O ministro Alexandre de Moraes foi surpreendido por uma resposta firme e detalhada do Exército Brasileiro, após exigir que a instituição prestasse esclarecimentos em um prazo de 48 horas sobre as visitas realizadas a militares presos sob acusação de envolvimento em uma suposta tentativa de golpe de Estado. A resposta não só veio rapidamente, como deixou claro que as visitas ocorreram de acordo com os regulamentos internos da corporação, evidenciando a disciplina e o rigor da organização militar.
A manifestação oficial foi uma reação à suspeita de que o regulamento de visitas pudesse ter sido desrespeitado durante a custódia de figuras importantes como os generais Walter Souza Braga Netto e Mario Fernandes, além dos tenentes-coronéis Rodrigo Bezerra Azevedo e Hélio Ferreira Lima. Esses militares, apontados como envolvidos em ações antidemocráticas, estão detidos em uma unidade militar, e a situação levantou questionamentos sobre a conduta do Exército no tratamento desses casos.
Na nota divulgada, o Exército assegurou que todas as visitas realizadas por familiares e advogados ocorreram de maneira rigorosamente conforme os regulamentos vigentes e respeitaram os dias estipulados para cada militar detido. O comunicado ainda detalhou o cronograma de visitas, apontando que o general Mario Fernandes recebeu visitas às segundas, quartas, sextas-feiras e aos domingos, enquanto o general Braga Netto foi visitado às terças, quintas-feiras e também aos domingos.
A instituição reforçou que a custódia dos militares presos está sendo conduzida de forma rigorosa, de acordo com os princípios militares e com pleno respeito às normas internas. A nota oficial destacou: "Esta divisão de Exército esclarece que não há que se falar em visitação diária por ocasião da custódia do general de brigada Mario Fernandes, tampouco do general de Exército Walter Souza Braga Netto. Neste sentido, salvo outro juízo, não houve desrespeito ao regulamento de visitas estabelecido nesta OM [Organização Militar]."
O posicionamento do Exército demonstra uma defesa clara da sua autonomia e do cumprimento das normas internas, uma vez que a questão das visitas havia gerado especulações e críticas. A resposta, que chega a ser vista como um recado sobre o funcionamento disciplinado da caserna, surpreendeu pelo tom direto e pela apresentação detalhada das informações, algo que não é comum em notas públicas emitidas pela corporação.
A decisão de Alexandre de Moraes de exigir explicações veio no contexto de uma maior vigilância por parte do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação às instituições militares, especialmente após os eventos de janeiro de 2023, quando apoiadores radicais tentaram invadir e depredar sedes dos Três Poderes em Brasília. Desde então, as Forças Armadas têm sido observadas de perto, e qualquer movimentação ou indício de apoio a atos antidemocráticos gera reações imediatas do Judiciário.
No entanto, a resposta do Exército pode ser interpretada como uma tentativa de proteger a sua imagem e reforçar a mensagem de que está agindo de forma institucional e conforme as normas vigentes. Ao detalhar as datas e os procedimentos adotados nas visitas, a instituição buscou deixar claro que não há qualquer privilégio ou irregularidade envolvendo os militares detidos.
O caso também reacende o debate sobre a relação entre as Forças Armadas e o Poder Judiciário, especialmente em um momento de tensão política no Brasil. Enquanto o STF mantém uma postura de controle rigoroso em relação a atos considerados antidemocráticos, o Exército reafirma sua postura de independência e disciplina, reforçando que suas ações são pautadas por normas internas.
A detenção de figuras de alto escalão como Braga Netto, que foi ex-ministro e candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, e Mario Fernandes, um general de brigada, trouxe ainda mais atenção ao caso. Esses militares são acusados de participar ou apoiar articulações que, supostamente, buscavam desestabilizar o governo democraticamente eleito. Entretanto, até o momento, não há um julgamento conclusivo sobre as acusações, e a situação segue sendo acompanhada de perto.
O episódio também destaca a crescente pressão sobre as instituições brasileiras em um cenário de polarização política. Enquanto o STF atua como um dos principais atores na defesa da democracia e na apuração de responsabilidades, as Forças Armadas enfrentam o desafio de manter sua neutralidade e demonstrar que estão comprometidas com os princípios republicanos.
Por ora, a resposta do Exército parece ter cumprido seu objetivo de esclarecer os questionamentos levantados por Alexandre de Moraes. No entanto, o desenrolar do caso seguirá sob os holofotes, com possíveis desdobramentos envolvendo a relação entre o Judiciário e as Forças Armadas. Resta saber se essa troca de mensagens será suficiente para apaziguar as tensões ou se novos episódios reforçarão a necessidade de um diálogo mais amplo e transparente entre as instituições.