Na manhã desta segunda-feira (09/09/2024), uma nova polêmica envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o empresário e influenciador Pablo Marçal (PRTB) tomou conta das redes sociais e da mídia. O ex-presidente compartilhou um vídeo em sua lista de transmissão no Telegram, no qual Marçal é descrito como "traidor", "arregão" e "aproveitador". O vídeo, narrado por um locutor, critica a postura do candidato à Prefeitura de São Paulo, alegando que Marçal tem "medo" do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que foi o principal alvo das manifestações de 7 de setembro na Avenida Paulista.
O vídeo divulgado por Bolsonaro, que já circula amplamente entre seus apoiadores, questiona a lealdade de Marçal em relação às pautas conservadoras e à liberdade de expressão. O locutor destaca a fala de Marçal em uma entrevista, na qual ele afirma que "não tem problema nenhum com Alexandre de Moraes" e que "não vai arrumar briga com o STF". Para o locutor, essa postura é vista como um abandono das causas defendidas pela direita.
A peça finaliza com um aviso contundente: "Pode não ser a sua briga, Marçal, mas é a nossa briga. Brigar pela liberdade de expressão é a nossa briga." Esse discurso reflete o sentimento de muitos bolsonaristas, que têm o STF como um dos principais alvos de críticas, especialmente após as decisões judiciais que envolveram figuras proeminentes da direita brasileira nos últimos anos.
O vídeo também toca em um ponto sensível para o cenário político atual: a divisão na direita. O locutor termina a peça dizendo que "a direita não pode ser enganada novamente e se dividir", ressaltando que a fragmentação do movimento conservador é exatamente o que "o sistema quer". Essa afirmação aponta para o risco de Marçal estar enfraquecendo a base de apoio da direita em um momento crítico, como o das eleições municipais de 2024.
O contexto da crítica de Bolsonaro a Marçal pode ser compreendido dentro de um panorama de disputas internas na direita. O ex-presidente já havia demonstrado anteriormente interesse em consolidar uma frente unida para as eleições, mas a postura de Marçal, interpretada como uma tentativa de fugir do confronto com o STF, parece ter acirrado os ânimos.
Em agosto, houve indícios de uma aproximação entre Bolsonaro e Pablo Marçal, que lidera as pesquisas para a Prefeitura de São Paulo. Com o aumento das intenções de voto para Marçal, o ex-presidente pareceu inicialmente aberto à ideia de um apoio mútuo. No entanto, a relação azedou rapidamente após o 7 de setembro, quando Marçal chegou ao ato na Avenida Paulista já próximo ao seu encerramento.
Segundo informações de assessores próximos a Bolsonaro, a atitude de Marçal foi vista como uma tentativa de se desvencilhar do tema anti-STF que dominava o protesto. Para Bolsonaro e seus aliados, como o pastor Silas Malafaia, organizador do evento, Marçal teria tentado "fazer palanque às custas do trabalho e risco dos outros". Malafaia foi ainda mais incisivo em suas críticas, chamando Marçal de "palhaço" em declarações públicas.
Por outro lado, a postura mais moderada de Pablo Marçal em relação ao STF e ao ministro Alexandre de Moraes pode ser interpretada como uma estratégia política. Como candidato à Prefeitura de São Paulo, Marçal precisa equilibrar o discurso para não alienar eleitores mais moderados e manter sua relevância no cenário político da maior cidade do país. Mesmo com apoio inicial de setores mais conservadores, Marçal parece estar buscando expandir sua base eleitoral para além da extrema direita.
A decisão de não se envolver diretamente na pauta anti-STF pode ser um reflexo dessa estratégia. Contudo, essa postura mais moderada tem gerado críticas dentro de seu próprio campo político, o que o coloca em uma posição delicada. A resposta de Marçal aos ataques, até o momento, tem sido a de minimizar o conflito e evitar confrontos diretos com Bolsonaro ou Malafaia, o que também pode ser parte de seu esforço para se diferenciar como um líder político que busca conciliação, ao invés de confrontação.
A postura de Bolsonaro em relação às eleições de 2024 também está em destaque. Embora tenha anunciado que não será candidato a nenhum cargo, o ex-presidente continua sendo uma figura central no debate político e um influenciador significativo entre os eleitores de direita. Seu apoio, ou a falta dele, pode ser decisivo para vários candidatos conservadores em todo o país.
No caso de São Paulo, Bolsonaro já sinalizou que pode apoiar Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito e candidato à reeleição, ou um outro nome de sua confiança. O episódio com Pablo Marçal mostra que Bolsonaro está atento a quem está alinhado com suas pautas e quem não está, e deixa claro que ele não hesitará em criticar publicamente aqueles que julga estarem se afastando das causas conservadoras.
O impacto desse episódio na campanha de Marçal ainda é incerto, mas é provável que haja um desgaste com a base de eleitores mais radicalizados, que veem Bolsonaro como a principal liderança da direita no país. O fato de o ex-presidente ter compartilhado o vídeo com críticas severas a Marçal pode fazer com que parte desses eleitores mude de posição ou, no mínimo, passe a questionar a lealdade do candidato à prefeitura.
Por outro lado, a moderação de Marçal em relação ao STF e sua tentativa de se afastar de confrontos diretos podem atrair eleitores que desejam um discurso mais conciliador e menos polarizado. No entanto, essa estratégia tem seus riscos, pois ao tentar agradar a um público mais amplo, Marçal pode perder apoio justamente entre aqueles que o ajudaram a crescer nas pesquisas.
A disputa entre Jair Bolsonaro e Pablo Marçal é mais um capítulo das tensões dentro da direita brasileira. O compartilhamento do vídeo pelo ex-presidente mostra que Bolsonaro ainda exerce forte influência sobre a base conservadora e que qualquer tentativa de distanciamento das pautas mais radicais pode ser vista como uma traição por parte de seus apoiadores.
Com as eleições municipais de 2024 se aproximando, esse conflito pode definir o rumo da campanha de Marçal e seu desempenho nas urnas. Enquanto tenta se posicionar como uma alternativa viável para a Prefeitura de São Paulo, Marçal terá que lidar com as críticas vindas de Bolsonaro e seu círculo mais próximo, além de buscar conquistar eleitores que desejam um candidato menos polarizador.