Em entrevista coletiva no Senado nesta última terça-feira, 29 de outubro, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) refletiu sobre uma de suas decisões recentes que gerou repercussão. Bolsonaro reconheceu ter cometido um erro ao condecorar o empresário Pablo Marçal (PRTB) com a simbólica medalha de “imbrochável”. O episódio, ocorrido em um encontro em junho deste ano, gerou críticas e debates em torno das relações políticas e alianças do ex-presidente, bem como do papel de Marçal no cenário político brasileiro. Na ocasião, Bolsonaro explicou o contexto que o levou a conhecer o empresário e ceder-lhe a medalha, mas ressaltou que sua decisão acabou sendo um equívoco.
Bolsonaro relatou como se deu o primeiro contato com Marçal e a forma como o empresário se aproximou dele. “Como começou a onda Marçal? Há três meses, ele queria falar comigo, então conversei com ele. Só ele e mais ninguém”, afirmou o ex-presidente. Segundo Bolsonaro, o encontro teria ocorrido sem a presença de outras pessoas, sendo uma conversa direta entre os dois. Em tom crítico sobre o episódio, o ex-presidente demonstrou descontentamento com a forma como o empresário explorou o encontro. Bolsonaro, que já havia sido foco de discussões e controvérsias por conceder medalhas e honrarias a aliados e apoiadores em seu governo, viu sua decisão ser interpretada de diferentes maneiras no meio político.
A medalha de “imbrochável” conferida a Marçal gerou questionamentos tanto entre apoiadores quanto entre críticos de Bolsonaro. Para muitos, o termo carrega uma simbologia polêmica, destacando a visão que Bolsonaro tem de valores ligados à virilidade e à força. Essa postura já foi expressa em outras declarações do ex-presidente, nas quais ele usa termos similares para descrever a si próprio e seus aliados. Ao reconhecer que conceder a medalha foi um erro, Bolsonaro sinaliza uma mudança de tom em relação ao empresário, a quem agora parece querer distanciar do seu grupo político.
Além disso, Bolsonaro explicou que, logo após o encontro e a entrega da medalha, Marçal utilizou o episódio para sugerir publicamente uma aliança com o ex-presidente, algo que Bolsonaro afirmou não ter autorizado. Ele relatou que, cerca de duas horas após o encontro, surgiram manchetes em veículos de imprensa, como o jornal "O Estado de São Paulo", afirmando que Bolsonaro teria declarado apoio a Pablo Marçal e, portanto, deixado de lado Ricardo Nunes, atual prefeito de São Paulo, a quem o ex-presidente, até então, mantinha relações de proximidade política. O suposto apoio a Marçal, portanto, teria surpreendido o ex-presidente, que negou ter feito tal afirmação. “Ele saiu de lá e, duas horas depois, estava no jornal O Estado de São Paulo que eu ia apoiá-lo e não o Nunes”, declarou Bolsonaro, dando a entender que se sentiu traído pela maneira como o empresário conduziu a situação.
Durante a entrevista coletiva, Bolsonaro foi questionado sobre uma eventual filiação de Pablo Marçal ao PL, seu partido atual. Os jornalistas buscavam entender se o empresário poderia compor o grupo de aliados do ex-presidente em sua base partidária. Diante da questão, Bolsonaro se mostrou enfático e direto em sua resposta: “Se depender de mim, não”. Com essa declaração, o ex-presidente evidenciou seu desconforto com a possibilidade de uma aliança mais profunda com Marçal, sugerindo que, mesmo após o encontro inicial, as intenções políticas do empresário não são compatíveis com as dele. A resposta firme também indica que Bolsonaro, ao menos por ora, mantém uma postura de afastamento de novas lideranças que não tenham uma afinidade ideológica consolidada.
A repercussão desse episódio reflete algumas das tensões presentes no cenário político atual, especialmente entre os políticos de direita que buscam espaço e influência após o término do governo Bolsonaro. Pablo Marçal, conhecido por seu estilo de comunicação direta e pela atuação como empresário e coach de desenvolvimento pessoal, tem se aventurado no campo político e busca consolidar seu nome entre conservadores e apoiadores da direita. Sua presença em eventos e sua tentativa de aproximação com lideranças, como Bolsonaro, indicam seu desejo de amplificar sua presença e influência, algo que parte do público bolsonarista observa com cautela.
Por outro lado, Bolsonaro, que liderou uma base fiel e consolidada de apoiadores ao longo de seu mandato, parece evitar se comprometer com novos nomes que possam desviar ou fragmentar sua base política. As suas palavras sobre o episódio com Marçal ilustram um momento de reflexão e de avaliação de suas escolhas e alianças. O ex-presidente, que ainda conta com significativa força e apoio de um eleitorado conservador, demonstra prudência ao não endossar figuras que possam, eventualmente, tirar foco das lideranças estabelecidas em seu grupo.
O episódio entre Bolsonaro e Marçal também lança luz sobre a complexidade das relações entre figuras públicas e o peso que gestos simbólicos, como a concessão de uma medalha, podem adquirir no jogo político. Para Bolsonaro, a medalha de “imbrochável” tinha o propósito de reforçar valores de perseverança e determinação que ele costuma associar a si mesmo e aos seus apoiadores. No entanto, ao refletir sobre o ocorrido e reconhecer seu erro, o ex-presidente abre margem para questionamentos sobre como serão suas escolhas de alianças e honrarias daqui para frente. A declaração de Bolsonaro deixou claro que, para ele, certas relações políticas precisam ser tratadas com mais cautela, especialmente em um cenário onde as alianças podem influenciar diretamente as intenções e estratégias políticas de ambos os lados.