Gleisi critica O Globo por culpar Lula pela alta do dólar


 Nesta quinta-feira (19), a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) utilizou suas redes sociais para criticar um editorial publicado pelo jornal O Globo. No texto, o veículo atribuiu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e à sua gestão a responsabilidade pela alta do dólar e por problemas relacionados à situação fiscal do país. Em sua resposta, a deputada também teceu duras críticas ao Banco Central (BC), questionando sua atuação e a autonomia da autoridade monetária.


O editorial publicado por O Globo destacou que o governo petista tem promovido ataques contínuos à política monetária adotada pelo Banco Central, classificando as ações como injustificadas. O texto mencionou que “os brasileiros são agora alvo de teses fantasiosas na economia, vindas de uma gestão que simplesmente se recusa a assumir a responsabilidade pela incerteza que semeou nos mercados ao recusar promover um ajuste fiscal na medida necessária”. A publicação ainda afirmou que “quanto mais falam absurdos que desafiam a ciência econômica, mais alta fica a conta que todos os brasileiros terão de pagar”.


Em resposta às alegações do jornal, Gleisi Hoffmann defendeu as ações do governo e rebateu as críticas. Segundo ela, o governo Lula herdou uma situação fiscal caótica, fruto da gestão anterior de Jair Bolsonaro e do ex-ministro da Economia Paulo Guedes. A deputada destacou que a inflação está sob controle e que, ao contrário do que afirma o jornal, caiu durante a atual administração.


Gleisi também criticou as demandas por ajustes fiscais mais rigorosos. Segundo ela, não é razoável que o governo revogue políticas sociais importantes, como os pisos constitucionais para Educação e Saúde, os aumentos reais do salário mínimo e a vinculação deste às aposentadorias e ao Benefício de Prestação Continuada (BPC). Em sua visão, essas demandas são histéricas e desconsideram os esforços do governo para atender às necessidades sociais da população.


A parlamentar também questionou a autonomia do Banco Central, afirmando que, na prática, essa independência tem levado à politização da autoridade monetária. Para ela, a atuação do BC está contribuindo para a desestabilização da moeda nacional. “Não há ciência econômica nesta distorção de natureza essencialmente política, que está na origem do ataque especulativo à moeda nacional”, escreveu Gleisi. Ela argumentou ainda que as pressões por ajustes fiscais mais severos têm como objetivo desestabilizar o governo e levar o país a uma crise econômica.


A fala de Gleisi reflete uma tensão crescente entre membros do Partido dos Trabalhadores e o Banco Central. Desde o início da gestão Lula, o BC tem sido alvo de críticas por parte do governo e de aliados, que acusam a instituição de manter taxas de juros elevadas de forma injustificada. Segundo o PT, a política monetária adotada pelo BC é prejudicial ao crescimento econômico e limita a capacidade do governo de implementar políticas sociais e de desenvolvimento.


A relação conflituosa entre o governo e o Banco Central também tem gerado reações no mercado financeiro. A alta do dólar, mencionada tanto pelo jornal quanto pela deputada, reflete as incertezas econômicas e políticas que pairam sobre o país. Especialistas apontam que os ataques ao BC e a falta de clareza nas ações fiscais e econômicas do governo contribuem para aumentar a desconfiança dos investidores e pressionar a cotação da moeda norte-americana.


A questão da autonomia do Banco Central, por sua vez, permanece como um dos pontos mais sensíveis no debate econômico nacional. Instituída em 2021, durante o governo Bolsonaro, a autonomia do BC foi defendida como uma medida para garantir maior estabilidade econômica e evitar interferências políticas na condução da política monetária. No entanto, o PT tem questionado a eficácia e a legitimidade dessa autonomia, argumentando que ela impede o governo de alinhar a política monetária às suas prioridades de gestão.


O embate entre o governo e o mercado também reflete diferenças ideológicas mais amplas. Enquanto o governo Lula prioriza políticas sociais e de distribuição de renda, o mercado e setores mais conservadores defendem o rigor fiscal e a contenção de gastos públicos como pilares para o crescimento sustentável. Essa divergência tem alimentado uma narrativa polarizada, na qual as ações do governo são vistas como populistas e irresponsáveis por um lado, enquanto as críticas do mercado são classificadas como elitistas e desconectadas das necessidades da população pelo outro.


O cenário atual revela os desafios enfrentados pelo governo na tentativa de equilibrar suas promessas de campanha com as demandas do mercado financeiro e os limites impostos pela política monetária. Para muitos analistas, o sucesso do governo Lula dependerá de sua capacidade de construir um diálogo mais construtivo com o Banco Central e de adotar medidas que tragam maior previsibilidade e estabilidade à economia brasileira.


Enquanto isso, a troca de acusações entre governo e mercado segue acirrada. A declaração de Gleisi Hoffmann, assim como o editorial de O Globo, são apenas os capítulos mais recentes de uma disputa que parece longe de um desfecho. Resta saber se o governo conseguirá superar os desafios econômicos e políticos que se apresentam, ou se as tensões internas e externas continuarão a minar sua capacidade de implementar as mudanças prometidas.
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