O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), elevou o tom em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ao declarar que sabe vencer eleições, em uma alusão à recente vitória de Sandro Mabel (União Brasil) na disputa pela prefeitura de Goiânia. Mabel, apoiado por Caiado, superou Fred Rodrigues (PL), candidato apoiado por Bolsonaro, em uma eleição bastante acirrada. A declaração de Caiado ocorre logo após o anúncio dos resultados e representa um marco na rivalidade entre o governador e o ex-presidente, expondo tensões que já vinham se intensificando há meses.
Caiado, um dos principais nomes da política goiana e uma liderança de destaque no cenário nacional, não poupou críticas a Bolsonaro, insinuando que o ex-presidente não possui a mesma habilidade política para vencer eleições de maneira eficaz. "Eu tenho uma história de vida, não é um cidadão que vai dizer o que eu sou. Ninguém vai denegrir a minha imagem. Eu tenho credibilidade moral, intelectual para governar e para fazer política. Tanto é que eu mostrei que sei ganhar eleições, diferente dele", disse Caiado, deixando claro que considera sua trajetória política bem-sucedida, em contraponto às derrotas recentes de Bolsonaro no estado.
Essa vitória marca a segunda derrota de Bolsonaro em Goiás, segundo o próprio governador. Caiado lembrou que, na disputa pelo governo do estado, o ex-presidente também havia lançado um candidato contra ele. No entanto, Caiado venceu no primeiro turno, desbancando o adversário com uma larga margem de votos. Agora, na eleição municipal de Goiânia, Caiado obteve mais um triunfo, demonstrando força política tanto no nível estadual quanto no municipal. Ele não escondeu a satisfação ao mencionar que Bolsonaro parece ter perdido o apoio em Goiás. "Na primeira, ele lançou um candidato contra mim para governador, eu bati no primeiro turno. Agora, bati neles no segundo turno. Acredito que agora ele esteja em condições de poder acordar, cair a ficha, respeitar as lideranças estaduais e saber que não vale a pena vir com uma total deselegância", completou Caiado, reforçando a necessidade de Bolsonaro respeitar as lideranças locais.
A ironia foi outro recurso usado por Caiado, que aproveitou para criticar o Partido Liberal (PL), legenda de Bolsonaro, ao afirmar que os integrantes do partido acreditavam que bastaria o número 22 para garantir vitórias eleitorais. Caiado sublinhou a importância de selecionar candidatos sólidos e bem preparados, insinuando que a estratégia bolsonarista, baseada em números e slogans, não é o suficiente para conquistar o eleitorado goiano. "O pessoal do PL acha que só o número 22 elege as pessoas", destacou o governador, deixando clara sua convicção de que é preciso mais do que simbolismo para obter vitórias consistentes nas urnas.
Esse posicionamento de Caiado não é um evento isolado, mas parte de uma série de tensões que têm surgido entre os dois políticos. Nos últimos anos, Bolsonaro e Caiado, que já estiveram alinhados em alguns pontos, vêm demonstrando divergências políticas cada vez mais evidentes. Enquanto Bolsonaro mantém uma linha dura e discursiva voltada para um eleitorado mais conservador e fiel, Caiado, por outro lado, busca ampliar seu apoio entre setores variados da sociedade, promovendo uma política que ele classifica como voltada ao desenvolvimento do estado e ao diálogo com diferentes segmentos. A postura crítica de Caiado sugere um realinhamento político que pode indicar novas disputas dentro da base conservadora brasileira.
A fala de Caiado repercutiu fortemente em Goiás e em setores da política nacional, com apoiadores de ambos os lados tomando partido nesse embate. Analistas políticos apontam que esse conflito entre Caiado e Bolsonaro pode ser um prenúncio de uma ruptura definitiva entre os dois, o que teria implicações significativas para as eleições de 2026. Com Bolsonaro ainda como uma figura influente no cenário nacional, qualquer enfraquecimento de sua base política poderia abrir caminho para novas lideranças conservadoras, com Caiado despontando como um dos nomes mais fortes no centro-direita.
Outro aspecto relevante nas declarações de Caiado é a mensagem indireta a outros políticos que, assim como ele, estão buscando se distanciar do bolsonarismo para construir uma base própria e ampliar seu eleitorado. Para esses líderes, Caiado parece indicar que é possível vencer Bolsonaro em seu próprio campo de atuação, desde que haja uma estratégia sólida e uma conexão autêntica com o eleitorado local.
Por outro lado, Bolsonaro não se pronunciou sobre as declarações de Caiado até o momento, mas fontes próximas ao ex-presidente indicam que ele deve manter o foco em fortalecer sua base de apoio nos estados onde ainda conta com um respaldo significativo. A derrota em Goiás, porém, serve como um alerta para a campanha de Bolsonaro, que parece estar enfrentando dificuldades em expandir seu alcance para além de sua base tradicional, especialmente em estados onde há líderes fortes que não se alinham completamente com sua agenda.
Esse novo cenário pode dar início a uma disputa acirrada pelo controle da base conservadora, com cada vez mais figuras relevantes buscando definir seu espaço e suas estratégias de forma independente. Seja como for, a recente vitória de Caiado em Goiás e suas declarações contra Bolsonaro colocam mais um elemento de tensão na já complexa teia de alianças e disputas internas do campo conservador brasileiro.