Na noite desta segunda-feira, 4 de novembro de 2024, a humorista e apresentadora Tatá Werneck utilizou seu programa Lady Night, exibido no canal Multishow, para fazer críticas diretas à linha atual de programação da Rede Globo. Conhecida por seu humor ácido e por não ter papas na língua, Tatá aproveitou a conversa com a atriz Débora Falabella para questionar a repetição de temáticas e remakes nas novelas da emissora, o que gerou burburinho nas redes sociais e nos bastidores do canal. Com declarações que podem ter tocado em um ponto sensível para a emissora, a apresentadora lançou comentários que soaram como uma crítica explícita à falta de inovação e ao excesso de remakes e tramas rurais na grade da Globo.
No episódio, Tatá brincou com a popularidade de novelas como Terra e Paixão, além dos remakes recentes de Pantanal e Renascer, sugerindo que todas essas produções eram "iguais" e insinuando, de forma cômica, que a emissora estaria economizando ao reusar antigos sucessos. Em um dos momentos mais comentados da entrevista, a apresentadora, imitando sarcasticamente um possível diretor da Globo, disparou: "Você que aguente meu remake, pois não temos verba para contratar os atores demitidos." A frase soou como uma referência direta ao corte de orçamento que a emissora tem realizado nos últimos anos, o que acabou levando à dispensa de nomes consagrados do seu elenco fixo.
A crítica feita por Tatá Werneck vai ao encontro de uma insatisfação que parte do público também tem manifestado. Desde o sucesso do remake de Pantanal, em 2022, a Globo intensificou a aposta em narrativas rurais e em refilmagens de sucessos antigos. No entanto, a fórmula não tem garantido os mesmos resultados nas audiências subsequentes. Com Terra e Paixão e o remake de Renascer, por exemplo, a emissora tentou resgatar o sucesso de Pantanal, mas os números de audiência indicam que o público não tem respondido da mesma forma. A comparação entre as três tramas é inevitável, pois todas exploram cenários rurais e dramas familiares intensos, características que, apesar de marcantes, parecem estar começando a saturar a audiência.
Outro ponto destacado por Tatá indiretamente é a crise de inovação na emissora. Nos últimos anos, a Globo tem enfrentado dificuldades para emplacar novas histórias contemporâneas que ressoem com o público. O exemplo de Travessia, novela exibida em 2022, é emblemático: a trama, que buscava explorar a questão da internet e das redes sociais, acabou sendo considerada um fracasso em termos de audiência, mesmo contando com um elenco estrelado. A novela atual, Mania de Você, também enfrenta problemas para atrair espectadores no horário nobre, com índices aquém do esperado.
As declarações de Tatá Werneck não foram recebidas de maneira leve nos bastidores da Globo. Fontes próximas à emissora indicam que alguns diretores ficaram incomodados com as insinuações da apresentadora, especialmente pelo fato de suas críticas terem sido feitas em um programa que, embora seja transmitido pelo canal Multishow, pertence ao grupo Globo. Lady Night é conhecido pelo tom descontraído e por permitir que Tatá faça piadas sobre diversos assuntos, inclusive sobre a própria emissora, mas essa liberdade de expressão sempre teve seus limites. Ao tocar no tema da programação e na questão orçamentária, Tatá pode ter extrapolado a linha de permissividade que os executivos da emissora mantêm para o humor dentro da casa.
A crítica da apresentadora também reflete uma questão estrutural do mercado televisivo brasileiro, que está em transformação. As novelas, por décadas, foram o carro-chefe das emissoras, especialmente da Globo, que é referência no formato tanto no Brasil quanto no exterior. No entanto, com o avanço das plataformas de streaming e com a mudança nos hábitos de consumo de entretenimento, a tradicional novela diária tem enfrentado novos desafios para manter sua relevância. As opções diversificadas de conteúdo e a preferência crescente por séries de curta duração e narrativas mais compactas fazem com que o público exija maior variedade e inovação.
Tatá Werneck, sendo uma das maiores estrelas da comédia nacional, parece ter se tornado uma porta-voz das inquietações não apenas do público, mas também de artistas e profissionais do setor. A sensação de que a Globo se apoia excessivamente em fórmulas e conceitos já testados não é uma reclamação nova. A falta de renovação, segundo alguns críticos, pode levar ao esgotamento da fórmula, afastando o público jovem e impondo um obstáculo ao futuro das produções nacionais. Essa dependência de histórias e fórmulas consagradas revela uma preocupação com a audiência e a estabilidade financeira, mas ao mesmo tempo expõe uma carência de apostas ousadas.
Ainda é cedo para saber se as declarações de Tatá Werneck terão algum impacto direto na sua posição na Globo ou se a emissora tomará alguma medida em relação a seus comentários. Contudo, a atitude da apresentadora chama atenção para o fato de que mesmo personalidades renomadas da casa, como Tatá, sentem-se à vontade para questionar as decisões artísticas da emissora em público, ainda que de forma humorada. Isso pode indicar que há uma maior abertura para diálogo e para a autocrítica dentro da Globo ou, por outro lado, um descontentamento latente que, vez ou outra, transborda em comentários como o de Tatá Werneck.
No final das contas, a humorista apenas expressou, em tom de piada, o que muitos espectadores já vinham comentando: a Globo precisa inovar e diversificar suas produções para atrair a atenção de um público cada vez mais exigente e que dispõe de inúmeras opções de entretenimento.