No último julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Alexandre de Moraes protagonizou um discurso enérgico sobre a pandemia de covid-19 e o enfrentamento da doença no Brasil. O episódio, que ganhou repercussão nacional, foi classificado como um "surto" por alguns espectadores e analistas. Durante a sessão, Moraes teceu duras críticas ao negacionismo que permeou o cenário brasileiro nos últimos anos e enfatizou a necessidade das medidas de restrição para combater o avanço da pandemia. Suas falas, marcadas pela firmeza, miraram especialmente o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu governo, cujo discurso minimizou a gravidade do coronavírus.
O pronunciamento de Moraes ocorreu no contexto de um julgamento envolvendo uma lei municipal de Uberlândia, em Minas Gerais, que impedia a vacinação compulsória e proibia sanções contra aqueles que optassem por não se vacinar. A lei, considerada inconstitucional pelo STF, foi alvo de análise após uma decisão monocrática de abril de 2022, proferida pelo ministro Luís Roberto Barroso, suspender a sua validade. No entanto, a medida aguardava a ratificação do plenário, que agora decidiu, por unanimidade, manter a decisão original e invalidar a lei.
Durante sua fala, Alexandre de Moraes destacou a dimensão trágica da pandemia de covid-19 e repudiou o termo “gripezinha”, utilizado por algumas figuras públicas, incluindo Bolsonaro, para descrever a doença. Segundo o ministro, a pandemia não foi uma simples gripe, mas uma crise de saúde pública global que ceifou a vida de mais de 700 mil brasileiros. "Nós não estamos falando, como foi dito à época por alguns, de uma gripezinha. Estamos falando de uma pandemia mundial na qual mais de 700 mil brasileiros morreram", afirmou Moraes. Ele ainda destacou que o Brasil ocupou a segunda posição mundial em números absolutos de mortes, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, país que também enfrentou uma postura governamental de descrença em relação à gravidade da doença e à vacinação.
Moraes também aproveitou o momento para criticar o que chamou de “campanha de desinformação” veiculada nas redes sociais, que teria espalhado teorias conspiratórias sobre a vacina contra a covid-19. Em um tom crítico e indignado, o ministro mencionou frases como “quem toma vacina vira jacaré” e teorias que afirmavam que a pandemia era uma conspiração chinesa para transformar o Brasil em um país comunista. Segundo ele, essas alegações, embora pareçam absurdas em retrospecto, influenciaram o comportamento de muitas pessoas e contribuíram para a resistência à vacinação.
Em outro trecho de sua fala, Moraes afirmou que o negacionismo e as fake news dificultaram o controle da pandemia no Brasil e aumentaram o número de óbitos. Para o ministro, a propagação de informações falsas sobre a vacina, associada à falta de responsabilidade de autoridades que minimizaram a gravidade da situação, colocou o país em uma posição vulnerável diante do coronavírus. Ele ressaltou que as medidas restritivas, embora duras, foram essenciais para evitar um número ainda maior de mortes.
A decisão do STF de suspender a lei municipal de Uberlândia reafirma o entendimento da Corte sobre a vacinação compulsória em situações de emergência de saúde pública, como foi o caso da pandemia de covid-19. De acordo com a Constituição Federal e com decisões anteriores do STF, o direito individual à liberdade deve ser equilibrado com o direito coletivo à saúde. Em casos de pandemias, o interesse coletivo se sobrepõe, uma vez que a vacinação é um mecanismo de proteção não apenas para o indivíduo, mas para toda a população. A decisão proferida por Barroso em 2022, que agora foi ratificada pelo plenário, enfatiza que medidas de saúde pública podem, sim, ser impostas para proteger a sociedade de ameaças graves e em larga escala.
O julgamento também marca uma nova fase do debate sobre a pandemia e suas consequências no Brasil. Embora a situação sanitária tenha se estabilizado, as discussões em torno das medidas adotadas durante a crise continuam gerando polêmica e dividindo opiniões. Para muitos, o discurso de Alexandre de Moraes no plenário reflete a postura do STF em relação ao negacionismo e à difusão de informações falsas que impactaram a saúde pública e a segurança da população. Já para outros, as falas do ministro foram consideradas excessivamente críticas e até mesmo políticas, visando diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro e o seu governo.
O episódio ilustra como a pandemia ainda reverbera no cenário político e jurídico do país, levantando questionamentos sobre a responsabilidade de líderes públicos na condução de crises de saúde e sobre o papel do STF na defesa de direitos coletivos. Com o término do julgamento e a confirmação da inconstitucionalidade da lei municipal, a Corte sinaliza que, em tempos de crise, é fundamental que medidas sanitárias sejam respeitadas e que o direito à vida prevaleça.
Enquanto o Brasil segue tentando superar os impactos da covid-19, o posicionamento de Moraes no STF reforça o compromisso da Corte com a segurança e o bem-estar da população. A decisão unânime destaca que, em casos de emergência, a saúde coletiva deve ser priorizada em detrimento de interpretações individuais da liberdade, assegurando que, diante de pandemias futuras, o país esteja preparado para adotar as medidas necessárias para proteger a vida de seus cidadãos.