O ex-presidente Jair Bolsonaro classificou, nesta terça-feira, como um erro ter concedido uma medalha de “imbrochável” ao ex-coach e político Pablo Marçal (PRTB), que concorreu à prefeitura de São Paulo. Segundo Bolsonaro, a homenagem foi um mal-entendido que acabou gerando uma série de interpretações sobre um suposto apoio a Marçal, o que, para ele, nunca foi sua intenção.
A medalha de “imbrochável”, concedida em junho, pouco antes do período eleitoral, acabou gerando polêmica. Na época, Marçal se encontrou com Bolsonaro em Brasília para discutir sua candidatura com lideranças políticas. O ex-presidente, que costuma distribuir esse tipo de homenagem a pessoas próximas, decidiu agraciar o ex-coach com a medalha, em um gesto de cordialidade, mas ressaltou que não significava uma aliança política. “Como começou a onda Marçal? Há três meses ele queria falar comigo, eu conversei com ele. Só ele e mais ninguém. Até dei uma medalha para ele, onde eu errei”, admitiu Bolsonaro durante uma entrevista coletiva no Senado, onde discutia outras pautas com a bancada do Partido Liberal (PL). “Ele saiu de lá e, duas horas depois, estava no jornal O Estado de S. Paulo que eu ia apoiá-lo e não o Nunes”, afirmou, referindo-se ao prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que também recebeu uma medalha do ex-presidente logo depois.
Bolsonaro explicou que, após o encontro, ao tomar conhecimento de que Marçal havia dado a entender que tinha seu apoio político, procurou esclarecer a situação. Em entrevista na época, Bolsonaro afirmou que sempre teve sua posição alinhada com Ricardo Nunes e que não havia nenhum tipo de compromisso político com Marçal, ressaltando que a entrega da medalha foi um gesto amigável e não uma declaração de apoio. “Eu não tenho nada a falar no tocante a Pablo Marçal. Ele conversou comigo por aproximadamente uma hora. E saindo dali, apareceu uma matéria no ‘Estado de S.Paulo’ dizendo que eu não apoiaria o Ricardo Nunes. No dia seguinte, liguei para o ‘Estado de S.Paulo’ dizendo que houve algum equívoco. Alguém se equivocou neste percurso aí e eu estava fechado com o Ricardo Nunes. Continuo fechado com ele”, disse Bolsonaro.
Durante a entrevista desta terça-feira, o ex-presidente também foi questionado sobre a possibilidade de uma futura filiação de Pablo Marçal ao PL. Demonstrando ser contra essa ideia, ele foi categórico ao afirmar: “Se depender de mim, não”. O posicionamento reflete a tentativa de Bolsonaro de manter o partido coeso e focado em nomes que, segundo ele, são mais alinhados com seus valores e objetivos políticos. Embora Marçal tenha tentado se aproximar dos eleitores bolsonaristas, o ex-presidente não parece interessado em incluir o ex-coach em suas fileiras, possivelmente devido às divergências ideológicas e de posicionamento que os distanciam.
Além das questões envolvendo Marçal, Bolsonaro aproveitou o momento no Senado para debater com a bancada do PL a posição do partido em relação ao PL da Anistia, que deverá passar por uma análise em comissão especial na Câmara dos Deputados. Esse projeto de lei tem gerado debates entre aliados e opositores do ex-presidente, pois pode ter implicações legais para políticos que enfrentam processos judiciais e administrativos. A decisão sobre a posição do PL neste projeto de lei será estratégica para o partido e, por isso, Bolsonaro buscou dialogar diretamente com os líderes da bancada para alinhar as estratégias e fortalecer o discurso do partido.
A situação com Marçal e as decisões do PL em relação ao projeto de lei refletem um momento delicado para Bolsonaro, que tenta reorganizar suas bases e definir o futuro político dentro de um cenário polarizado. O ex-presidente enfrenta desafios em manter sua influência na política nacional enquanto tenta consolidar o apoio de sua base mais fiel, que inclui tanto parlamentares quanto eleitores que se identificam com suas pautas conservadoras.
A entrega da medalha de “imbrochável” foi, para Bolsonaro, um episódio que ele considera um erro político e uma lição sobre a importância de se cercar de pessoas alinhadas aos seus ideais e de se distanciar de alianças temporárias que possam ser interpretadas como apoio. A postura adotada por Bolsonaro demonstra uma tentativa de reforçar seu compromisso com as pautas do PL e com os eleitores que esperam um direcionamento claro em suas ações. Contudo, o episódio com Marçal revela os riscos de uma estratégia política que envolve gestos simbólicos, mas que podem ser mal interpretados por figuras que buscam capitalizar em cima do prestígio de Bolsonaro.
Por fim, é importante destacar que o desdobramento deste episódio ainda pode ter impacto no cenário político do PL e na forma como Bolsonaro continuará a gerenciar suas alianças. A controvérsia mostra como o ex-presidente tem tentado equilibrar as expectativas de sua base de apoiadores com as exigências do partido e os desafios que ele e o PL enfrentarão nas eleições futuras. A situação de Marçal também serve como um lembrete de que o cenário político é volátil e que alianças podem rapidamente se transformar em desentendimentos públicos, como foi o caso aqui.