Deputados traçam estratégia e Moraes pode ficar impedido de pisar no solo americano
Deputados da oposição no Brasil aproveitaram a ida aos Estados Unidos para a posse de Donald Trump como presidente para articularem uma medida polêmica: solicitar ao republicano que suspenda o visto americano do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A ideia surgiu como uma forma de protesto contra a decisão do magistrado que, recentemente, negou ao ex-presidente Jair Bolsonaro a permissão de viajar ao exterior para acompanhar a cerimônia de posse de Trump.
Segundo informações divulgadas pela coluna de Letícia Casado, do Uol, o pedido consta na lista de temas que os parlamentares brasileiros pretendem discutir durante os eventos oficiais. Até o momento, oito deputados já estão nos Estados Unidos, onde participam de diversas solenidades ligadas à posse do ex-presidente americano, marcada oficialmente para a próxima segunda-feira (20). Os eventos relacionados à transição de poder começaram neste sábado (18) e se estenderão até terça-feira (21). Além dos oito deputados já presentes, outros parlamentares brasileiros são esperados no país durante o fim de semana.
A motivação central para a proposta de suspensão do visto está diretamente relacionada às tensões recentes entre o STF e setores da direita política no Brasil. Para os deputados da oposição, Alexandre de Moraes teria extrapolado suas atribuições ao proibir Bolsonaro de deixar o Brasil, decisão que eles consideram como uma violação de liberdades individuais. Além disso, os parlamentares entendem que, ao impedir a ida do ex-presidente à cerimônia de Trump, Moraes estaria interferindo em uma questão política e diplomática, o que consideram inaceitável.
Nos bastidores, a medida é vista como uma tentativa de pressionar o STF e expor internacionalmente o que os opositores qualificam como "excessos" cometidos pelo ministro. Os deputados esperam que, ao trazer o tema à tona nos Estados Unidos, onde Trump mantém grande influência política e midiática, a questão possa ganhar visibilidade global. Eles acreditam que isso poderia gerar um debate mais amplo sobre a atuação de Moraes e, possivelmente, abrir caminho para sanções contra o magistrado.
O gesto, no entanto, é considerado arriscado. Analistas políticos apontam que a ação pode ser interpretada como uma ingerência política em questões judiciais de um país soberano, o que poderia gerar críticas tanto no Brasil quanto no exterior. A suspensão de um visto americano é uma medida rara e, em geral, envolve situações de grave violação de direitos humanos ou crimes internacionais, o que não seria o caso de Alexandre de Moraes. Ainda assim, os deputados acreditam que a proximidade ideológica entre Trump e Bolsonaro, bem como o apoio mútuo entre seus aliados, pode ajudar na aceitação do pedido.
Além do pedido contra Moraes, os parlamentares brasileiros planejam aproveitar a viagem para fortalecer laços com lideranças republicanas nos Estados Unidos. A ideia é promover discussões sobre valores compartilhados, como liberdade de expressão e direitos individuais, temas frequentemente citados por Trump e que também estão no centro das críticas da oposição brasileira ao STF. O grupo acredita que essas conversas podem ajudar a reforçar o alinhamento entre os dois países e suas lideranças conservadoras, ampliando a cooperação em pautas políticas e econômicas.
Por outro lado, o pedido de suspensão do visto também reacendeu debates sobre os limites da atuação parlamentar. Críticos da oposição apontam que a proposta pode ser vista como um desvio de foco das questões internas do Brasil e uma tentativa de usar um evento internacional para alimentar disputas políticas domésticas. Segundo esses críticos, o momento exigiria mais atenção a questões prioritárias no país, como a recuperação econômica e a gestão de crises internas, do que a discussões sobre um tema de natureza pessoal e jurídica.
Nos Estados Unidos, o clima para a posse de Trump é marcado por grande entusiasmo entre seus apoiadores. O retorno do republicano ao poder representa uma vitória significativa para a direita americana e, por extensão, para seus aliados no exterior. A presença de parlamentares brasileiros na cerimônia é vista como uma demonstração clara desse alinhamento ideológico, com o objetivo de fortalecer as conexões entre os movimentos conservadores dos dois países.
A expectativa agora é saber se o pedido dos deputados terá qualquer impacto prático ou se será apenas uma provocação simbólica em meio às festividades da posse. Enquanto isso, no Brasil, a decisão de Moraes de impedir a viagem de Bolsonaro continua sendo alvo de discussões acaloradas, refletindo as divisões políticas que seguem permeando o cenário nacional.
A posse de Trump, além de seu significado político para os Estados Unidos, tem mostrado como eventos internacionais podem ser utilizados como palco para discussões e tensões de alcance global. A ação dos parlamentares brasileiros reforça o caráter polarizado da política atual e mostra como questões internas podem transcender fronteiras, envolvendo outras nações e lideranças em debates que, em última análise, refletem interesses específicos e agendas ideológicas.