A relação entre a primeira-dama Rosângela Silva, conhecida como Janja, e o núcleo político do governo de Luiz Inácio Lula da Silva tem sido alvo de intensos debates e controvérsias, com impactos que parecem ressoar para além das esferas privadas do casal presidencial. A mais recente polêmica envolve um print vazado no qual Luis Claudio Lula da Silva, um dos filhos do presidente, teria usado uma palavra ofensiva para se referir a Janja. Embora a autenticidade do conteúdo ainda esteja sob investigação, o episódio reacendeu as tensões sobre o papel da primeira-dama no governo e seus reflexos na dinâmica interna do Partido dos Trabalhadores (PT).
Desde o início do terceiro mandato de Lula, Janja assumiu um protagonismo inédito para uma primeira-dama brasileira. Atuante e opinativa, ela rapidamente se destacou como uma figura influente no governo, despertando tanto elogios quanto críticas dentro e fora do PT. No entanto, o que alguns veem como um reforço necessário para a agenda progressista de Lula, outros interpretam como interferência desmedida. Essa percepção ganhou corpo em declarações recentes de Ciro Gomes, ex-ministro e adversário político, que classificou o fenômeno como “Janjismo” e o apontou como um entrave ao funcionamento eficiente do governo.
Ciro Gomes foi direto ao afirmar que a influência de Janja estaria atrapalhando a governabilidade e causando desentendimentos em momentos cruciais. Para ele, a postura assertiva da primeira-dama contrasta com o estilo conciliador que marcou os mandatos anteriores de Lula. Segundo analistas políticos ouvidos pela Edição da Verdade, o “efeito Janja” tem, de fato, gerado fraturas internas no PT, com lideranças preocupadas com o impacto de sua atuação nas articulações políticas e na imagem do governo.
As críticas vão desde o envolvimento da primeira-dama em decisões de agenda até sua presença constante em eventos políticos e diplomáticos. Fontes do partido apontam que Janja, ao buscar imprimir sua visão de mundo em projetos do governo, muitas vezes atravessa limites que anteriormente eram respeitados por ocupantes do cargo de primeira-dama. Para alguns, isso reflete sua disposição de quebrar padrões e trazer um tom mais contemporâneo e feminista ao papel; para outros, representa uma quebra de protocolos que desgasta a autoridade do presidente.
O caso do suposto print vazado, ainda que não confirmado, revela também uma tensão latente na relação entre Janja e os filhos de Lula, especialmente Luis Claudio. A proximidade do presidente com a primeira-dama teria gerado desconforto em certos círculos familiares e políticos, alimentando rumores sobre disputas de bastidores. Embora a família presidencial tenha preferido não se manifestar oficialmente sobre o episódio, aliados próximos indicam que o foco está em proteger a imagem de Lula em um momento sensível para seu governo.
Dentro do PT, o clima é de divisão. Enquanto uma ala mais progressista do partido enxerga em Janja uma aliada estratégica na promoção de pautas sociais, setores mais conservadores temem que seu protagonismo prejudique a tradicional habilidade de Lula em costurar alianças amplas e pragmáticas. Esse dilema se reflete também no eleitorado, com parte da base aliada vendo Janja como uma figura inspiradora, enquanto outra parte avalia sua atuação como desnecessariamente polêmica.
Além das críticas internas, Janja também tem enfrentado resistência por parte da oposição, que não perde oportunidades para explorar sua figura como um ponto frágil do governo. Deputados e senadores oposicionistas têm utilizado redes sociais e tribunas parlamentares para reforçar a narrativa de que a atuação da primeira-dama desestabiliza o Palácio do Planalto. A estratégia busca minar a confiança popular no governo ao atribuir a ela uma parcela de culpa pelos desafios enfrentados pela administração Lula.
Apesar das polêmicas, a relação de Lula e Janja permanece sólida publicamente. O presidente tem defendido sua esposa de ataques e reforçado seu papel como uma parceira nas questões políticas e sociais. Em eventos recentes, ele elogiou sua dedicação às causas femininas e ao combate à desigualdade, destacando que sua participação ativa é parte de um projeto de governo que busca modernizar o país.
No entanto, a dúvida persiste: até que ponto o protagonismo de Janja é benéfico para o governo? Para analistas, a resposta depende da capacidade do presidente de administrar as expectativas em torno de sua figura e de lidar com os conflitos que surgem tanto no âmbito pessoal quanto no político. Enquanto isso, o “Janjismo” segue como tema central de discussões que prometem marcar os próximos capítulos do governo Lula.