A Rede Globo enfrentou um fim de semana de resultados alarmantes em termos de audiência, marcando números que entraram para a história como os piores do ano de 2024. No sábado, 23 de novembro, a emissora registrou uma média de apenas 8,7 pontos na Grande São Paulo, igualando o índice alcançado em 11 de setembro, data que ficou marcada por um apagão que prejudicou a audiência devido à interrupção de energia em diversas regiões. O desempenho medíocre do sábado colocou a Globo em uma posição desconfortável, evidenciando um cenário de desgaste contínuo no que já foi um domínio absoluto da televisão brasileira.
O domingo, tradicionalmente um dia de maior audiência para a emissora, também trouxe números preocupantes. O programa “Fantástico”, que durante décadas foi um dos carros-chefes da programação dominical, sofreu uma queda expressiva e registrou apenas 13,7 pontos de média na Grande São Paulo. Esse desempenho, um dos mais baixos de sua história em condições normais, revelou que nem mesmo o tradicional "show da vida" conseguiu escapar da crise que parece rondar a emissora. O programa foi superado por outros eventos do dia, como a transmissão do jogo entre Corinthians e Vasco, que alcançou 16,6 pontos, destacando o apelo contínuo do futebol, mesmo em uma temporada que não trouxe grandes surpresas no esporte.
Esses números são especialmente preocupantes para a Globo, pois São Paulo é considerada a principal praça de medição de audiência no país. Historicamente, o desempenho na Grande São Paulo é utilizado como um termômetro para a força de uma emissora, influenciando também o mercado publicitário. A queda acentuada no fim de semana reflete um momento de instabilidade e suscita debates sobre o futuro da Globo em um ambiente de consumo de mídia cada vez mais fragmentado e dominado pelo crescimento das plataformas de streaming e redes sociais.
Os índices baixos registrados no sábado e domingo foram interpretados como um reflexo direto da dificuldade da emissora em renovar sua programação e reconquistar o público. A aposta em produções que, para muitos, já não dialogam com os interesses da audiência, somada à forte concorrência de outros meios de entretenimento, parece estar cobrando um preço alto. Analistas também destacam que o público, hoje mais exigente e com múltiplas opções à disposição, tem optado por conteúdos que ofereçam maior interação ou que reflitam melhor suas demandas culturais e sociais.
O desempenho do "Fantástico" no domingo chama ainda mais atenção por ser um programa que tradicionalmente concentra grande parte do investimento da emissora, tanto em produção quanto em divulgação. A queda histórica de audiência, mesmo sem fatores externos como apagões ou eventos extraordinários, levanta questionamentos sobre o desgaste do formato e a eficácia de suas estratégias editoriais. As tentativas recentes de modernização do programa, como novas vinhetas, mudanças no formato de apresentação e investimento em reportagens investigativas, parecem não ter sido suficientes para reverter a tendência de queda.
Por outro lado, a audiência do futebol, que superou o "Fantástico" no domingo, reforça a importância do esporte para manter a relevância da emissora. O jogo entre Corinthians e Vasco, ainda que não fosse uma final de campeonato ou uma partida decisiva, conseguiu mobilizar mais espectadores e garantir picos de audiência superiores ao programa dominical. Isso sugere que, em meio à crise de audiência, o futebol segue como um dos poucos pilares estáveis da Globo, capaz de atrair diferentes faixas de público e manter o interesse em sua programação.
Os resultados deste fim de semana não são um evento isolado, mas parte de um cenário mais amplo de declínio na audiência da televisão aberta no Brasil. Com o avanço do streaming e a mudança nos hábitos de consumo de entretenimento, a Globo e outras emissoras têm enfrentado dificuldades para se adaptar e competir com plataformas como Netflix, Amazon Prime Video e YouTube, que oferecem conteúdos sob demanda e personalizados. Esse desafio é ainda maior para a Globo, que sempre foi líder de mercado e agora precisa reinventar sua identidade enquanto tenta reconquistar uma audiência que se dispersou.
A crise de audiência da Globo levanta discussões sobre o futuro da televisão aberta no Brasil e o papel das emissoras tradicionais em um cenário dominado pela digitalização. Apesar dos esforços para expandir sua presença no ambiente digital, como o investimento no Globoplay, a emissora ainda enfrenta o desafio de equilibrar a transição para novos formatos sem perder o público fiel da TV aberta.
Os próximos meses serão decisivos para a Rede Globo, que precisará reagir rapidamente para evitar que a tendência de queda se consolide. O desempenho de sua programação de final de ano, incluindo especiais tradicionais como o "Show da Virada", será um termômetro importante para medir sua capacidade de recuperação. Enquanto isso, a emissora se vê diante de um dilema: como manter sua relevância em um mercado em constante transformação, onde a fidelidade à programação tradicional parece cada vez mais uma lembrança do passado.