"Marielle vive", causa racha no PT e prefeito se irrita com intromissão de Gleisi
O Partido dos Trabalhadores (PT) enfrenta um novo episódio de turbulência interna, desta vez envolvendo uma polêmica declaração do vice-presidente nacional da sigla e prefeito de Maricá, Washington Quaquá. Na última quinta-feira, dia 9, Quaquá publicou uma foto ao lado da família de Domingos Brazão, réu no processo que apura o assassinato da vereadora Marielle Franco. A publicação rapidamente gerou uma onda de críticas, tanto dentro quanto fora do partido, reacendendo divisões internas sobre o caso.
Quaquá defendeu publicamente Domingos Brazão e seu irmão, Chiquinho Brazão, afirmando que “não há provas” que comprovem o envolvimento de ambos no crime. A declaração soou como uma afronta à narrativa predominante dentro do PT, que sempre se posicionou em defesa da memória de Marielle Franco, assassinada em 2018 em um caso que ainda mobiliza a opinião pública e permanece sem respostas definitivas. A reação interna foi imediata. A ministra Anielle Franco, irmã de Marielle, criticou a postura do prefeito e afirmou que levaria o caso ao conselho de ética do partido.
A situação ganhou ainda mais intensidade com a manifestação da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. Gleisi destacou que a legenda repudia declarações pessoais de seus integrantes que possam ser interpretadas como contrárias aos valores do partido. A intervenção de Gleisi, contudo, parece ter aumentado o atrito. Em resposta, Quaquá fez declarações contundentes, insinuando que o caso de Marielle vem sendo usado de forma oportunista por algumas lideranças políticas. "Não preciso usar a morte de ninguém para fazer política. Brigo por justiça", disparou o prefeito, em tom de descontentamento.
Nos bastidores, a polêmica expõe um racha dentro do PT sobre como lidar com episódios sensíveis envolvendo a atuação de seus integrantes. Enquanto uma ala defende uma postura mais firme contra qualquer declaração que possa fragilizar a imagem do partido, outra corrente, representada por Quaquá, sustenta que as lideranças precisam ter espaço para se posicionar de forma autônoma, mesmo que isso desagrade setores internos. O prefeito de Maricá, conhecido por seu perfil combativo e pouco convencional, já protagonizou outros episódios de confronto com a direção do partido, mas desta vez o contexto é particularmente delicado devido à relevância simbólica do caso Marielle Franco.
Além disso, a postura de Quaquá ao defender a família Brazão levanta questões sobre possíveis alianças políticas no estado do Rio de Janeiro. Domingos Brazão, ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio, é uma figura controversa na política fluminense e já enfrentou diversas acusações ao longo de sua carreira. Sua inclusão como réu no caso Marielle Franco gerou grande repercussão e reações divididas. Para alguns analistas, a defesa de Quaquá pode ser interpretada como um movimento estratégico visando fortalecer vínculos regionais, mas isso ocorre ao custo de abrir novas fissuras dentro do PT.
A reação de Anielle Franco também ilustra a crescente tensão entre o núcleo histórico do partido e os novos quadros que ascenderam à medida que o PT se reconfigurou após os últimos ciclos eleitorais. Anielle, atualmente ministra do governo Lula, tem se destacado por sua atuação firme na defesa da memória de sua irmã e no combate à violência política. Sua crítica direta a Quaquá evidencia que há limites para declarações individuais dentro do partido, especialmente quando elas tocam em temas sensíveis como o caso Marielle.
Analistas políticos apontam que a polêmica pode ter desdobramentos significativos tanto para Quaquá quanto para o próprio PT. No curto prazo, o caso deve ser levado ao conselho de ética, como prometido por Anielle Franco, o que pode resultar em algum tipo de sanção ao prefeito de Maricá. Por outro lado, o episódio também representa um teste para a liderança de Gleisi Hoffmann, que precisará equilibrar o discurso de unidade do partido com a gestão de conflitos internos que frequentemente emergem em momentos de grande visibilidade pública.
A declaração de Quaquá, mesmo polêmica, encontra eco em setores que criticam a politização de casos criminais. Ainda assim, dentro do PT, a percepção majoritária é de que suas palavras foram inoportunas e prejudiciais à imagem da sigla. Enquanto isso, Gleisi Hoffmann segue tentando conter os danos à coesão interna do partido, algo que se torna cada vez mais desafiador diante de episódios como esse.
Em Maricá, a base de apoio de Quaquá parece permanecer sólida, mas o prefeito enfrenta agora um escrutínio maior sobre suas escolhas políticas e declarações públicas. Para ele, o principal desafio será manter sua posição no partido sem comprometer alianças estratégicas e seu futuro político. Por outro lado, o PT como um todo terá que lidar com os impactos dessa crise interna em sua imagem perante a sociedade, especialmente em um momento em que o caso Marielle continua sendo um tema de forte apelo emocional e político no Brasil.