“Estou fora da vida pública”, diz Temer sobre ser vice de Bolsonaro


 O ex-presidente Michel Temer (MDB-SP) surpreendeu ao atender o telefone nesta quinta-feira (7) com uma pergunta inusitada: “Você vota em mim para vice-presidente?” A brincadeira, que aconteceu logo após ele atender ao telefone, parece uma resposta bem-humorada aos rumores que circularam nos últimos dias, que o colocam como possível vice numa chapa encabeçada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para as eleições de 2026. No entanto, Temer foi categórico ao afirmar que está “fora da vida pública” e não tem intenção de concorrer a cargos públicos.


A especulação surgiu após um blog publicar a possibilidade de Temer compor uma chapa com Bolsonaro para 2026, ideia que logo se espalhou. A hipótese ganhou força quando Bolsonaro sugeriu que Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, gostaria de ver sua inelegibilidade no Brasil revertida, permitindo que ele, Bolsonaro, pudesse se candidatar novamente ao cargo de presidente, e mencionou Temer como seu potencial vice.


Temer, no entanto, rejeita firmemente qualquer plano de retornar ao cenário eleitoral. Ele afirmou não ter interesse em qualquer cargo público, reforçando: “Estou fora da vida pública.” Ainda que os rumores persistam, Temer garantiu que nunca conversou sobre a questão com Bolsonaro e tampouco considera mudar de ideia. Para o ex-presidente, ele já contribuiu ao longo de sua carreira política e agora quer manter-se distante da vida política ativa.


A trajetória de Temer é extensa. Ao longo de mais de três décadas de vida pública, ele ocupou diversos cargos importantes, incluindo o de secretário de Segurança, presidente da Câmara dos Deputados, vice-presidente e presidente da República. Segundo ele, este longo histórico é mais do que suficiente. “Já fiz o que tinha que fazer ao longo de 32 anos”, declarou. Temer também aproveitou para esclarecer que as conversas com Bolsonaro acontecem raramente e sempre de forma informal. “Desde aquele episódio com o Alexandre [de Moraes, no qual Temer intermediou uma aproximação entre o ministro do STF e Bolsonaro após manifestações de teor golpista em 7 de setembro de 2021], o Bolsonaro me pede palpites de vez em quando. Mas é só isso, não passa de uma conversa eventual”, explicou.


Embora Michel Temer esteja afastado da política formal, ele ainda se mantém atento ao cenário político e mantém alguns diálogos com figuras importantes, inclusive Bolsonaro, com quem preserva uma relação respeitosa, mas sem compromissos ou promessas políticas. Esse afastamento, segundo o ex-presidente, é uma escolha consciente após ter exercido papéis significativos na política nacional. Temer não vê necessidade de um retorno e acredita que seu tempo nesse meio já cumpriu o papel necessário.


O cenário eleitoral de 2026 no Brasil, entretanto, continua incerto. A possível candidatura de Bolsonaro ainda depende da reversão de sua inelegibilidade, determinada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que impede o ex-presidente de se candidatar até 2030. Com a vitória de Donald Trump nas eleições americanas, surgiram especulações de que a situação de Bolsonaro poderia mudar, especialmente pelo apoio de figuras políticas alinhadas com Trump, e muitos especulam sobre qual impacto isso poderia ter para o ex-presidente brasileiro. Bolsonaro, que mantém grande influência entre seus seguidores e uma base fiel, acredita que a aproximação com Trump poderia ajudá-lo a consolidar uma possível reviravolta política.


Ainda assim, Michel Temer parece se manter firme em sua decisão de não retornar à política, deixando claro que, embora o contato com Bolsonaro aconteça ocasionalmente, essa relação não implica compromisso de apoio ou planos de chapa. Com seu habitual tom sereno e postura diplomática, Temer reafirma que o interesse atual está longe do retorno a cargos públicos.


Para os aliados de Bolsonaro e demais políticos do campo conservador, a busca por um vice que agregue estabilidade e experiência continua. O nome de Temer parece ter surgido pelo histórico de moderação e habilidade política que ele apresentou ao longo de sua carreira. Na presidência, Temer foi marcado por uma postura conciliadora e pelo esforço em amenizar conflitos, como no caso da intervenção para aproximar Bolsonaro e Alexandre de Moraes, na época uma ação que gerou repercussão positiva entre aqueles que buscavam estabilidade institucional.


A repercussão da negativa de Temer à ideia de ser vice de Bolsonaro parece indicar que ele não deseja qualquer retorno ao cenário político, consolidando sua imagem como ex-presidente que se retirou de forma definitiva. Enquanto isso, Bolsonaro e seu grupo político ainda têm tempo para definir os próximos passos, considerando os entraves jurídicos e as alianças que poderão moldar a disputa em 2026.


A posição de Temer, no entanto, serve como um lembrete de que a política nacional ainda está cheia de figuras experientes que, mesmo fora dos cargos oficiais, possuem a capacidade de influenciar os rumos do país, direta ou indiretamente. O ex-presidente, ao menos por ora, mantém-se como observador, longe do desejo de assumir novos desafios eleitorais e comprometido apenas em aconselhar, eventualmente, as novas lideranças do cenário político.
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