O erro estratégico de Pablo Marçal


 Pablo Marçal, figura polêmica no cenário político e empresarial brasileiro, esteve no centro de debates acalorados nos últimos meses. Durante esse período, muitos se surpreenderam ao ver o empresário defendido por um dos mais renomados consultores do país, Stephen Kanitz, que manteve uma postura firme de apoio a Marçal, mesmo diante de uma enxurrada de críticas e acusações que, segundo ele, nunca antes haviam sido vistas na "democracia brasileira". Por cinco meses, Kanitz tentou justificar as ações e decisões de Marçal, defendendo sua integridade e trajetória. Porém, o apoio chegou ao fim, e agora Kanitz sente que pode compartilhar sua visão sobre os erros que, em sua opinião, custaram caro ao aspirante a líder político.


Desde o início, Marçal foi alvo de uma série de acusações, que iam desde falsificação de laudos até supostos envolvimentos com o crime organizado. Contudo, Kanitz insiste que essas alegações são falsas. Para ele, Marçal jamais se envolveu em ações ilegais, muito menos fez acordos com facções criminosas como o PCC. Sua fortuna, segundo o consultor, foi construída de maneira legítima, através de uma carreira de palestrante que o levou a cobrar até meio milhão de reais por evento. "Sua conexão sempre foi com Jesus", afirmou Kanitz, ao destacar o caráter espiritual que guiava Marçal.


Mesmo assim, apesar de Kanitz ter mantido sua defesa pública durante tanto tempo, os bastidores dessa relação revelam desentendimentos e equívocos. Kanitz relembra a primeira vez que encontrou Marçal, ocasião em que um erro fundamental foi cometido. Ao invés de ganhar a confiança de Marçal aos poucos, Kanitz admite ter partido direto para conselhos, o que comprometeu o desenvolvimento de uma relação estratégica mais sólida entre eles. “Um grande equívoco da minha parte”, reconheceu Kanitz.


Nos meses que se seguiram, o consultor percebeu que Marçal estava cometendo um erro semelhante ao de Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, que, segundo Kanitz, atuou como um "Capitão", quando deveria ter se posicionado como um "General". A metáfora ilustra um problema que Kanitz considera central para a queda de popularidade e eficácia de Marçal: sua incapacidade de comandar e direcionar sem se expor diretamente aos conflitos.


"Generais apontam a direção, mas se protegem das batalhas diretas. O papel do General não é lutar, mas comandar e motivar a tropa", explicou Kanitz, em uma tentativa de mostrar a Marçal que ele não precisava se colocar no centro dos embates. O próprio consultor e Filipe Sabará, outro apoiador, poderiam assumir o papel de "bater firme" em questões públicas, permitindo que Marçal preservasse sua imagem para momentos decisivos. No entanto, essa orientação pareceu não encontrar eco.


Em suas conversas com Marçal, Kanitz notou outra falha fundamental: a falta de reconhecimento e valorização dos que o defendiam. Enquanto Kanitz estava sendo alvo de críticas dos próprios seguidores por manter seu apoio a Marçal, o empresário, segundo ele, sequer o agradeceu ou ofereceu qualquer tipo de motivação. "Você nunca me ligou, nem para me motivar, por exemplo", afirmou Kanitz em uma de suas interações com Marçal. A resposta de Marçal foi que ele nem sequer estava ciente do que estava acontecendo, uma demonstração, para Kanitz, de que Marçal não compreendia o papel de liderança estratégica que deveria assumir.


Essa falta de direcionamento ficou ainda mais evidente quando Marçal, ao invés de orientar seus apoiadores de maneira clara, transformou-se em uma "metralhadora giratória", atacando indiscriminadamente uma série de adversários e questões sem um foco definido. Em sua visão, Marçal deveria ter agido com mais precisão, como sugerir que seus aliados focassem em figuras como Tabata Amaral ou Ricardo Nunes, nomes que poderiam ser alvos de ataques estratégicos em momentos oportunos. Porém, isso nunca aconteceu.


O que mais incomodou Kanitz, no entanto, foi a ausência de gratidão e reconhecimento pelo trabalho e pela defesa que ele e outros apoiadores ofereceram a Marçal. Em nenhum momento, Marçal se preocupou em oferecer agradecimentos ou orientações estratégicas para aqueles que estavam se expondo em sua defesa.


Agora, depois de cinco meses de apoio incondicional, Stephen Kanitz decidiu desistir de Marçal. Para ele, a incapacidade de Marçal de ouvir e de atuar como um verdadeiro "General" é um erro estratégico grande demais para ser ignorado. "Vai ser difícil para ele se tornar governador ou presidente com essa atitude", concluiu Kanitz, em uma análise final sobre o futuro político de Marçal.


A trajetória de Pablo Marçal, ao que tudo indica, pode estar comprometida não por erros de caráter, mas pela sua incapacidade de liderar de forma estratégica e pelo seu distanciamento dos próprios aliados. Para Kanitz, esse foi o erro crucial que determinou a atual situação de Marçal.
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