O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se posicionou em entrevista à revista Veja sobre as recentes acusações de envolvimento em um suposto plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Bolsonaro classificou o plano como “absurdo” e negou qualquer ligação com o esquema, que, segundo investigações da Polícia Federal, teria sido articulado no Palácio do Planalto e contado com a participação de militares.
A operação, que veio à tona após denúncias envolvendo o general Mário Fernandes, ex-secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência durante o governo Bolsonaro, segue sendo alvo de investigações. De acordo com as autoridades, Fernandes teria desempenhado um papel central na concepção do plano. No entanto, Bolsonaro minimizou sua relação com o militar, afirmando que os contatos entre eles se restringiam a situações protocolares e que desconhecia qualquer plano que pudesse ter sido discutido em seu governo.
“Lá na Presidência havia mais ou menos 3.000 pessoas naquele prédio. Se um cara bola um negócio qualquer, o que eu tenho a ver com isso? Discutir comigo um plano para matar alguém, isso nunca aconteceu”, afirmou Bolsonaro à revista. A fala evidencia a tentativa do ex-presidente de se distanciar das ações de Fernandes, ao mesmo tempo em que busca reforçar a ideia de que não tinha controle sobre todas as atividades realizadas por integrantes de sua equipe.
Além disso, Bolsonaro rejeitou as acusações de envolvimento em tentativas de golpe de Estado, outra frente de investigação que tem ganhado destaque nos últimos meses. Ele reforçou que, durante sua gestão, não teria incentivado ações inconstitucionais, mas admitiu que conversas sobre a adoção de um estado de sítio, previsto na Constituição, chegaram até ele. “Eu jamais compactuaria com qualquer plano para dar um golpe. Quando falavam comigo, era sempre para usar o estado de sítio, algo constitucional, que dependeria do aval do Congresso”, disse Bolsonaro.
A investigação em curso é mais uma de uma série de denúncias que têm colocado o ex-presidente sob pressão desde que deixou o cargo em janeiro de 2023. Seus adversários políticos e parte da sociedade civil têm argumentado que ele deve ser responsabilizado pelas ações de seus subordinados, enquanto seus aliados enxergam as denúncias como uma tentativa de perseguição política para enfraquecer sua imagem e inviabilizar sua atuação política. Para Bolsonaro, o caso reflete mais uma investida do “sistema” contra ele. Segundo o ex-presidente, o objetivo seria criar narrativas para incriminá-lo e, eventualmente, justificar uma possível prisão.
A figura de Bolsonaro segue polarizando a opinião pública brasileira. Para seus apoiadores, a investigação não passa de mais uma etapa da suposta perseguição que o ex-presidente enfrenta desde o término de seu mandato. Eles argumentam que as denúncias carecem de provas concretas e que há um esforço deliberado para desgastar a imagem do ex-líder do Executivo. Já para seus críticos, as investigações são cruciais para esclarecer os fatos e apurar possíveis responsabilidades de Bolsonaro e de sua equipe em ações que colocaram em risco a democracia brasileira.
A Polícia Federal segue apurando os desdobramentos do caso, incluindo o papel de outros possíveis envolvidos no plano. Segundo fontes ligadas à investigação, o general Mário Fernandes, apontado como peça-chave no esquema, já teria sido convocado para prestar depoimento. As autoridades também analisam registros e documentos que possam comprovar ou descartar a existência de reuniões no Palácio do Planalto voltadas para a discussão de atos antidemocráticos ou ações violentas contra figuras públicas.
Bolsonaro, por sua vez, reafirmou durante a entrevista que está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações. Ele tem repetido em diversas ocasiões que não há evidências concretas que sustentem as acusações e que sua relação com membros da equipe era, em muitos casos, meramente institucional. Apesar disso, a pressão sobre o ex-presidente aumenta à medida que mais informações sobre o caso são divulgadas.
O contexto político brasileiro também contribui para o acirramento do debate em torno das denúncias. Desde a posse de Lula, em janeiro de 2023, o clima de tensão entre os dois principais campos políticos do país tem se intensificado, com trocas de acusações e discursos polarizados. O caso envolvendo o suposto plano de assassinato, além de colocar Bolsonaro novamente sob os holofotes, também reforça as críticas ao governo petista, acusado por aliados do ex-presidente de instrumentalizar as instituições para perseguir adversários políticos.
A repercussão da entrevista concedida por Bolsonaro evidencia a divisão existente na sociedade brasileira. Enquanto alguns enxergam as falas como uma defesa legítima diante de acusações infundadas, outros acreditam que o ex-presidente busca minimizar sua responsabilidade e desviar a atenção das investigações. Nos próximos meses, o andamento das investigações será crucial para esclarecer os fatos e determinar se Bolsonaro, de fato, teve algum envolvimento com o plano ou se as denúncias se tratam, como ele afirma, de mais uma tentativa de desestabilizá-lo politicamente.