A recente vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos gerou uma onda de repercussões políticas no Brasil, especialmente entre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Embora o resultado eleitoral tenha sido acompanhado de perto por diversos grupos ao redor do mundo, a presença do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) na apuração dos votos, na Flórida, deixou alguns integrantes da mais alta corte brasileira com o que muitos chamaram de "pulga atrás da orelha".
Segundo o jornalista Paulo Cappelli, ministros do STF discutiram, em tom de brincadeira, quem entre eles poderia ser o primeiro a ter o visto revogado pelo governo Trump. Apesar do caráter leve e descontraído, a presença de Eduardo Bolsonaro entre o círculo de apoiadores de Trump trouxe um tom de apreensão. A proximidade do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro com o atual presidente norte-americano sugere uma possível conexão que pode se intensificar nos próximos anos, ainda mais em questões que envolvem decisões sensíveis do Supremo.
Para os ministros do STF, a presença de Eduardo Bolsonaro ao lado de Trump pode indicar uma potencial intenção de estreitar relações entre o clã Bolsonaro e a nova administração americana, sobretudo no campo ideológico e político. A avaliação nos bastidores é de que tal proximidade pode ser usada para influenciar ações que afetem diretamente o Supremo, como sanções ou restrições de viagens para membros da corte.
Um exemplo prático que preocupa os ministros é um projeto de lei, já em tramitação nos Estados Unidos, que propõe a restrição de entrada de certos magistrados brasileiros em território americano. A proposta, apresentada por parlamentares do Partido Republicano, alinhado a Trump, tem como objetivo barrar autoridades estrangeiras consideradas "inimigas da liberdade de expressão". No Brasil, a medida poderia ser aplicada a ministros do STF, como Alexandre de Moraes, que no passado determinou o bloqueio do X (antigo Twitter) em um caso polêmico que envolveu questões de segurança nacional e disseminação de fake news.
A decisão de Moraes foi amplamente criticada por republicanos americanos, que consideram as ações de censura como violações à liberdade de expressão. Assim, com a volta de Trump à presidência, o projeto de restrição de viagens de ministros do STF pode ganhar força e vir a ser aprovado, criando uma tensão diplomática sem precedentes entre o Brasil e os Estados Unidos.
A reaproximação do governo americano com o clã Bolsonaro também levanta questões sobre uma possível cooperação em outras frentes, como a troca de informações de inteligência e segurança, o que poderia impactar investigações e processos em curso no Brasil. Tal cenário gera preocupações nos bastidores da política brasileira, pois Trump e Bolsonaro compartilham de ideais políticos similares, ambos promovendo políticas conservadoras e assumindo posturas críticas em relação à imprensa e às instituições judiciais.
Os ministros do STF avaliam que a vitória de Trump pode aumentar a pressão sobre o Supremo em temas como liberdade de expressão, atuação de plataformas de mídias sociais e combate às fake news. Os republicanos americanos, inspirados pela postura crítica de Trump em relação à imprensa, podem buscar limitar a atuação de magistrados que, em sua visão, aplicam decisões que violam direitos fundamentais, como a liberdade de expressão. Este movimento poderia ser visto como uma represália aos ministros que tomaram medidas duras para conter a desinformação nas redes sociais.
Para além das medidas diplomáticas e de possíveis sanções, a preocupação do STF com a reeleição de Trump vai além de suas próprias condições de entrada nos Estados Unidos. A influência ideológica do novo presidente americano pode encorajar, segundo analistas, setores da sociedade brasileira e até parlamentares a questionarem decisões judiciais e a promoverem legislações que limitem a independência do Judiciário.
A influência americana em políticas de outros países é histórica, especialmente quando há alinhamento ideológico entre governantes. No caso de Bolsonaro, Trump representa um modelo de liderança que desafiou normas estabelecidas e tomou decisões que colocaram a Suprema Corte dos EUA sob intensa pressão. Assim, o STF teme que o Brasil possa assistir a movimentos similares nos próximos anos, com a escalada de retóricas e medidas legislativas que busquem enfraquecer o poder Judiciário em benefício de uma narrativa de "liberdade".
O cenário ainda é incerto, mas, ao que tudo indica, os ministros do STF já se preparam para uma nova etapa de desafios com a gestão de Trump.