'Efeito Trump' é devastador e atinge em cheio as empresas americanas
A posse de Donald Trump como o 47º presidente dos Estados Unidos, marcada para a próxima semana, já provoca uma reviravolta no cenário político e corporativo do país. O chamado "efeito Trump", impulsionado por uma onda conservadora que se intensificou ao longo do último ano, está desfazendo pilares de políticas progressistas e identitárias que marcaram a última década. Analistas apontam que, antes mesmo de assumir o Salão Oval, o retorno do republicano à Casa Branca já está provocando mudanças profundas, especialmente no setor empresarial.
Nos últimos dias, algumas das maiores corporações norte-americanas anunciaram alterações significativas em suas diretrizes, sinalizando uma reavaliação das chamadas políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI). Mark Zuckerberg, CEO da Meta, declarou que a empresa deixará de utilizar programas de checagem independente de informações, uma medida que foi criticada por muitos como um mecanismo ideológico alinhado à esquerda. Além disso, a Meta eliminou restrições a conteúdos considerados culturais ou políticos, permitindo, por exemplo, discussões sobre gênero e orientação sexual no contexto de debates religiosos ou políticos, mesmo quando essas associações podem ser vistas como controversas.
Essas mudanças seguem um padrão observado em outras grandes empresas. O McDonald’s anunciou o encerramento de seus programas de inclusão e diversidade, enquanto a gigante de gestão de ativos BlackRock decidiu abandonar um importante grupo climático. Especialistas interpretam esses movimentos como parte de uma ampla reação conservadora ao que muitos consideram o excesso de progressismo corporativo nos últimos anos.
Ainda em novembro, empresas como Walmart e Boeing já haviam dado sinais de mudanças nessa direção. O Walmart decidiu parar de usar critérios de raça e gênero para a seleção de contratos de fornecimento e reduziu treinamentos sobre equidade racial. Por sua vez, a Boeing desmantelou seu departamento dedicado exclusivamente à diversidade e o integrou a outro setor. Esses anúncios geraram debates acalorados, dividindo opiniões entre aqueles que consideram as políticas DEI essenciais para a inclusão social e os que as veem como medidas excessivamente politizadas.
A vitória de Trump, que galvanizou o apoio de uma base conservadora cada vez mais vocal, parece ter dado o impulso final para essas mudanças. A agenda progressista, que vinha ganhando espaço nas corporações americanas, está sendo desafiada por um novo paradigma, que rejeita o que os críticos chamam de "imposição ideológica". Líderes empresariais estão optando por adotar uma postura mais neutra ou mesmo conservadora, refletindo a mudança no clima político e social do país.
A decisão de Zuckerberg de encerrar o uso de programas de checagem independente é emblemática dessa transformação. A checagem de fatos foi uma das principais ferramentas usadas pelas plataformas digitais para combater a desinformação nos últimos anos, mas também foi alvo de críticas por supostos vieses políticos. Sob a nova diretriz, a Meta abrirá mais espaço para discussões que anteriormente seriam restringidas, especialmente aquelas que tocam em questões culturais sensíveis. Para muitos, isso representa um risco de amplificação de discursos de ódio e desinformação, enquanto outros enxergam a medida como uma defesa da liberdade de expressão.
No caso da BlackRock, a saída do grupo climático reflete uma reavaliação das prioridades da empresa em relação às questões ambientais. O movimento ocorre em meio a críticas crescentes de políticos e investidores conservadores, que veem nas políticas de sustentabilidade uma ameaça aos interesses econômicos. Da mesma forma, o McDonald’s e outras empresas que estão reavaliando seus programas de diversidade enfrentam pressões internas e externas para alinhar suas práticas aos valores de uma base conservadora em ascensão.
A ascensão de Trump ao poder marca, para muitos, uma ruptura com o establishment progressista que dominou os últimos anos, tanto no governo quanto no setor privado. Essa transição, contudo, não ocorre sem resistência. Grupos ativistas e líderes políticos de oposição têm expressado preocupação com o impacto dessas mudanças, especialmente para comunidades marginalizadas que dependem de políticas inclusivas para garantir equidade de oportunidades.
Enquanto o país se prepara para o retorno de Trump à presidência, o ambiente corporativo se torna um reflexo das profundas divisões sociais e políticas nos Estados Unidos. As medidas recentes das empresas revelam uma tentativa de se alinhar ao novo contexto político, mas também levantam questões sobre o impacto a longo prazo dessas decisões. O que está claro é que o “efeito Trump” já começou, e suas consequências prometem moldar o futuro do país em várias esferas.