O ex-presidente Jair Bolsonaro se manifestou nesta quinta-feira após ser indiciado pela Polícia Federal (PF) por suposto envolvimento no planejamento de um golpe de Estado. Em uma publicação em suas redes sociais, Bolsonaro criticou duramente o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e questionou a legalidade das ações conduzidas pela PF e pelo Judiciário.
Bolsonaro afirmou que Moraes estaria conduzindo o inquérito de maneira arbitrária, ajustando depoimentos e realizando prisões sem apresentar denúncias formais. Ele também acusou o ministro de promover uma "pesca probatória", termo usado para descrever a prática de buscar provas sem critérios claros, e criticou o que chamou de "assessoria bastante criativa". O ex-presidente escreveu:
“O ministro Alexandre de Moraes conduz todo o inquérito, ajusta depoimentos, prende sem denúncia, faz pesca probatória e tem uma assessoria bastante criativa. Faz tudo o que não diz a lei.”
Bolsonaro ainda ressaltou que pretende aguardar a análise de seus advogados sobre o indiciamento. Segundo ele, a batalha jurídica começará na Procuradoria-Geral da República (PGR), que será responsável por decidir se apresenta denúncia formal contra ele. "Tem que ver o que tem nesse indiciamento da PF. Vou esperar o advogado. Isso, obviamente, vai para a Procuradoria-Geral da República. É na PGR que começa a luta. Não posso esperar nada de uma equipe que usa a criatividade para me denunciar", acrescentou.
A declaração de Bolsonaro faz referência a um episódio envolvendo Airton Vieira, juiz instrutor do gabinete de Moraes, e Eduardo Tagliaferro, então chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em uma mensagem trocada entre os dois, Vieira teria sugerido a Tagliaferro que usasse sua "criatividade" para formalizar uma denúncia contra a revista Oeste. "Use a sua criatividade rsrsrs", teria escrito Vieira na ocasião. O ex-presidente apontou que essa suposta postura reforça sua visão de que há perseguição contra ele por parte do "sistema".
Para aliados de Bolsonaro, o indiciamento faz parte de uma campanha para desestabilizar o ex-presidente e impedir que ele dispute as eleições de 2026. Parlamentares da base bolsonarista criticaram a atuação do STF e da Polícia Federal, argumentando que as investigações carecem de fundamentação sólida. “Estão tentando de todas as formas criminalizar um homem que lutou pelo Brasil e que tem apoio de milhões de brasileiros. Isso é um absurdo”, disse um deputado próximo ao ex-presidente, sob condição de anonimato.
Por outro lado, analistas políticos avaliam que a situação jurídica de Bolsonaro se torna cada vez mais delicada. O indiciamento por suposto envolvimento em um planejamento de golpe de Estado é um marco grave, sobretudo em meio a outras investigações envolvendo o ex-presidente, como aquelas relacionadas à disseminação de notícias falsas e à gestão das joias sauditas. Para especialistas, o caso em questão pode ser decisivo para o futuro político de Bolsonaro.
Juristas também divergem sobre o tema. Enquanto alguns criticam o que consideram excessos na condução das investigações, outros defendem que as ações do STF e da Polícia Federal são necessárias para garantir a responsabilização de figuras públicas que possam ter violado a lei. Segundo o advogado constitucionalista Marcelo Andrade, “o indiciamento de um ex-presidente é sempre um evento extraordinário, mas, se há elementos suficientes, é uma demonstração de que ninguém está acima da lei”.
A base de apoio a Bolsonaro, que inclui milhões de seguidores nas redes sociais, tem se manifestado contra o indiciamento. Grupos conservadores organizam atos em defesa do ex-presidente, argumentando que ele está sendo alvo de perseguição política. Muitos veem a situação como parte de uma tentativa de retirá-lo da cena política e enfraquecer o movimento conservador no Brasil.
Em resposta, setores da oposição têm reafirmado a importância das investigações e cobrado maior celeridade na análise do caso. Para um líder da oposição, “o Brasil precisa de respostas. Não é possível que tentativas de desestabilizar a democracia fiquem sem punição. É hora de as instituições funcionarem com rigor”.
Enquanto o processo segue em tramitação, Bolsonaro continua utilizando suas redes sociais para mobilizar sua base e se posicionar contra as investigações. O caso agora será analisado pela PGR, que decidirá se arquiva o indiciamento ou se apresenta denúncia formal ao STF. Caso a denúncia seja aceita, o ex-presidente poderá responder ao processo judicial, que poderá culminar em uma possível condenação.
Esse novo capítulo na trajetória de Jair Bolsonaro acentua a polarização política no país, com reflexos significativos tanto no cenário jurídico quanto no debate público. A expectativa é que os próximos desdobramentos revelem mais detalhes sobre o indiciamento e os caminhos que o caso seguirá.