O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) solicitou que a Secretaria de Comunicação do Governo Federal (Secom) apresente detalhes sobre os pagamentos realizados pela Presidência da República à TV Globo. A emissora recebeu R$ 177,2 milhões em publicidade oficial em menos de dois anos de gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), superando em R$ 200 mil o montante total repassado durante todo o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Os dados foram divulgados pela revista Veja e levantaram questionamentos sobre a alocação dos recursos públicos no atual governo.
De acordo com a publicação, a Globo lidera os contratos publicitários firmados pela Secom em 2023, acumulando cerca de R$ 87,2 milhões apenas neste ano. Essa concentração de investimentos em uma única emissora reacendeu debates sobre a distribuição dos recursos de publicidade oficial e gerou críticas no Congresso Nacional. Para Gustavo Gayer, o volume expressivo dos repasses sem justificativas claras levanta suspeitas de favorecimento e desrespeito à pluralidade na comunicação institucional.
Em sua manifestação, o deputado apontou que a utilização de recursos dessa magnitude poderia ser mais bem direcionada para áreas consideradas prioritárias, como Saúde, Educação e Segurança Pública, especialmente em um contexto de crise fiscal. Ele destacou que os gastos excessivos do governo têm pressionado o orçamento público, o que exige ainda mais responsabilidade na gestão financeira. “A ampliação expressiva dos repasses para uma só emissora, sem explicações sólidas, pode sugerir favorecimento e falta de pluralidade na comunicação institucional”, afirmou Gayer.
A polêmica surge em meio a um cenário de aumento nos gastos públicos e corte de investimentos em setores essenciais, o que intensifica o debate sobre as prioridades do governo. Críticos da atual gestão têm argumentado que os recursos destinados à publicidade oficial poderiam ser mais equitativamente distribuídos entre diferentes veículos de comunicação, evitando a concentração em um único grupo de mídia. Para eles, a prática também garantiria maior diversidade e alcance na disseminação das informações institucionais.
Por outro lado, defensores do governo argumentam que os contratos firmados com a TV Globo seguem critérios técnicos, como alcance e audiência, que justificariam os elevados investimentos na emissora. Segundo eles, a escolha da Globo como principal veículo para divulgação de campanhas publicitárias seria estratégica para atingir um maior número de brasileiros e promover as ações do governo de forma eficiente.
Ainda assim, a crítica levantada por Gayer ecoa entre outros parlamentares que também têm cobrado maior transparência nos gastos da Secom. Para os opositores do governo, os números apontam para um possível favorecimento político, considerando que a emissora já foi alvo de elogios e críticas ao longo dos diferentes mandatos de Lula. A oposição vê no aumento dos repasses um alinhamento político entre o governo federal e a TV Globo, que teria se fortalecido após o rompimento do grupo de comunicação com a gestão Bolsonaro.
A concentração de recursos públicos na publicidade oficial tem sido um tema recorrente em diferentes governos, mas os valores repassados à Globo sob a gestão de Lula chamam atenção pelo crescimento em relação ao período anterior. Durante o mandato de Bolsonaro, a emissora sofreu uma significativa redução nos contratos com a Secom, que priorizou outras plataformas de comunicação, como redes sociais e emissoras regionais. Esse movimento foi interpretado como uma retaliação política devido às críticas frequentes da Globo ao governo Bolsonaro.
Com a troca de governo em 2023, o cenário mudou, e a TV Globo voltou a ocupar posição de destaque nos contratos publicitários federais. Gustavo Gayer, porém, questiona se esse retorno à centralidade não reflete uma relação de conveniência entre o governo e a emissora, em detrimento de uma comunicação institucional mais democrática. O deputado também ressalta a necessidade de maior fiscalização sobre os critérios utilizados para definir os destinatários das verbas publicitárias, defendendo que a transparência é fundamental para evitar desvios de finalidade e assegurar a confiança da população.
Além de solicitar explicações à Secom, Gayer afirmou que pretende levar o tema para discussão na Câmara dos Deputados. Ele acredita que o Congresso tem um papel fundamental em garantir que os recursos públicos sejam utilizados de maneira responsável e em benefício de toda a sociedade. A possibilidade de abrir uma investigação sobre os contratos de publicidade do governo não está descartada, e o tema promete ganhar destaque nas próximas semanas.
A resposta do governo federal e da Secom às cobranças de Gayer será determinante para esclarecer os critérios adotados nos repasses à TV Globo. Enquanto isso, a oposição deve continuar utilizando o tema como ponto de ataque à gestão Lula, reforçando as críticas sobre os gastos públicos e questionando as prioridades do Executivo. A polêmica, além de colocar em evidência a relação entre governo e imprensa, traz à tona o debate sobre a necessidade de maior pluralidade e eficiência na comunicação oficial.