A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), autora de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que visa alterar a escala de trabalho de 6×1 para 4×3, foi alvo de questionamentos sobre o impacto econômico da proposta. A PEC propõe a implementação de uma semana de trabalho de quatro dias, uma medida que, segundo a parlamentar, buscaria reduzir o que considera ser uma sobrecarga excessiva nos trabalhadores brasileiros. No entanto, Hilton admitiu durante uma entrevista à GloboNews que não foram realizados estudos detalhados sobre os impactos econômicos e sociais que essa alteração na jornada de trabalho poderia acarretar.
A declaração de Hilton ocorreu na última segunda-feira (11), durante uma entrevista com o jornalista Gerson Camarotti. Na ocasião, Camarotti pressionou a deputada sobre a falta de dados concretos que embasem a viabilidade econômica da proposta. Ao citar o exemplo de uma farmácia, o jornalista questionou como empresas do setor de serviços, entre outros, poderiam absorver os custos adicionais de contratação para garantir que as operações não fossem interrompidas com a adoção da nova escala de trabalho.
“Deputada, a senhora tem um estudo sobre a viabilidade de quanto isso custaria, por exemplo, no encarecimento de medicamentos? Porque, de fato, teriam que colocar mais pessoas para manter aquela farmácia aberta. Isso tem custo. Qual foi o custo feito para a apresentação desse projeto?”, questionou Camarotti. Em resposta, Erika Hilton admitiu que não havia um estudo específico com respostas para essas questões. “Nós não temos um estudo tão específico como esse, dando respostas a essas questões”, disse a deputada.
A proposta de Hilton, apesar de ter ganhado apoio de setores da sociedade, tem sido amplamente debatida e criticada. A mudança na escala de trabalho para uma semana de quatro dias vem sendo defendida por alguns como uma solução para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, permitindo-lhes mais tempo para lazer, estudos e descanso. No entanto, o tema é controverso e não possui consenso, nem mesmo dentro da esquerda política brasileira. Alguns especialistas alertam que a medida poderia aumentar os custos operacionais das empresas, o que, em última instância, poderia levar a preços mais altos para os consumidores.
Após a entrevista, Gerson Camarotti aproveitou o espaço para aprofundar a análise sobre as possíveis consequências da proposta. Segundo ele, embora seja legítimo e compreensível que setores da sociedade almejem uma redução na jornada de trabalho, é essencial que os impactos de uma decisão dessa magnitude sejam cuidadosamente avaliados antes de sua implementação. O jornalista destacou que, enquanto alguns grupos da esquerda estão tentando dialogar com setores da sociedade que se afastaram politicamente nos últimos anos, a falta de consenso dentro do próprio campo progressista reflete a complexidade da proposta.
“É preciso se fazer um debate crítico sobre se essa medida é sustentável em um país como o Brasil. Não é uma pauta consensual nem dentro da esquerda”, afirmou Camarotti. Ele lembrou que as classes populares, incluindo eleitores na periferia de São Paulo, onde a esquerda sofreu recentes derrotas políticas, precisam de propostas viáveis que não coloquem em risco sua estabilidade financeira e acesso a bens de consumo essenciais. O jornalista concluiu que a medida exige racionalidade e cautela, especialmente porque, caso a proposta avance, o custo para adaptar o mercado de trabalho a essa nova realidade poderia acabar sendo repassado a toda a sociedade.
A PEC de Erika Hilton não é o primeiro projeto a propor mudanças na escala de trabalho, mas é uma das propostas recentes que mais repercutiu na mídia e nas redes sociais. A questão foi levantada por críticos e analistas que apontam que uma semana de quatro dias pode resultar em perda de produtividade e aumento de custos em vários setores, o que eventualmente poderia refletir na inflação. Alguns economistas têm apontado que, em setores com alto volume de trabalho contínuo, como o varejo e o setor de serviços, essa alteração pode exigir uma ampliação do quadro de funcionários, gerando custos adicionais que seriam insustentáveis para pequenos e médios empresários.
Além disso, a proposta tem provocado reações políticas. Diversos representantes e figuras públicas, incluindo o governador Romeu Zema (Novo-MG) e o deputado estadual Rodrigo Garcia, criticaram publicamente a ideia. Zema classificou o debate sobre a escala 6×1 como uma “perda de tempo”, enquanto Garcia afirmou que a PEC “ofende a racionalidade das pessoas”. Até mesmo parlamentares progressistas têm se dividido sobre o assunto, com a deputada Tabata Amaral (PSB-SP) sendo uma das poucas figuras proeminentes a apoiar a proposta, afirmando que é necessário buscar alternativas para garantir condições dignas aos trabalhadores sem sacrificar a economia.
Para aqueles que defendem a proposta de Hilton, a mudança na jornada de trabalho poderia trazer uma série de benefícios, como a redução do estresse e da exaustão dos trabalhadores, aumento da satisfação no trabalho e, potencialmente, melhoria na produtividade ao longo do tempo. No entanto, os opositores argumentam que, no Brasil, onde o mercado de trabalho ainda enfrenta desafios significativos, a implementação de uma semana de quatro dias sem um planejamento detalhado pode trazer mais prejuízos do que vantagens.
O debate sobre a escala de trabalho no Brasil continua gerando discussões acaloradas, e muitos analistas pedem uma análise mais profunda dos impactos econômicos antes que o tema avance no Congresso.