Dessa vez, Bolsonaro não poupou palavras contra Moraes
O ex-presidente Jair Bolsonaro esteve presente na manhã deste sábado no Aeroporto Internacional de Brasília para acompanhar a viagem de sua esposa, Michelle Bolsonaro, aos Estados Unidos. A ex-primeira-dama participará da posse de Donald Trump como presidente eleito dos EUA, evento marcado para a próxima segunda-feira. Apesar do contexto familiar e simbólico da ocasião, o momento foi marcado por declarações contundentes de Bolsonaro contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Visivelmente incomodado, Bolsonaro falou à imprensa sobre a decisão que o impediu de sair do Brasil para acompanhar o evento em Washington. Sem citar diretamente o nome de Moraes, suas palavras foram carregadas de críticas à atuação do ministro, a quem acusou de protagonizar uma perseguição política sem precedentes. “Estou chateado, estou abalado ainda, né? Mas eu enfrento uma enorme perseguição política por parte de uma pessoa. Essa pessoa decide a vida de milhões de pessoas no Brasil. Ele e mais ninguém. Ele é o dono do processo. Ele é o dono de tudo”, afirmou.
O ex-presidente destacou a insatisfação com o que considera um abuso de poder por parte de Moraes e do Supremo Tribunal Federal, especialmente ao relembrar que está sendo investigado desde 2019 no âmbito do inquérito das fake news. Ele questionou a falta de conclusões ou de processos claros em relação a acusações que, segundo ele, são infundadas e servem apenas para dificultar a atuação de figuras da direita no Brasil. “Há dois anos aconteceu o 8 de janeiro e até hoje não sabem quem liderou a tentativa de golpe, segundo eles. Que golpe foi esse?”, indagou.
Outro ponto de destaque em suas declarações foi a crítica à concentração de poder em um único magistrado, que, em sua visão, age de forma autoritária e unilateral. Bolsonaro pontuou que decisões como essas colocam em xeque o equilíbrio entre os poderes e prejudicam o funcionamento da democracia. “Não pode uma pessoa no Supremo Tribunal Federal, se colocando como o dono da verdade, decidir o que faz com a vida de quem quer que seja”, disse.
A impossibilidade de acompanhar Michelle Bolsonaro à posse de Trump foi descrita por ele como mais uma demonstração do que chamou de uma tentativa sistemática de enfraquecer a direita no Brasil. Bolsonaro afirmou que o objetivo final dessas ações seria não apenas a sua eliminação política, mas a neutralização de qualquer liderança conservadora que represente uma ameaça à hegemonia do que ele chamou de “sistema”. Para o ex-presidente, essa perseguição se intensificou desde que ele deixou o cargo, e as investigações que ainda enfrenta seriam uma forma de mantê-lo como alvo constante.
O ex-presidente também destacou o contraste entre o que chamou de acusações infundadas contra ele e a impunidade de seus opositores. Ele sugeriu que figuras da esquerda recebem tratamento diferenciado e estão acima da lei, enquanto ele e outros representantes do conservadorismo enfrentam processos extensos e, em muitos casos, arbitrários. A fala de Bolsonaro reflete um discurso recorrente em sua base de apoio, que frequentemente critica o que vê como uma parcialidade institucional contra políticos de direita.
Enquanto Michelle Bolsonaro segue viagem aos Estados Unidos para representar a família em um dos eventos mais importantes da política americana, Jair Bolsonaro permanece em Brasília. O contexto de sua fala, somado ao tom enfático de suas declarações, reforça a narrativa de enfrentamento que tem caracterizado sua postura diante das decisões do Supremo Tribunal Federal e, em particular, de Alexandre de Moraes. Para seus apoiadores, Bolsonaro continua sendo uma figura central na oposição ao que consideram uma interferência excessiva do Judiciário na política nacional.
A ausência do ex-presidente na posse de Donald Trump é simbólica, especialmente considerando a relação próxima entre os dois líderes. Durante sua gestão, Bolsonaro frequentemente expressou admiração pelo ex-presidente americano, e ambos compartilharam pautas e discursos alinhados. A impossibilidade de comparecer ao evento, além de um descontentamento pessoal, é vista por seus aliados como uma tentativa de enfraquecer as conexões internacionais do ex-presidente e limitar sua atuação no cenário político global.
Enquanto isso, o cenário político no Brasil continua polarizado. As críticas de Bolsonaro a Moraes e ao STF ecoam entre seus apoiadores, que veem no ex-presidente uma liderança capaz de enfrentar o que consideram ser abusos institucionais. Por outro lado, seus opositores interpretam suas declarações como uma estratégia para manter vivo o discurso de perseguição e mobilizar sua base em torno de uma agenda de resistência.
O episódio no aeroporto e as declarações de Bolsonaro reforçam o clima de tensão política que tem marcado os últimos anos no Brasil. Para muitos, a figura do ex-presidente continua sendo polarizadora, mas também essencial para compreender a dinâmica de oposição ao atual governo e às instituições que, segundo ele, agem de forma parcial. O futuro político de Bolsonaro segue incerto, mas suas palavras no sábado deixam claro que ele não pretende recuar na luta contra o que chama de perseguição política.