Kalil se torna réu e pode ficar inelegível por 14 anos

 
O ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, enfrenta uma nova batalha jurídica após se tornar réu em uma ação por improbidade administrativa. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) ajuizou a ação nesta segunda-feira, 21 de outubro de 2024, acusando Kalil de utilizar a estrutura da prefeitura para beneficiar sua campanha ao governo do estado de Minas Gerais nas eleições de 2022. A acusação tem como base um inquérito civil aberto em 2021, após uma denúncia feita por Alberto Lage, que à época era secretário adjunto de governo na capital mineira.


De acordo com o MPMG, Kalil teria utilizado recursos e funcionários da prefeitura de Belo Horizonte para promover sua candidatura ao governo de Minas Gerais, o que configuraria uma violação dos princípios da administração pública. As investigações apontam que servidores e materiais públicos teriam sido empregados em atividades de campanha, desrespeitando o uso legal de bens públicos. Se condenado, o ex-prefeito pode ser declarado inelegível por até 14 anos, o que prejudicaria seriamente suas aspirações políticas futuras.


Além da acusação de improbidade administrativa, Kalil enfrenta outros problemas jurídicos e financeiros. Uma ação movida recentemente por uma empresa de comunicação de propriedade da ex-deputada federal Manuela D'Ávila contra o diretório municipal do PSD em Belo Horizonte revelou que o partido não efetuou o pagamento pelos serviços de mídia prestados durante a campanha de Kalil ao governo estadual. Essa revelação trouxe à tona suspeitas de caixa dois, uma vez que o contrato com a empresa não foi declarado à Justiça Eleitoral. Embora o contrato tenha sido assinado pela comissão provisória do PSD, os serviços teriam sido destinados diretamente à campanha de Kalil, o que levanta ainda mais suspeitas sobre a legalidade das operações financeiras de sua candidatura.


Os problemas legais de Kalil não se limitam a sua atuação política. Seu ex-assessor Carlos Fabel, que trabalhou ao seu lado durante a campanha de 2022, foi recentemente envolvido em um escândalo de apropriação indébita, acusado de desviar mais de 20 milhões de reais do Clube Atlético Mineiro, onde Kalil foi presidente entre 2009 e 2014. O episódio trouxe novas críticas à gestão de Kalil tanto no clube quanto no setor público, e especialistas afirmam que essa proximidade com figuras envolvidas em escândalos pode manchar ainda mais sua imagem política.


A trajetória política de Kalil tem sido marcada por altos e baixos. Ele foi eleito prefeito de Belo Horizonte em 2016, com uma plataforma voltada para o combate à corrupção e à ineficiência administrativa. Sua reeleição em 2020 consolidou sua popularidade, especialmente devido à sua postura firme durante a pandemia da COVID-19, quando adotou medidas restritivas que, embora criticadas por alguns, conquistaram apoio significativo de uma parcela da população.


Contudo, sua decisão de deixar a prefeitura para concorrer ao governo de Minas Gerais em 2022 revelou-se um erro estratégico. Kalil enfrentou o atual governador Romeu Zema, sendo derrotado ainda no primeiro turno. Após essa derrota, o ex-prefeito tentou reingressar na política nacional, buscando cargos no governo federal, mas suas tentativas foram frustradas devido a desentendimentos com figuras próximas ao presidente Lula. Esse distanciamento de aliados políticos importantes deixou Kalil fora da cena política até o início de 2024, quando começou a articular alianças para as eleições municipais de Belo Horizonte.


Kalil é conhecido por seu estilo combativo e por acumular brigas ao longo de sua carreira política e empresarial. Entre os desafetos estão empresários ligados ao Atlético Mineiro, marqueteiros que trabalharam em suas campanhas e antigos aliados políticos. Além disso, ele já enfrentou diversos processos trabalhistas e fiscais, que apontam para irregularidades em sua administração financeira tanto na prefeitura quanto em sua vida privada.


Um dos episódios mais prejudiciais à sua imagem ocorreu em 2022, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reprovou suas contas de campanha. Na ocasião, o TSE determinou que Kalil devolvesse mais de dois milhões de reais aos cofres públicos, devido a irregularidades no uso de recursos do fundo eleitoral. Essa condenação adicionou mais um elemento de controvérsia à sua trajetória política.


Com a nova ação por improbidade administrativa, as perspectivas de Kalil no cenário político tornam-se ainda mais incertas. Se for condenado, ele pode enfrentar uma longa inelegibilidade, de até 14 anos, o que o afastaria de qualquer possibilidade de disputar cargos eletivos nesse período. Esse cenário seria um golpe duro para o ex-prefeito, que ainda busca se reposicionar politicamente após as derrotas recentes e os escândalos envolvendo sua gestão.


Enquanto a ação segue em tramitação, o futuro de Kalil na política permanece indefinido. Seus adversários já começaram a utilizar as acusações como arma eleitoral, e seus antigos aliados mostram-se cada vez mais distantes. Para Kalil, a única certeza é que sua trajetória política estará sob escrutínio nos próximos anos, com as investigações e julgamentos determinando o rumo de sua carreira pública.

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