A Polícia Federal revelou os resultados de uma ampla investigação sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Ao todo, 37 pessoas foram indiciadas por crimes como abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. Entre os nomes envolvidos estão figuras de destaque do governo de Jair Bolsonaro, incluindo o próprio ex-presidente, ex-ministros, militares de alta patente e políticos influentes. O relatório foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal e está sob sigilo.
A investigação incluiu personagens como Jair Bolsonaro, inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional Augusto Heleno. Entre os militares, figuram o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos e o general da reserva Walter Braga Netto, que também foi candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022. O presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, também foi apontado no inquérito.
Segundo a Polícia Federal, as ações atribuídas aos indiciados vão desde a elaboração de documentos que sugeriam medidas antidemocráticas até a organização de manifestações que culminaram nos atos de vandalismo de 8 de janeiro de 2023. Esses atos, que atacaram as sedes dos Três Poderes em Brasília, foram o estopim para uma série de investigações que conectaram diversos indivíduos e grupos à tentativa de reverter o resultado das eleições.
Entre os destaques do inquérito estão Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e Filipe Martins, ex-assessor especial para assuntos internacionais. Mauro Cid é descrito como um dos principais articuladores do grupo, envolvido em ações como falsificação de dados em cartões de vacinação e elaboração de minutas para decretos que sustentariam um eventual golpe. Filipe Martins é acusado de atuar como um dos estrategistas por trás dos textos que poderiam fundamentar medidas ilegais contra a posse de Lula.
Outros indiciados incluem militares como o coronel Carlos Giovani Delevati Pasini e o tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira, ambos apontados por participarem de esquemas para pressionar as Forças Armadas a aderirem ao plano golpista. A Operação Tempus Veritatis revelou que reuniões e articulações para o plano envolviam membros do alto escalão militar, algumas delas realizadas em propriedades particulares. Em uma dessas reuniões, realizadas na residência de Braga Netto, foram discutidos detalhes do suposto plano.
As investigações também chegaram a civis, como o advogado Amauri Feres Saad, identificado como coautor da chamada minuta golpista, e o consultor político argentino Fernando Cerimedo. Cerimedo, que atuou na campanha de Javier Milei, presidente da Argentina, teria sido contratado para elaborar estratégias de desinformação contra o sistema eleitoral brasileiro. Ele é acusado de fomentar falsas denúncias sobre fraudes nas urnas eletrônicas.
O inquérito ainda menciona planos de ações violentas que, supostamente, incluíam atentados contra figuras centrais do governo, como o próprio presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Entre os indiciados por essas acusações está o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, apontado como um dos organizadores do esquema.
Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal, também aparece no relatório. Ele é acusado de financiar campanhas de desinformação e apoiar grupos que questionavam a legitimidade das eleições. Outro nome relevante é o de Tércio Arnaud Tomaz, apontado como líder do chamado “gabinete do ódio”, um núcleo que disseminava conteúdos falsos para desacreditar adversários políticos e inflamar as redes sociais.
As evidências reunidas pela Polícia Federal incluem áudios, mensagens de texto, documentos apreendidos e depoimentos que reforçam a existência de uma organização estruturada. O relatório sugere que o grupo tinha como objetivo final não apenas impedir a posse de Lula, mas consolidar um regime autoritário com a revogação de direitos democráticos.
O envio do relatório ao STF representa uma etapa crucial para as investigações. A Procuradoria-Geral da República deverá analisar as evidências para decidir sobre o oferecimento de denúncias formais contra os envolvidos. Caso a Corte aceite as denúncias, os acusados poderão responder criminalmente pelas ações descritas.
A revelação dos nomes e detalhes das acusações gerou reações imediatas no meio político. Parlamentares da oposição criticaram o relatório, alegando que as acusações são parte de uma perseguição política. Por outro lado, defensores do governo Lula afirmam que as investigações são fundamentais para proteger a democracia brasileira.
Os desdobramentos do caso continuam sendo aguardados, especialmente quanto à postura do STF diante das evidências. A sociedade acompanha atentamente a evolução do processo, que promete ser um marco na história política e jurídica do país.