A vitória de Donald Trump nas eleições americanas trouxe consigo uma onda de especulações e tensões nos bastidores políticos do Brasil, particularmente entre aqueles que têm cargos de relevância no Judiciário. Entre as principais figuras afetadas, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), tem sido alvo de discussões sobre uma possível revogação de seu visto para os Estados Unidos. Informações vazadas pela colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, indicam que Moraes reagiu à possibilidade de maneira bem-humorada e irônica, embora alguns apontem que seus comentários descontraídos escondam um temor real sobre as repercussões dessa situação.
Segundo fontes próximas, Moraes teria abordado o assunto em uma conversa informal com outros ministros do STF, em tom de brincadeira. Em um momento de descontração na sala de togas, o ministro fez menções irônicas sobre sua possível “indesejabilidade” em território americano, mencionando reportagens que especulam sobre a inviabilidade de viagens aos Estados Unidos para ele e outros colegas. O tema veio à tona após a recente vitória de Trump, que, com sua volta ao poder, traz consigo o fortalecimento de uma base aliada a seu ex-colega brasileiro, Jair Bolsonaro.
A preocupação com uma possível revogação do visto de Moraes, no entanto, não é algo novo. Desde setembro, parlamentares republicanos alinhados com Trump enviaram uma carta ao Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, solicitando que fossem aplicadas sanções e que os vistos de alguns membros do STF brasileiro fossem revogados. Na carta, Moraes foi mencionado diretamente como um "ditador totalitário", em uma acusação que reflete as críticas que figuras da extrema direita têm feito ao Judiciário brasileiro, principalmente pelo papel que Moraes desempenhou em investigações contra bolsonaristas no Brasil.
Durante a administração de Joe Biden, essas pressões não tiveram grande efeito. O governo democrata manteve uma postura diplomática e se absteve de interferir nos assuntos internos do Brasil, respeitando a independência das instituições e o processo legal que Alexandre de Moraes liderou em relação a figuras ligadas a atos antidemocráticos. Porém, o retorno de Trump ao cenário político reacende essas tensões e pode favorecer a pressão para que o governo americano revise as permissões de entrada para algumas figuras do Judiciário brasileiro. O alinhamento ideológico de Trump com Bolsonaro e seus apoiadores no Brasil pode tornar as demandas contra o ministro do STF ainda mais presentes na agenda diplomática entre os dois países.
Apesar do tom irônico e bem-humorado com que Moraes tratou o assunto no STF, nos bastidores, há uma preocupação latente. O cerco contra o ministro pode ser fechado com mais rigor caso Trump realmente leve adiante as reivindicações de sua base e atenda aos pedidos feitos por parlamentares americanos. Para aliados de Moraes, o tratamento de “totalitário” dado a ele em alguns setores americanos e brasileiros é visto como uma distorção do papel institucional do Judiciário no Brasil, que visa garantir o cumprimento das leis e a defesa do estado democrático de direito. Por outro lado, os opositores argumentam que o STF estaria extrapolando seu papel constitucional e atuando com parcialidade, o que, segundo eles, justificaria um posicionamento mais enérgico dos Estados Unidos em casos específicos.
Para analistas internacionais, o retorno de Trump representa um risco de deterioração nas relações entre Estados Unidos e Brasil em relação ao Judiciário. Especialistas afirmam que uma eventual sanção contra ministros do STF seria um evento sem precedentes e abriria um caminho perigoso para interferências externas em decisões de tribunais de outros países. Esse tipo de medida, caso fosse implementado, poderia significar um precedente para que governos estrangeiros pressionem outros países sob pretexto de alinhamentos ideológicos, enfraquecendo os mecanismos internacionais de respeito à soberania.
No entanto, há quem veja essa situação como parte de um jogo político estratégico. A reação descontraída de Moraes pode ser interpretada como uma forma de desviar o foco das especulações sobre um possível isolamento diplomático. O ministro, que tem uma postura firme em suas decisões, pode estar tentando transmitir uma mensagem de que não será intimidado pelas pressões externas, reforçando seu compromisso com o papel que exerce no STF.
Para além das brincadeiras, o tema também traz à tona discussões sobre a vulnerabilidade de agentes públicos brasileiros diante de pressões internacionais. Os tribunais de países democráticos, como o Brasil e os Estados Unidos, historicamente atuam com independência em relação aos poderes executivos, o que significa que intervenções desse tipo podem gerar um impacto negativo na imagem de ambos os países perante a comunidade internacional.
Enquanto o cenário político se desenrola, o futuro das relações entre o STF e os Estados Unidos sob a administração Trump é incerto. A dúvida sobre a revogação de vistos de ministros, como Alexandre de Moraes, ainda paira no ar, mas o tom de ironia que o ministro expressou parece demonstrar uma confiança de que essas pressões externas não serão suficientes para influenciar suas decisões. Contudo, com o cerco se fechando, como muitos apontam, resta saber até que ponto as relações entre o Judiciário brasileiro e o governo americano serão testadas nesta nova fase da política internacional.