliza tudo o que há de errado na política brasileira.


Essa narrativa se alinha com o discurso que Bolsonaro tem utilizado desde que foi derrotado nas eleições de 2022. Para ele, Lula representa a corrupção, os desvios de recursos públicos e a impunidade que, segundo Bolsonaro, marcaram os anos de governo petista. "Eu jamais entregaria o Brasil nas mãos de quem roubou tanto da nossa nação", disparou Bolsonaro, inflamando ainda mais os ânimos dos presentes.


Ao contrastar sua própria trajetória com a de Lula, Bolsonaro busca reforçar sua imagem de "defensor da moralidade" e de "salvador" da nação, em oposição ao que ele descreve como os "desmandos" dos governos petistas. Essa estratégia de polarização tem sido um dos pilares de sua carreira política, especialmente nos momentos em que enfrenta crises ou questionamentos sobre seu governo.


Apoio Popular e Mobilização


O ato na Avenida Paulista, além de ser uma oportunidade para Bolsonaro reiterar suas críticas ao STF e a Lula, também serviu como um termômetro para medir o apoio popular ao ex-presidente. Embora a manifestação tenha atraído milhares de pessoas, analistas políticos afirmam que o número de participantes foi menor do que em eventos semelhantes realizados em anos anteriores. Ainda assim, a presença de uma base fiel de apoiadores, disposta a ir às ruas para defender Bolsonaro e suas ideias, mostra que o ex-presidente continua sendo uma figura influente no cenário político brasileiro.


Para muitos dos presentes, o discurso de Bolsonaro trouxe esperança de que ele possa voltar a concorrer em futuras eleições, e há um sentimento claro de que, para esses apoiadores, a luta está longe de terminar. "Nós estamos com ele até o fim, porque ele é o único que luta contra o sistema", afirmou uma manifestante.


O discurso de Jair Bolsonaro durante a manifestação na Avenida Paulista reforçou suas principais críticas ao STF, à corrupção e ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. As falas do ex-presidente, carregadas de polarização e acusações, refletem a atual dinâmica política no Brasil, onde a tensão entre as diferentes instituições continua em alta. Ao se posicionar como uma vítima de perseguição política e defensor da moralidade, Bolsonaro busca manter viva sua relevância política e mobilizar sua base de apoio em um cenário cada vez mais dividido.

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