As eleições municipais de 2024 em São Paulo representaram um momento difícil para o Partido dos Trabalhadores (PT), que enfrentou um desempenho abaixo das expectativas em seu tradicional reduto político. Após anos de altos e baixos, o partido viu seu desempenho piorar, numa trajetória negativa que começou em 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff, e continuou em 2018 com a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva. Mesmo depois de reconquistar o poder com a eleição de Lula em 2022, o PT não conseguiu reverter a perda de apoio nas urnas em São Paulo. O resultado, mais uma vez aquém do esperado, gerou um clima de tensão e frustração dentro do partido, que agora busca entender as causas desse enfraquecimento contínuo.
O próprio ministro Alexandre Padilha, representante do PT de São Paulo e responsável pela pasta das Relações Institucionais no governo federal, usou uma analogia polêmica para descrever o resultado da sigla. Ele comparou a situação do PT em São Paulo à zona de rebaixamento de um campeonato de futebol, afirmando que o partido “não saiu do z4”, termo usado para referir-se às últimas posições da tabela, geralmente ocupadas por times em risco de rebaixamento. O comentário de Padilha rapidamente repercutiu entre os membros do partido, causando uma onda de reações negativas e expondo divergências internas sobre as estratégias adotadas pelo PT para reconquistar o apoio popular.
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, foi uma das primeiras a reagir ao comentário de Padilha. Ela criticou a fala do ministro de forma contundente, defendendo o partido e relembrando os desafios enfrentados desde 2016. Para Gleisi, a comparação de Padilha foi desrespeitosa e não levou em conta o contexto político adverso ao qual o PT esteve submetido nos últimos anos. Em sua resposta, Hoffmann destacou que o partido foi alvo de ataques da direita e extrema-direita, que moldaram a opinião pública contra a legenda, além de ressaltar que o PT vem arcando com as consequências de estar à frente de um governo de ampla coalizão, onde precisou ceder em diversos pontos para garantir uma governabilidade mínima no Congresso Nacional, dominado por uma base de centro-direita.
“Temos de refrescar a memória do ministro Padilha, o que aconteceu conosco desde 2016 e a base de centro e direita do Congresso que se reproduz nas eleições municipais, que ele bem conhece”, afirmou Gleisi em nota oficial. A presidente do PT também acusou Padilha de diminuir os esforços nacionais do partido ao fazer “graça” com a situação delicada que enfrentam. Para ela, a fala do ministro não contribui para a unificação e fortalecimento da sigla, mas enfraquece o moral do partido em um momento que exige coesão e resiliência. Em outro ponto de sua fala, Hoffmann ressaltou o esforço feito pelo PT na campanha por “Lula Livre” e “Lula Presidente”, batalhas travadas em um contexto de descrédito e oposição intensa, relembrando que o partido se manteve firme quando poucos acreditavam na recuperação de Lula e na possibilidade de uma virada política.
A declaração de Gleisi Hoffmann evidencia o clima de tensão e inquietação dentro do PT. Para alguns analistas políticos, a insatisfação expressa pela presidente nacional da legenda reflete uma dificuldade do partido em se adaptar ao cenário atual e em dialogar com as novas demandas do eleitorado paulistano, cada vez mais fragmentado e polarizado. O PT, que já teve um forte apoio nas regiões periféricas de São Paulo, enfrenta agora um desafio duplo: reconquistar a confiança do eleitorado tradicional e atrair novas bases de apoio entre os jovens, classe média urbana e setores que, no passado, viam no partido uma opção sólida de representatividade.
Outro ponto levantado por analistas é a dificuldade do PT em lidar com a expansão da direita no Brasil. Movimentos e partidos de direita e extrema-direita vêm ocupando espaço na política nacional e municipal, o que complica ainda mais a estratégia petista de reconquista de espaço. Esse avanço da direita também coloca o partido em uma posição defensiva, dificultando a mobilização de suas bases e levando a decisões que nem sempre refletem a agenda tradicional da legenda. Muitos veem essa situação como um reflexo do desgaste provocado pela própria coalizão de Lula, que, para governar, precisou formar alianças que nem sempre agradam à ala mais tradicional e fiel do PT.
Diante dos resultados de 2024, o partido deve enfrentar uma série de questionamentos internos e uma provável reformulação de suas estratégias em São Paulo. Para muitos dos seus membros, as críticas feitas por Gleisi Hoffmann a Padilha podem marcar o início de um debate interno mais acirrado sobre os rumos do PT. No entanto, para outros, essa tensão é apenas mais um capítulo de um partido que tenta, de maneira tensa e conflituosa, resgatar sua relevância no cenário político nacional e estadual. Em um contexto em que o partido luta para equilibrar suas raízes com as demandas do presente, o desafio do PT em São Paulo parece apenas ter começado.