Mauro Cid é o "alvo" da vez...


 A Polícia Federal (PF) encaminhou ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, a íntegra do depoimento prestado pelo tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. O documento destaca trechos em que os investigadores identificaram possíveis omissões ou contradições nas respostas de Cid, especialmente em relação ao suposto plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o próprio Moraes. Os fatos em questão estão sob investigação no âmbito da Operação Contragolpe, que resultou na prisão de cinco militares suspeitos de arquitetar a trama.


O depoimento de Mauro Cid foi prestado após sua assinatura de um acordo de delação premiada no ano passado. O tenente-coronel se comprometeu a colaborar com as investigações, revelando informações sobre possíveis irregularidades e atividades criminosas que presenciou ou teve conhecimento durante o governo Bolsonaro. No entanto, os investigadores apontam que sua colaboração tem gerado mais dúvidas do que esclarecimentos. No relatório entregue ao STF, a PF menciona que os indícios levantados até o momento não foram suficientes para corroborar as acusações envolvendo o plano, mesmo com a participação ativa de Cid em uma reunião realizada na casa do general Braga Netto, em Brasília, no dia 12 de novembro de 2022.


A reunião mencionada foi um dos principais pontos investigados pela Operação Contragolpe, que foi deflagrada em meio às tensões políticas que marcaram o período pós-eleitoral. A casa de Braga Netto, ex-ministro da Defesa e figura próxima a Bolsonaro, teria sido palco de discussões sobre possíveis ações para desestabilizar o governo eleito. Embora a PF considere o encontro um indicativo de articulações suspeitas, as declarações de Mauro Cid não forneceram elementos suficientes para avançar de forma decisiva na apuração. A PF relatou dificuldades em obter informações consistentes, apontando que o ex-ajudante de ordens apresentou versões conflitantes durante os depoimentos.


Além das contradições, o histórico de Mauro Cid tem gerado questionamentos sobre a credibilidade de sua delação. Em março deste ano, ele foi preso novamente por descumprir medidas cautelares impostas pela Justiça e por tentativa de obstrução do processo investigativo. O episódio ocorreu após o vazamento de áudios em que Cid criticava abertamente a atuação de Alexandre de Moraes como relator do caso. Nos áudios, o tenente-coronel também afirmou ter sido pressionado pela PF a delatar episódios que não presenciou ou que sequer teriam ocorrido. Essas declarações reforçaram a percepção de que sua colaboração pode estar sendo conduzida sob forte conflito de interesses.


O ministro Alexandre de Moraes, que centraliza as investigações relacionadas aos atos antidemocráticos e às possíveis articulações criminosas ocorridas durante o governo Bolsonaro, tem mantido postura rigorosa no caso. Moraes já determinou diversas diligências e medidas cautelares para garantir o avanço das apurações, incluindo a prisão preventiva de militares envolvidos e o acesso a documentos sigilosos. A inclusão de Mauro Cid no centro das investigações reforça a complexidade do caso, que mistura disputas políticas, suspeitas de conspiração e um contexto de desconfiança mútua entre os investigados e as autoridades.


A Operação Contragolpe, que segue em curso, trouxe à tona a existência de um grupo de militares que, segundo a PF, buscava ativamente formas de impedir a posse de Lula ou desestabilizar seu governo. Apesar do impacto inicial das prisões e da revelação dos supostos planos, a investigação tem enfrentado dificuldades para consolidar provas materiais que sustentem as acusações mais graves. A reunião na casa de Braga Netto é vista como um dos poucos momentos documentados que indicam algum nível de organização entre os envolvidos, mas os depoimentos, como o de Mauro Cid, têm sido insuficientes para configurar a materialidade do plano.


Entre os desafios encontrados pela Polícia Federal está a resistência dos investigados em fornecer informações claras e objetivas. Mauro Cid, embora tenha aceitado o acordo de delação, permanece sob constante escrutínio devido ao seu histórico de desobediência às determinações judiciais. Seu depoimento ao STF e os trechos destacados pela PF indicam que a investigação ainda precisa superar barreiras para consolidar as denúncias. A ausência de provas mais contundentes e as alegações de pressão por parte dos delatores contribuem para o clima de incerteza sobre o desfecho do caso.


Enquanto isso, o caso segue movimentando os bastidores políticos e jurídicos em Brasília. A atuação de Alexandre de Moraes continua sendo alvo de críticas e elogios, dependendo do espectro político. Para a Polícia Federal, o foco permanece na obtenção de evidências que possam comprovar ou descartar definitivamente a existência do plano contra Lula, Alckmin e Moraes. O envolvimento de figuras de destaque, como Mauro Cid e Braga Netto, reforça a importância do caso para a compreensão dos desdobramentos políticos do período pós-eleitoral no Brasil. As próximas etapas da Operação Contragolpe serão cruciais para definir o rumo das investigações e a responsabilidade dos envolvidos.

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