Em 2024, a Globo parece estar repetindo um erro de quase quatro décadas atrás, ao rejeitar "Romaria", um novo projeto de novela apresentado pelo renomado diretor Jayme Monjardim. A decisão da emissora reacende uma questão antiga sobre a abertura da Globo a histórias clássicas e dramas familiares, típicos da tradição das novelas brasileiras. Monjardim, conhecido por seu estilo emotivo e sensível, já havia enfrentado uma negativa parecida nos anos 1980, quando a emissora recusou a produção de "Pantanal", uma trama sobre o coração do Brasil que acabaria se tornando um dos maiores sucessos da TV Manchete. A novela, inicialmente rejeitada, conquistou o público brasileiro com sua abordagem diferenciada, elementos regionais e uma história de amor e mistério que cativou milhões de telespectadores. Mais de 30 anos depois, reconhecendo o impacto cultural e o erro de ter recusado a novela, a Globo produziu um remake de "Pantanal" em 2022, que provou ser um sucesso absoluto no horário nobre e registrou altos índices de audiência.
Agora, com "Romaria", Monjardim apresenta uma nova história repleta de dramas familiares e laços emocionais, elementos que já se provaram eficazes em cativar o público brasileiro. A trama gira em torno de sete irmãos que se reúnem após a morte dos pais, anos depois de um afastamento significativo. O reencontro ocorre durante uma romaria em homenagem a Nossa Senhora Aparecida, que serve de pano de fundo para uma história sobre reconciliação, fé e o resgate dos laços familiares. A ideia de Monjardim é tocar em questões profundas, trazendo à tona temas como perdão, espiritualidade e o sentido de família em uma sociedade cada vez mais fragmentada. No entanto, para a surpresa de muitos, a Globo optou por recusar a novela, citando dificuldades na produção e uma mudança na estratégia de programação, que atualmente busca explorar formatos e temas mais modernos e próximos de seu público evangélico.
Essa decisão da Globo em não seguir com "Romaria" gerou discussões nos bastidores e entre especialistas em dramaturgia. Para muitos críticos e analistas, a escolha reflete uma crise de identidade na linha de produção da emissora. Nos últimos anos, a Globo tem investido em novas abordagens e temas mais contemporâneos, buscando uma atualização que dialogue com os tempos atuais. Contudo, ao fazer isso, a emissora corre o risco de se distanciar de uma parte significativa de seu público, que ainda se encanta com as novelas tradicionais e histórias que exploram o Brasil profundo, como é o caso de "Romaria". Alguns apontam que a emissora tem se distanciado de sua tradição ao tentar abraçar novas narrativas, enquanto outros ressaltam que essa transição é necessária para a emissora se manter relevante.
Frustrado com a rejeição, Jayme Monjardim decidiu buscar outras opções e levou o projeto "Romaria" para a Band, onde encontrou interesse e disposição para viabilizar a produção. Em parceria com a Putz Creators, produtora ligada à emissora, Monjardim está desenvolvendo o folhetim e espera lançá-lo no segundo semestre de 2025. A história, que combina elementos de fé, devoção e drama familiar, tem um forte apelo emocional e promete resgatar a essência das novelas clássicas. A proposta de "Romaria" também encontra ressonância na Band, que vem explorando novas produções nacionais e busca competir em um mercado onde a Globo ainda lidera.
A temática católica de "Romaria" também é um ponto que pode atrair o público, mas que, ao mesmo tempo, se mostrou um obstáculo na Globo. A emissora tem direcionado seus projetos para atrair o público evangélico, uma fatia significativa da audiência brasileira. No entanto, essa escolha deixou uma lacuna na representação de histórias voltadas para a tradição católica, que ainda possui um forte apelo emocional e cultural. Para Monjardim, a inclusão da devoção à Nossa Senhora Aparecida é um elemento essencial da história, que enriquece a narrativa e aproxima o folhetim de questões caras ao público tradicional.
Enquanto a Globo avança em sua estratégia de renovação, folhetins mais convencionais continuam a mostrar força no gosto popular. Prova disso são os altos índices de audiência de "Alma Gêmea", novela reprisada no canal Viva, e o sucesso de produções internacionais, como "Força de Mulher", que vêm ganhando espaço na concorrência. A busca por inovação, embora compreensível, corre o risco de isolar a emissora de uma parcela do público que aprecia novelas com a essência dramática e narrativa da velha guarda. Especialistas acreditam que "Romaria", com seu tom familiar e de resgate emocional, pode conquistar telespectadores que sentem falta desse tipo de história na TV aberta.
Apesar do entusiasmo da Band, a produção de "Romaria" ainda enfrenta desafios. A viabilização do projeto depende de patrocínios e parcerias estratégicas que garantam o orçamento necessário para a produção. Com o apoio da Band e da Putz Creators, a trama deve encontrar o respaldo que precisa para ser lançada no próximo ano. Para Jayme Monjardim e para muitos que acompanham a novela brasileira, "Romaria" representa mais do que uma história de família. É uma tentativa de resgatar a tradição, as emoções e a profundidade das narrativas que marcaram gerações. Se a Band conseguir transformar "Romaria" em um sucesso, a decisão da Globo de rejeitar o projeto poderá ser vista como mais um erro histórico, semelhante ao que aconteceu com "Pantanal".