Âncora do Jornal Nacional confessa que votou em Lula


 O ex-jornalista Sérgio Chapelin, conhecido por sua longa trajetória como âncora do Jornal Nacional, fez declarações surpreendentes sobre sua visão política e experiências profissionais. Apesar de não ser militante, Chapelin revelou que sempre teve afinidade com ideias de esquerda, algo que, segundo ele, está ligado à sua origem humilde. Em entrevista recente, ele também mencionou seu voto em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em duas ocasiões, além de recordar momentos difíceis vividos durante o regime militar, quando trabalhava na Rádio JB.


Chapelin contou que sua trajetória de vida o aproximou das demandas da classe trabalhadora. "Minha situação me obrigou a estar do lado da classe trabalhadora. Sou um cara de origem humilde, meus pais nunca tiveram casa própria, não recebi herança. Nunca fui militante, mas sempre fui uma pessoa de esquerda", afirmou. O ex-apresentador, que marcou uma geração com seu tom sereno e profissionalismo, revelou ainda que sua admiração pelo ex-presidente Lula o levou a votar nele por duas vezes. "Votei a primeira e a segunda vez no Lula, depois não votei em ninguém de um lado ou de outro. Estou esperando um candidato."

A relação de Chapelin com a política sempre foi discreta, dada sua atuação em veículos de comunicação tradicionais que priorizavam a imparcialidade jornalística. No entanto, ele deixou claro que seu olhar para as questões sociais e sua identificação com a luta da classe trabalhadora não foram moldados apenas por uma visão política, mas por vivências pessoais. "Não tem como não se sensibilizar com as dificuldades que a maioria da população enfrenta quando você também enfrentou parte disso", explicou.

Outro ponto marcante da entrevista foi o relato de Chapelin sobre os desafios enfrentados por jornalistas durante a ditadura militar no Brasil. Ele relembrou o ambiente de censura severa que imperava nas redações e mencionou a presença constante de censores, que tinham a função de monitorar o conteúdo produzido pelos profissionais de comunicação. "Falo com os meus netos que a ditadura não era brincadeirinha, não. Eu trabalhei na Rádio JB com censor do meu lado no estúdio", contou Chapelin, destacando como esse período foi marcado por restrições à liberdade de imprensa.

O ex-jornalista detalhou que os textos que escrevia precisavam ser submetidos à aprovação antes de serem veiculados. "Eu dava o texto para ele, e depois dele aprovar eu podia ler o noticiário. Não podia dormir no ponto, porque Durango Kid pegava", disse, referindo-se ao apelido dado a um dos censores mais temidos da época. Segundo Chapelin, esse controle rigoroso limitava a atuação dos jornalistas e criava um ambiente de constante tensão e insegurança.

A experiência vivida durante o regime militar marcou profundamente sua carreira e contribuiu para a visão crítica que ele possui sobre esse período da história brasileira. "É importante que as gerações mais novas entendam que não se tratava apenas de uma questão de controle político. Era algo que afetava diretamente a liberdade individual, a criação e a expressão", disse.

A fala de Chapelin repercute em um momento de intensos debates políticos no país e chama atenção para a importância de preservar a liberdade de imprensa e a memória histórica. Ele, que por décadas foi uma das vozes mais respeitadas do jornalismo brasileiro, parece agora mais disposto a compartilhar reflexões pessoais e episódios de sua vida que ajudam a compreender o impacto das transformações políticas e sociais no Brasil.

Longe das câmeras, Sérgio Chapelin mantém sua postura serena e analítica, características que o consagraram como um dos grandes nomes do telejornalismo nacional. Suas palavras revelam não apenas um profissional dedicado, mas também um cidadão atento às questões que moldaram e continuam a moldar o país. "O Brasil já passou por muita coisa. Ainda estamos em busca de um caminho mais justo para todos", concluiu.
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