O cenário político entre Brasil e Estados Unidos ganhou um novo capítulo com a possibilidade de cancelamento do visto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, para os Estados Unidos. A questão, que antes era apenas um rumor entre os apoiadores de Jair Bolsonaro, agora se tornou uma preocupação real, principalmente após a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas. Segundo especialistas, o retorno de Trump ao poder e o fortalecimento da ala conservadora no Congresso americano colocam o visto de Moraes em situação delicada e podem impedir o ministro de pisar em solo norte-americano.
O jornalista Paulo Cappelli, do site Metrópoles, trouxe novos detalhes sobre o caso, ressaltando que a possibilidade de cancelamento do visto de Alexandre de Moraes ganhou força com o empoderamento de figuras influentes, como o bilionário Elon Musk, que vem mantendo uma relação próxima com Trump. Musk acompanhou de perto a apuração dos votos ao lado do presidente eleito e já expressou publicamente sua oposição a Moraes, referindo-se a ele como um “tirano maligno”. A relação tensa entre os dois remonta a decisões judiciais tomadas pelo ministro no Brasil, que afetaram diretamente Musk e suas atividades nas redes sociais, área na qual ele mantém grande influência por ser o proprietário do X (antigo Twitter).
Além da proximidade entre Trump e Musk, outro fator relevante é o aumento da representação conservadora tanto no Senado quanto na Câmara dos Estados Unidos. Parlamentares republicanos têm se posicionado de maneira rígida contra figuras estrangeiras que, em sua visão, atentam contra a liberdade de expressão. Recentemente, um grupo de deputados republicanos exibiu uma foto de Alexandre de Moraes durante uma coletiva e protocolou um projeto de lei que busca punir autoridades internacionais que tenham tomado decisões contrárias ao que estipula a Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos, a qual protege amplamente a liberdade de expressão.
Com uma maioria republicana no Congresso, o projeto que visa punir autoridades estrangeiras como Moraes tem grandes chances de avançar nos próximos meses, especialmente com o apoio do presidente eleito. Entre os entusiastas da proposta está Jason Miller, conselheiro de Trump e figura ativa no cenário político americano. Miller foi alvo de uma decisão de Moraes em uma ocasião anterior e, desde então, mantém uma postura crítica ao ministro brasileiro. Em entrevistas, chegou a compará-lo a vilões de filmes de espionagem, como os de James Bond, devido ao que considera uma postura autoritária e implacável em suas decisões.
A crescente pressão política coloca Moraes em uma posição complicada, já que ele precisará lidar com uma eventual proibição de entrada nos Estados Unidos, o que poderia prejudicar tanto sua reputação quanto sua atuação em casos com repercussão internacional. O ministro, no entanto, mantém um discurso firme, afirmando que a vitória de Trump não interferirá em suas atividades no STF. De acordo com fontes próximas, Moraes teria deixado claro que continuará avançando com os inquéritos relacionados a figuras como Jair Bolsonaro e Elon Musk, ressaltando que sua atuação no Supremo será mantida independente das pressões externas.
Para muitos analistas, o eventual cancelamento do visto de Alexandre de Moraes seria um momento vexatório para o Brasil, que veria um de seus principais ministros sendo barrado de entrar nos Estados Unidos. Essa situação poderia desencadear uma crise diplomática entre os dois países, especialmente em um momento em que a política externa brasileira busca se reposicionar no cenário internacional. Em conversas informais, diplomatas brasileiros têm expressado preocupação com a escalada das tensões, mas evitam comentar publicamente sobre a situação do ministro.
A relação entre Trump e Bolsonaro, que se manteve próxima durante o mandato do ex-presidente brasileiro, também é vista como um elemento agravante. Bolsonaro já manifestou apoio a Trump em diversas ocasiões, e sua base de apoiadores frequentemente elogia as ações do ex-presidente americano, vendo-o como um aliado na luta contra o que consideram uma perseguição judicial promovida por Moraes. Dessa forma, o cancelamento do visto do ministro é percebido por alguns setores como uma “vitória” simbólica da ala conservadora tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.
Enquanto o desfecho do caso não é definido, o STF tem optado por um silêncio cauteloso, aguardando os próximos passos de Trump e do Congresso americano. A expectativa é que o novo governo americano, empossado em janeiro, determine com mais clareza sua posição em relação a autoridades estrangeiras como Alexandre de Moraes. Se confirmado, o cancelamento do visto traria implicações profundas e ainda incertas para o futuro das relações entre o Brasil e os Estados Unidos, além de abrir precedentes para a atuação de parlamentares americanos contra outras autoridades internacionais.
Ao mesmo tempo, o impacto dessa decisão sobre a imagem de Moraes no Brasil pode ser ambivalente. Enquanto críticos do ministro veriam a proibição de entrada nos Estados Unidos como uma consequência de sua atuação no Supremo, outros poderiam enxergar a medida como uma interferência externa nos assuntos internos brasileiros. Independentemente do ponto de vista, o caso chama atenção pela maneira como as decisões de um ministro do STF têm repercussão além das fronteiras nacionais, e como a política americana, especialmente em sua ala mais conservadora, busca influenciar o cenário político global.