A deputada Carla Zambelli protocolou uma representação formal à Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Rosângela da Silva, conhecida como Janja, esposa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ação foi motivada pela organização de um evento idealizado pela primeira-dama com o objetivo de debater temas sociais e culturais, cujos detalhes foram amplamente divulgados pela imprensa. Zambelli questiona o uso de recursos públicos em eventos e atividades que, segundo ela, estão revestidos de um viés político e ideológico, beneficiando grupos e pessoas próximas ao governo.
Na representação enviada à PGR, Zambelli alega que Janja estaria utilizando a estrutura do governo federal, inclusive o Palácio do Planalto, para promover agendas específicas que, segundo a deputada, não refletem o interesse público. Ela acusa a primeira-dama de distorcer a função pública para fins de promoção pessoal e para favorecer uma rede de artistas e militantes alinhados com as pautas do atual governo. Segundo a deputada, essa prática desvia o objetivo do governo e distorce o uso de verbas públicas, que, para ela, deveriam ser aplicadas em benefício de toda a sociedade de forma imparcial.
Outro ponto questionado por Zambelli na representação é a falta de transparência no orçamento destinado a esses eventos e atividades encabeçados pela primeira-dama. A deputada solicita que a PGR analise detalhadamente os valores envolvidos e a origem dos recursos utilizados. Para ela, o envolvimento direto de Janja na organização e no planejamento de eventos sociais e culturais gera dúvidas quanto à verdadeira função da primeira-dama, que, em sua visão, estaria extrapolando suas atribuições ao atuar ativamente em temas que competem à administração pública.
Zambelli também critica a influência que a esposa de Lula teria nas decisões do governo. Ela sugere que Janja esteja utilizando sua posição para pautar, de forma indireta, políticas e ações da gestão federal, o que, em sua opinião, representa uma interferência inadequada. A deputada acredita que, ao organizar e coordenar atividades com forte apelo ideológico, Janja está colaborando para a criação de uma base militante ideologicamente alinhada ao governo. Em suas declarações, Zambelli insinua que o propósito das ações de Janja é fortalecer o apoio popular ao presidente Lula, consolidando uma rede de simpatizantes e críticos de adversários políticos, ao invés de promover debates genuínos sobre as questões sociais do país.
Para embasar suas críticas, Zambelli aponta a participação de artistas e figuras públicas ligadas ao governo em eventos promovidos ou apoiados pela primeira-dama. Segundo a deputada, muitos dos artistas e intelectuais presentes nessas atividades mantêm um histórico de apoio ao atual governo e foram críticos ferrenhos da gestão anterior, encabeçada por Jair Bolsonaro. Zambelli questiona a imparcialidade dessas figuras, argumentando que, por serem beneficiários de verbas e incentivos do governo, eles estariam, de certa forma, “obrigados” a manter sua lealdade política.
Em um tom ácido, Zambelli afirmou que muitos desses artistas são dependentes de patrocínios públicos e que possuem uma audiência limitada, sendo, de acordo com ela, mais conhecidos por seu papel como apoiadores políticos do que por suas realizações artísticas. Ela acusa o governo de promover eventos com o intuito de lucrar com o apoio ideológico e de recrutar novos seguidores para uma base de apoio político, referindo-se a essas atividades como “uma fábrica de corrompidos”.
A atuação de Janja na esfera pública já vinha sendo motivo de discussões e controvérsias. A primeira-dama, que tem uma formação e trajetória distinta das esposas de presidentes anteriores, demonstrou um envolvimento direto e ativo em temas políticos e culturais desde o início do governo Lula. Para alguns, essa postura representa uma inovação na posição de primeira-dama, que deixa de ser uma figura decorativa e assume um papel proativo na promoção de pautas sociais. No entanto, para críticos como Zambelli, essa atuação compromete a imparcialidade esperada das atividades institucionais e transforma a primeira-dama em uma “ativista política disfarçada”.
A PGR ainda não se manifestou sobre a representação, mas o caso já vem gerando reações nas redes sociais e em círculos políticos. De um lado, apoiadores do governo argumentam que Zambelli estaria promovendo uma perseguição política contra Janja, usando a PGR como ferramenta de intimidação e ataque. Por outro, aliados da deputada e críticos do governo veem na representação um ato de fiscalização legítima, que busca garantir que os recursos públicos sejam empregados de maneira imparcial e sem benefícios particulares.
Essa situação expõe uma divisão clara entre os apoiadores do governo e os críticos mais conservadores, que veem nas iniciativas de Janja uma forma de ativismo político. Para muitos, o papel da primeira-dama deve ser limitado a ações de cunho assistencialista e cultural, sem envolvimento direto em questões que podem ser vistas como ideológicas ou partidárias. Já os defensores de Janja acreditam que sua atuação contribui para democratizar o acesso às discussões sobre políticas públicas e para tornar a figura da primeira-dama mais representativa e próxima da população.
O desdobramento da ação movida por Zambelli será acompanhado com interesse tanto pelos que apoiam quanto pelos que criticam a presença ativa de Janja no governo Lula. A representação, ao levantar questões sobre o uso de recursos e a transparência na gestão pública, toca em um ponto sensível da política nacional e pode reacender debates sobre os limites de atuação da primeira-dama em um governo que busca aliar seu papel institucional com uma agenda de mudanças sociais e culturais.