Miriam Leitão é o retrato perfeito de que cinismo e desonestidade intelectual são marcas de uma imprensa falida


A imprensa brasileira tem atravessado um período de intensa polarização e críticas crescentes quanto à sua credibilidade, especialmente em relação à postura de alguns de seus principais representantes. Entre esses nomes, destaca-se Míriam Leitão, cuja trajetória de jornalista influente no grupo Globo tem se tornado sinônimo de controvérsia e desconfiança. Recentemente, suas declarações em defesa do inquérito das Fake News trouxeram novamente à tona debates sobre liberdade de expressão, censura e a relação entre imprensa e poder.


Ao longo de sua carreira, Míriam Leitão construiu uma imagem de respeitabilidade e compromisso com os fatos. Contudo, para muitos críticos, sua postura tem evoluído para algo que transcende o papel de jornalista, assumindo uma posição mais próxima de uma militante em defesa do sistema político vigente. Ao justificar a continuidade do inquérito das Fake News, que já se estende por quase seis anos, Míriam argumentou que ele é necessário para combater uma suposta rede de mentiras organizadas que, em suas palavras, "busca minar a democracia e criar um clima propício ao golpe".


O argumento, no entanto, ignora os inúmeros questionamentos legais levantados sobre a condução desse inquérito, desde sua legitimidade jurídica até as acusações de abusos de poder e violação de direitos fundamentais. Para muitos, a defesa apaixonada de Míriam em relação a esses procedimentos representa um claro sinal de que a imprensa perdeu sua função crítica, optando por se alinhar irrestritamente ao establishment.


O que torna essa postura ainda mais contraditória é o fato de que a própria Míriam Leitão já foi alvo da mesma lógica que hoje defende. Durante os governos petistas, ela foi atacada por blogs financiados com verba pública, que a rotularam como integrante do "Partido da Mídia Golpista". Sua reputação foi atacada de diversas formas, incluindo a edição de seu perfil na Wikipédia a partir de computadores do Palácio do Planalto, em uma tentativa de prejudicar sua imagem. Na época, não houve inquérito, nem perseguição judicial contra os responsáveis pelos ataques, algo que demonstra a seletividade da aplicação de critérios de proteção atualmente defendidos pela jornalista.


Esse paradoxo se torna ainda mais evidente quando recordamos o papel de Míriam Leitão e do grupo Globo durante a Operação Lava Jato, um dos maiores marcos recentes de exposição de corrupção no Brasil. As reportagens minuciosas sobre esquemas ilícitos e a decadência ética no coração do sistema político contribuíram para um ambiente de descrença generalizada nas instituições. Muitos dos que hoje são alvos de críticas por "desacreditar as instituições" poderiam argumentar que foram os próprios jornalistas, como Míriam, que deram início a esse processo ao expor as falhas do sistema.


A postura atual de Míriam, que parece ignorar seu passado de críticas contundentes, levanta questões sobre até que ponto a defesa de valores como liberdade de expressão e direitos fundamentais é consistente. Para alguém que sofreu perseguição durante o regime militar, esperava-se um compromisso inabalável com o devido processo legal e a proteção ao debate público, mesmo quando as opiniões expressas são contrárias às suas.


A impressão que se tem é que Míriam Leitão e outros jornalistas de destaque estão dispostos a abdicar de princípios fundamentais em troca de uma narrativa que os mantenha alinhados com o status quo. Essa postura, além de contraditória, reforça a percepção de que a imprensa se tornou refém de interesses políticos e ideológicos, comprometendo sua credibilidade perante o público.


Ao defender a criminalização das críticas ao sistema político, Míriam não apenas fere os princípios que ela mesma alegava defender no passado, mas também contribui para um cenário perigoso, onde a liberdade de expressão é cada vez mais cerceada. A lógica de que opiniões divergentes representam uma ameaça à democracia tem sido usada para justificar arbitrariedades e perseguições, que vão desde multas exorbitantes até o fechamento de redes sociais e ameaças de prisão.


O caso de Míriam Leitão, portanto, é emblemático de uma imprensa que parece ter perdido o rumo. De guardiã da democracia, transformou-se em agente de propaganda, disposta a sacrificar valores essenciais em nome de narrativas convenientes. Para muitos, sua atuação é o retrato perfeito de cinismo e desonestidade intelectual, marcas de um modelo de comunicação que já não atende às necessidades de uma sociedade plural e democrática.


A história recente demonstra que não há impunidade para a incoerência. Os mesmos mecanismos usados hoje para silenciar vozes críticas podem, no futuro, ser empregados contra aqueles que os defendem. É uma lição que Míriam Leitão, mais do que ninguém, deveria ter aprendido ao longo de sua trajetória. Infelizmente, a postura atual da jornalista sugere que, em nome de uma agenda política, até mesmo as lições mais duras podem ser convenientemente esquecidas.

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