Gleisi abre o jogo e antevê possibilidade da “morte do PT”

Gustavo Mendex
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 A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, concedeu uma entrevista ao jornal O Globo nesta semana, na qual abordou temas relevantes sobre o futuro da legenda, alianças políticas e as tensões em torno da identidade do partido. A declaração mais impactante veio quando Gleisi afirmou que “ir para o centro pode ser a morte do PT”, revelando as preocupações internas sobre o futuro da legenda e sua postura política diante de um cenário cada vez mais polarizado.


A fala ocorre em um momento de avaliação para o partido, que, apesar de sua relevância histórica, enfrenta desafios significativos de representatividade e votos, como demonstrado no último pleito municipal. Esses resultados acendem um alerta sobre a capacidade de articulação do PT, especialmente à medida que o partido busca se adaptar às mudanças no cenário político brasileiro.


Durante a entrevista, Gleisi foi questionada sobre a sucessão interna na liderança do PT. Embora o ex-ministro Edinho Silva, considerado favorito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seja apontado como potencial candidato à presidência da legenda, Gleisi evitou confirmar apoio ou nomes. Segundo ela, o debate político sobre o papel do partido deve preceder qualquer escolha. “Vamos divulgar agora o calendário do processo de eleição. A partir daí, começa a discussão. Antes da definição do nome, a gente tem que fazer o debate político sobre o PT. É isso que vai qualificar o nome para assumir o partido”, afirmou.


Ao ser indagada sobre o papel do partido, Gleisi destacou que o PT deve manter-se fiel às suas origens e à sua base social, resistindo às pressões para mudanças que poderiam distanciá-lo de sua identidade como uma legenda de esquerda. Para ela, o PT não deve se moldar às demandas do mercado nem abdicar de suas pautas históricas, como a luta por direitos sociais e econômicos. “O PT não serve para perpetuar as estruturas sociais, políticas e econômicas injustas e excludentes que marcam o país. É um partido de esquerda e assim deve continuar. Isso não impede que converse e faça alianças, como tem feito.”


A presidente ressaltou ainda que a construção de alianças é necessária para a viabilidade eleitoral, mas que isso não deve significar uma guinada ao centro. Gleisi lembrou que, em 2022, coordenou uma aliança ampla, com 11 partidos, para garantir a eleição de Lula, e que esse modelo provavelmente será repetido em 2026. “Teremos em 2026 um quadro muito semelhante, até porque o governo já está ampliado, com legendas que não apoiaram o Lula em 2022 e agora discutem o apoio para daqui a dois anos. Se elas não vierem por inteiro, pelo menos parte delas ampliará a frente de 2022.”


Gleisi foi categórica ao afirmar que o mercado pressiona por medidas que vão de encontro aos princípios históricos do PT e que cedê-las significaria trair sua base social. Segundo ela, propostas como o fim do aumento real do salário mínimo, a desvinculação do mínimo de aposentadorias e benefícios sociais, além da redução de pisos para Saúde e Educação, seriam inaceitáveis. “O que o mercado está pedindo é negar tudo aquilo que nós defendemos historicamente”, declarou.


Ainda durante a entrevista, Gleisi comentou sobre os momentos de diálogo com o presidente Lula no que diz respeito à condução econômica e às pressões por mudanças nas políticas sociais. Ela destacou que o presidente foi “sensível e responsável” ao equilibrar as demandas do mercado e as pautas defendidas pelo PT.


A questão sobre a possível candidatura de Lula à reeleição em 2026 também foi abordada. Gleisi evitou dar respostas definitivas, mas pareceu confiante de que o presidente será candidato, caso decida concorrer. No entanto, Lula ainda não se manifestou de forma categórica sobre sua intenção.


As declarações de Gleisi Hoffmann expõem as divisões internas e os desafios estratégicos enfrentados pelo PT. A possibilidade de deslocar-se ao centro em busca de maior diálogo e viabilidade eleitoral é vista como um risco de “suicídio político” por parte da presidente, enquanto lideranças mais próximas de Lula, como Edinho Silva, indicam maior flexibilidade nessa direção. A entrevista reforça o embate entre manter a essência do partido e a necessidade de adaptação a um cenário político que exige novas alianças e discursos.


O futuro do PT, assim como sua relevância política, dependerá da habilidade da legenda em equilibrar essas tensões e de sua capacidade em se comunicar com um eleitorado que se mostrou cada vez mais disperso. A reflexão proposta por Gleisi sobre a identidade do partido promete acirrar os debates internos e será central na definição dos rumos da legenda nos próximos anos.
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