Documentos recentemente divulgados pela imprensa trouxeram à tona supostos detalhes de um plano de golpe de Estado envolvendo figuras próximas ao ex-presidente Jair Bolsonaro. O material inclui mensagens e conversas de alto escalão que detalham propostas de reestruturação no governo durante os últimos meses de seu mandato. Contudo, uma decisão crucial de Bolsonaro teria inviabilizado o avanço dessa iniciativa, criando um novo desdobramento no cenário político e na investigação conduzida pela Polícia Federal.
O general Mario Fernandes, então secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, teria sugerido a substituição do ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, por alguém mais alinhado a uma eventual intervenção institucional. Nogueira, segundo as mensagens, era contrário à ideia de qualquer movimento que pudesse ser interpretado como um golpe. Em conversas reveladas, Fernandes afirmou ter sugerido ao presidente a reinstalação do general Braga Netto no comando da pasta, alegando que este teria maior disposição para apoiar uma ação de ruptura. Apesar da insistência, Bolsonaro rejeitou a sugestão de forma enfática, citando possíveis acusações de golpe caso essa mudança fosse feita.
Nas mensagens entre Mario Fernandes e Marcelo Câmara, então assessor especial de Bolsonaro, o general descreve o diálogo com o ex-presidente. “Falei com o presidente. Porra, cara, eu tava pensando aqui e sugeri ao presidente que ele considerasse mudar o MD [ministro da Defesa] de novo. Botar de novo o general Braga Netto lá. O general Braga Netto tá indignado, ele daria um apoio mais efetivo. Reestrutura de novo, porra”, disse Fernandes. Ele relatou ainda a resposta de Bolsonaro: “Ah, não, porra, aí vão alegar que eu tô mudando isso para dar um golpe.”
Essas palavras revelam o ponto central de uma controvérsia que tem dividido opiniões. De um lado, críticos de Bolsonaro argumentam que sua rejeição à troca ministerial não elimina a possibilidade de que o ex-presidente tenha sido, de alguma forma, conivente com as discussões. Por outro lado, seus apoiadores veem nessa decisão uma prova de que Bolsonaro não estava disposto a apoiar qualquer iniciativa que pudesse ser interpretada como um ato golpista.
Outro trecho da conversa entre Fernandes e Câmara ilustra o clima de tensão nos bastidores do governo. “Porra, negão. Qualquer solução, Caveira [apelido de Marcelo Câmara], tu sabe que não vai acontecer sem quebrar ovos, né? Sem quebrar cristais. Então, meu amigo, é partir para cima. Apoio popular é o que não falta”, disse Fernandes. Apesar do tom agressivo e do apelo por ação, a decisão de Bolsonaro de não substituir o ministro da Defesa foi, de acordo com os documentos, um obstáculo significativo ao andamento de qualquer plano mais ousado.
As implicações dessa revelação vão além do debate político. No âmbito jurídico, o indiciamento de Bolsonaro pela Polícia Federal, relacionado ao suposto plano golpista, parece cada vez mais difícil de sustentar. Se o próprio ex-presidente tomou decisões que inviabilizaram a execução de qualquer estratégia nesse sentido, a narrativa de seu envolvimento direto perde força. Advogados e analistas próximos ao caso já argumentam que a investigação não possui elementos suficientes para comprovar a responsabilidade de Bolsonaro em um esquema dessa magnitude.
Para seus apoiadores, esse episódio representa mais uma tentativa do "sistema" de incriminar o ex-presidente a qualquer custo. Alegam que há um esforço coordenado para construir narrativas desfavoráveis a Bolsonaro e criar um ambiente político hostil. A decisão de Bolsonaro de barrar a substituição do ministro da Defesa, mesmo sob pressão, é apontada como evidência de sua postura contrária a qualquer tentativa de ruptura institucional.
Por outro lado, opositores insistem que as mensagens revelam um ambiente no qual figuras próximas ao presidente discutiam abertamente estratégias que poderiam levar a um golpe. Para eles, mesmo que Bolsonaro tenha rejeitado a troca no Ministério da Defesa, isso não anula a gravidade das discussões e o fato de que tais ideias circulavam nos bastidores do governo.
A investigação sobre o caso ainda está em andamento, mas as novas informações lançam dúvidas sobre a viabilidade de um indiciamento sólido. Com a decisão de Bolsonaro de não avançar em mudanças estratégicas, o suposto plano golpista perde sua base de sustentação prática. Ainda assim, o debate sobre o papel do ex-presidente e de seus aliados nesse contexto promete continuar sendo um dos temas mais polêmicos e divisivos do cenário político brasileiro.
Enquanto a Polícia Federal e o Ministério Público analisam os documentos, o indiciamento que antes parecia iminente pode estar enfrentando seu maior obstáculo. Se as provas contra Bolsonaro não se sustentarem, essa investigação pode ser enterrada de vez, adicionando mais um capítulo à complexa relação entre o ex-presidente e as instituições que o investigam. Para os apoiadores de Bolsonaro, a narrativa de perseguição política ganha mais força. Para seus críticos, a busca por respostas sobre o episódio ainda está longe de terminar.