Uma revelação recente trouxe à tona dados que reacenderam o debate sobre a relação entre o governo federal e a Rede Globo. Jair Bolsonaro, ex-presidente, usou suas redes sociais para destacar os números envolvendo os repasses publicitários feitos à emissora nos dois primeiros anos do governo Lula, chamando a atenção para um aumento significativo em comparação com os valores registrados durante sua própria gestão. Segundo os dados, a Globo acumulou R$ 177,2 milhões em contratos de publicidade com a Secretaria de Comunicação (Secom) desde janeiro de 2023, superando o total de R$ 177 milhões repassado nos quatro anos de mandato de Bolsonaro.
Somente em 2024, a emissora recebeu R$ 87,2 milhões, valor que já ultrapassa o maior repasse anual feito durante a administração bolsonarista, registrado em 2022, com R$ 86,3 milhões. Este montante representa 53% de todo o gasto federal com publicidade nas principais emissoras do país entre janeiro e outubro deste ano. Bolsonaro, crítico declarado da Globo, não poupou palavras ao expor o que chamou de "maior segredo da relação" entre o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a emissora.
Em uma publicação na plataforma X (antigo Twitter), o ex-presidente comparou os números da era petista aos de seu governo, ironizando o contraste no tratamento dado à emissora. "Com ódio: Bolsonaro corta 60% da verba publicitária do governo à Globo. Terra (12ago20). Com amor: Sob Lula, Globo recebe mais da Secom do que em quatro anos de governo Bolsonaro. Veja (13nov24)", escreveu Bolsonaro. Em tom sarcástico, ele ainda alfinetou o governo atual e a emissora: "Dá pra entender a fome por democracia do único verdadeiro, fatídico e conhecido por todos, Gabinete do Ódio? Todo amor pela informação oriundo do aumento dos impostos de alimentos e das taxas das blusinhas incentivadas diariamente pelo 'pai dos pobres'."
A publicação repercutiu amplamente, dividindo opiniões. Enquanto apoiadores de Bolsonaro acusam Lula de usar os recursos públicos para "comprar a narrativa" da imprensa, defensores do atual governo argumentam que o aumento dos repasses reflete uma estratégia de comunicação mais abrangente e eficiente. Para eles, o investimento na mídia é uma forma legítima de ampliar o alcance das ações governamentais.
A Rede Globo, por sua vez, declarou em outras ocasiões que sua relação com o governo federal é estritamente institucional e baseada em critérios técnicos, como audiência e relevância nacional. Especialistas em comunicação pública afirmam que o aumento dos repasses pode estar ligado à mudança de estratégia do governo Lula, que prioriza grandes emissoras para atingir uma fatia maior da população.
O tema também levantou discussões sobre a transparência e a eficiência no uso dos recursos públicos. Críticos apontam que a concentração de gastos em uma única emissora pode gerar distorções no mercado publicitário e beneficiar desproporcionalmente um veículo de comunicação em detrimento de outros. Para eles, é necessário que os critérios de distribuição sejam mais claros e democráticos, garantindo que diferentes canais tenham acesso aos recursos.
Por outro lado, defensores do governo afirmam que os números refletem a realidade do mercado brasileiro, no qual a Globo mantém uma posição de liderança consolidada. Eles argumentam que não há irregularidade em destinar recursos proporcionais à audiência das emissoras, desde que os contratos sejam firmados de forma transparente e em conformidade com a legislação.
Bolsonaro, que durante seu governo foi acusado de reduzir drasticamente os repasses à Globo em retaliação às críticas recebidas pela emissora, usou os dados para reforçar sua narrativa de que sua gestão teria priorizado outros veículos de comunicação, incluindo mídias digitais e regionais. Ele também sugeriu que o aumento dos repasses à Globo sob Lula estaria alinhado a um suposto "pacto" entre o governo e a emissora, algo frequentemente mencionado por seus apoiadores.
Enquanto o embate entre as duas principais figuras políticas do país continua, a questão do uso de recursos públicos na publicidade governamental segue como um tema sensível e polêmico. Com a proximidade de um novo ano eleitoral, é provável que a discussão sobre a relação entre governo e mídia se intensifique ainda mais, tornando-se um dos focos do debate público.
A oposição no Congresso também promete apurar os números apresentados. Parlamentares aliados a Bolsonaro já anunciaram a intenção de solicitar explicações oficiais à Secom sobre os critérios adotados para a distribuição dos recursos. Eles defendem que é fundamental garantir que o dinheiro público seja utilizado de maneira justa e que os interesses da população sejam priorizados acima de quaisquer acordos políticos ou comerciais.
A nova revelação, somada à declaração de Bolsonaro, expõe novamente a tensão que marca a relação entre o governo Lula e o ex-presidente. Mais do que uma disputa de narrativas, a controvérsia sobre os repasses publicitários traz à tona questões relevantes sobre a gestão dos recursos públicos, a independência da mídia e o papel da comunicação no fortalecimento da democracia.