Após a recente declaração do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) de que o Senado Federal poderia, em 2027, contar com votos suficientes para aprovar o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a resposta por parte de membros da Corte não tardou a aparecer. A fala de Flávio, que almeja uma bancada majoritariamente alinhada com a direita no Senado após as eleições de 2026, levantou debates sobre a viabilidade de tal cenário e provocou reações que demonstram descrença entre alguns ministros.
Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, declarou que, com base em projeções de especialistas políticos, existe a possibilidade de o Senado Federal alcançar os 54 votos necessários para aprovar o impeachment de Moraes em 2027. Ele afirmou que, mesmo diante das mudanças naturais que ocorrerão no Senado com a renovação de dois terços dos assentos após as eleições de 2026, as consultas realizadas por ele indicam que "um número de largada de 54 senadores dos 81" estaria alinhado com a direita, possibilitando o andamento do processo contra o ministro do STF. Flávio destacou que essa composição seria resultado de um processo eleitoral com foco em eleger senadores conservadores, alinhados com pautas que o bolsonarismo defende.
No entanto, ministros do Supremo Tribunal Federal veem o cenário com ceticismo. Segundo fontes próximas à Corte, a previsão de Flávio é vista como improvável, principalmente pela dificuldade que o campo conservador teria em formar uma maioria de dois terços no Senado, número essencial para a aprovação de um impeachment. A avaliação de membros do STF é de que, apesar das transformações que podem ocorrer no Legislativo em 2026, um terço dos senadores atuais ainda manterá seus mandatos até 2030, o que limitaria as chances de uma mudança abrupta no perfil da Casa.
Adicionalmente, esses ministros ressaltam que, com Jair Bolsonaro fora da Presidência da República desde 2023, seu poder de influenciar diretamente a eleição de aliados conservadores tem diminuído. Embora o ex-presidente mantenha popularidade em setores específicos da sociedade e siga atuando como figura central no espectro político de direita, os ministros avaliam que sua capacidade de moldar o cenário eleitoral nacional já não é a mesma de quando ocupava o cargo mais alto do Executivo. Na visão dos ministros, o afastamento de Bolsonaro da Presidência resultou em uma perda de capital político, o que pode dificultar a consolidação de uma bancada majoritária de direita no Senado.
Mesmo com as reservas expressadas pelos ministros, Flávio Bolsonaro parece otimista em relação à possibilidade de uma mudança significativa no Senado. Ele acredita que, com a estratégia certa, os eleitores conservadores poderiam eleger um número expressivo de senadores que, em última instância, levariam a uma configuração favorável para pressionar pelo impeachment de Alexandre de Moraes. Moraes tem sido alvo frequente de críticas de figuras ligadas ao bolsonarismo devido à sua atuação firme no STF, especialmente no que diz respeito aos processos relacionados às investigações sobre fake news, atos antidemocráticos e a condução de inquéritos que envolveram aliados do ex-presidente.
Entretanto, especialistas em política alertam que o Senado Federal, mesmo em meio a ciclos de renovação, tende a manter certa estabilidade em sua composição. Para eles, a dinâmica política brasileira, marcada por uma diversidade de forças partidárias e interesses regionais, torna difícil a consolidação de maiorias absolutas que permitam a aprovação de medidas drásticas como um impeachment de um ministro do STF. Ainda que a direita eleja mais senadores, esses especialistas indicam que é arriscado presumir que haverá uma adesão maciça à proposta de afastar Alexandre de Moraes, dado o papel institucional e independente que o Senado desempenha, mesmo sob pressões políticas externas.
Outro fator que deve ser considerado é a conjuntura internacional e os impactos econômicos que podem influenciar o eleitorado brasileiro em 2026. Segundo analistas, questões como a recuperação econômica, crises globais, e as políticas implementadas pelo governo eleito em 2026 serão determinantes para o humor político do país e, por consequência, para a formação do novo Senado. Dessa forma, a previsão de que haverá uma onda conservadora que alcançaria os 54 votos necessários no Senado ainda depende de muitos fatores imprevisíveis.
O embate entre as visões do campo bolsonarista e dos ministros do STF reflete, mais uma vez, a polarização política que continua a marcar o cenário brasileiro. O futuro das eleições de 2026 será crucial para definir a direção que o país tomará nos anos seguintes, especialmente em questões institucionais como a relação entre os poderes e a possibilidade de um impeachment de um ministro da mais alta Corte do país. Enquanto isso, as previsões seguem alimentando o debate público e as especulações sobre os rumos do Senado e do STF nos próximos anos.