Mendonça e Nunes Marques aguardam o momento certo para agir e brilhar...

Gustavo Mendex


Nos últimos meses, Kassio Nunes Marques e André Mendonça, ministros indicados ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, têm enfrentado críticas vindas de apoiadores do próprio Bolsonaro e de setores conservadores. As acusações giram em torno de uma suposta passividade diante de decisões polêmicas encabeçadas pelo ministro Alexandre de Moraes e de outros integrantes do tribunal. Contudo, uma análise mais profunda revela que a atuação dos dois ministros pode estar baseada em uma estratégia a longo prazo, que visa evitar conflitos desnecessários no momento presente, enquanto prepara terreno para ações mais impactantes no futuro.


O STF é composto por onze ministros, sendo a maioria deles indicados por governos de perfil progressista. Com apenas dois representantes claramente alinhados a pautas conservadoras, seria praticamente impossível vencer votações de maneira sistemática ao adotar uma postura abertamente confrontadora. Nunes Marques e Mendonça, cientes dessa desvantagem numérica, têm optado por uma estratégia que mistura alinhamento tático com decisões pontuais que refletem suas convicções ideológicas.


Os críticos frequentemente apontam que, ao acompanharem votos considerados "contrários" aos interesses conservadores, os dois ministros estariam se rendendo à pressão do tribunal. No entanto, essa visão ignora as limitações estruturais da atual composição do STF. Enfrentar diretamente a maioria seria perder por 9 a 2 de forma constante, algo que enfraqueceria ainda mais suas posições dentro da Corte. Em vez disso, os ministros têm adotado uma postura que lhes permite manter influência e credibilidade entre os colegas, enquanto aguardam momentos mais propícios para defender suas pautas.


Essa estratégia fica evidente nas decisões de menor visibilidade, principalmente nas turmas do STF, onde os ministros têm mais liberdade para articular e aprovar pautas menos polêmicas, mas com grande impacto a longo prazo. Nesses casos, Nunes Marques e Mendonça têm trabalhado para consolidar jurisprudências que refletem valores mais próximos aos defendidos por suas indicações. Ao evitar disputas públicas e embates diretos em temas de alta polarização, eles conseguem agir de forma mais eficaz em questões técnicas e institucionais que podem moldar o futuro jurídico do país.


A atuação de Nunes Marques e Mendonça também pode ser compreendida sob o prisma do tempo político. Grandes mudanças, especialmente no âmbito do Judiciário, não acontecem da noite para o dia. Assim como ministros de governos anteriores tiveram tempo e espaço para consolidar suas visões, os indicados de Bolsonaro parecem apostar em uma estratégia de paciência, acumulando força e credibilidade para, no momento certo, posicionarem-se de forma mais assertiva.


É importante destacar que decisões judiciais muitas vezes exigem negociações e concessões. No STF, os ministros não votam isoladamente; suas decisões estão sujeitas ao debate e à construção de consenso. Ao endossar algumas posições majoritárias, Nunes Marques e Mendonça podem estar garantindo maior abertura para pautas que consideram essenciais, ao mesmo tempo em que evitam o isolamento dentro da Corte.


Essa estratégia também evita que ambos sejam marginalizados pela opinião pública mais progressista, que tende a enxergar com desconfiança qualquer postura abertamente ideológica no tribunal. Ao se posicionarem de forma moderada, Kassio Nunes Marques e André Mendonça podem estar buscando preservar sua legitimidade perante diferentes segmentos da sociedade, incluindo aqueles que, a princípio, se opõem a suas indicações.


Os apoiadores mais críticos, por outro lado, precisam entender que o Supremo Tribunal Federal é uma instituição complexa, onde decisões são tomadas a partir de dinâmicas internas que nem sempre estão claras para o público externo. Resistir às pressões imediatas e agir com paciência não significa abandonar princípios, mas sim adotar uma abordagem mais pragmática diante de uma conjuntura desfavorável.


Além disso, os dois ministros ainda têm pela frente anos de atuação no tribunal, o que lhes dá tempo suficiente para consolidar sua marca no Judiciário brasileiro. Como em qualquer estratégia de longo prazo, a paciência é uma virtude essencial. É possível que o momento de maior protagonismo de Nunes Marques e Mendonça esteja se aproximando, especialmente diante das tensões políticas e sociais que o Brasil vive.


Seja por articulação nos bastidores ou pela adoção de posturas mais assertivas no futuro, Kassio Nunes Marques e André Mendonça podem vir a desempenhar um papel central em decisões cruciais para o país. Para isso, é necessário que tanto seus críticos quanto seus apoiadores compreendam o cenário em que estão inseridos e tenham confiança de que suas escolhas presentes visam resultados que podem beneficiar o Brasil a longo prazo.


Ainda que não estejam no centro dos holofotes neste momento, os dois ministros indicados por Bolsonaro têm adotado uma postura que pode surpreender no futuro. A paciência, aliada à estratégia, pode ser a chave para que, no momento certo, Kassio Nunes Marques e André Mendonça brilhem, defendendo os valores e princípios que os levaram ao STF. Talvez esse momento não esteja tão distante quanto parece.
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